Os empresários Claudio Nunes Braga e Hélio Henrique Telles Vasconcellos, acusados de integrar o esquema de propina do lixo em Fundão, não são sócios da empresa Fortaleza Ambiental e Gerenciamento de Resíduos, como divulgado nessa quarta-feira (4) por Século Diário. Eles são acusados de integrar o grupo que pressionava agentes públicos para tirar da empresa o contrato dos serviços do município, que tinha também a participação do vereador Sandro Lima (PEN) – que a Justiça manteve afastado nessa semana – e a servidora pública Roberta Pedroni Gorza, irmã do ex-prefeito Anderson Pedroni.
A decisão de manter Sandro Lima afastado é do desembargador Pedro Valls Feu Rosa. O processo estava suspenso, em atendimento a pedido de vista do desembargador Feu Rosa, que acompanhou o voto do desembargador William Silva, contrário ao do desembargador Ney Batista Coutinho, que votou pelo acolhimento do recurso impetrado pelo vereador.
Na ação penal, o Ministério Público Estadual (MPES) aponta um esquema de propina para assumir o contrato de coleta de lixo sob responsabilidade da empresa Fortaleza Ambiental e Gerenciamento de Resíduos Ltda. O autor da denúncia, o promotor Egino Rios, narrou que o grupo pressionava agentes públicos para que o contrato fosse direcionado para a empresa de Claudio Nunes Braga e Hélio Henrique Telles Vasconcellos.
Em depoimento prestado à Promotoria, o gerente comercial da Fortaleza, Charliston Poli, em março deste ano de 2017, disse que em dezembro de 2016 foi procurado pela irmã de Pedroni, Roberta. O encontro teria acontecido na Enseada do Suá, em Vitória. Além de Roberta, os empresários Claudio e Hélio, sócios de outra empresa de coleta de lixo, também participaram da conversa.
Eles teriam afirmado a Charles Poli, como é conhecido, que havia um acerto com Anderson Pedroni para que outra empresa assumisse o serviço de coleta no município a partir de 1 de janeiro deste ano. Roberta teria explicado, ainda, que o acordo teria sido uma contrapartida pelo apoio dos empresários à campanha de Pedroni que, àquela altura, tentava reverter na Justiça Eleitoral a impugnação da chapa que havia vencido a eleição de outubro de 2016 para prefeito de Fundão.
O depoente afirmou à Promotoria que não teria aceitado a proposta de abandonar o contrato no final de 2016. Dias depois, teria sido abordado, pelo vereador Sandro Lima nas ruas de Fundão, que teria afirmado a Charles que a Câmara estaria preparando uma denúncia sobre o contrato de lixo da Fortaleza. O documento foi entregue à prefeitura no início desde ano, o que motivou uma auditoria no serviço e um reajuste no contrato até a decisão sobre uma nova licitação para o serviço.
Em um novo encontro, diante do impasse, o grupo de Pedroni propôs ao representante da Fortaleza que a empresa continuasse prestando o serviço até o fim do contrato, mas pagasse um propina em torno de 10% do valor contrato, que tem valor mensal de R$ 250 mil – no verão chega a R$ 500 mil. Foi pedido pelos interlocutores de Pedroni uma propina de R$ 30 mil, mas Charles voltou a recusar a proposta. As seguidas recusas teria irritado o grupo, que chegou a ameaçá-lo com o rompimento do contrato.
A Promotoria ouviu ainda o prefeito interino do município à época, Eleazar Ferreira (PCdoB), que confirmou ter sido procurado pelo grupo e pressionado a rescindir o contrato com a Fortaleza Ambiental, sobretudo por Claudio Nunes Braga, que teria sugerido que indicaria uma empresa de auditoria de um amigo dele, o que foi refutado pelo prefeito.
O então secretário da Fazenda do município, Paulo Vitor Duarte Broetto, confirmou as declarações do prefeito ao Ministério Público. O depoimento do secretário de Serviços Urbanos do município, Sérgio Alves da Silva, também confirmou que o prefeito interino e agentes públicos estavam sendo pressionados pelo grupo de Pedroni. Ambos apontaram o vereador Sandro Lima como o elemento encarregado de fazer pressão em nome do grupo de Pedroni.
O vereador e Roberta Pedroni Gorza foram afastados em outubro do ano passado, por decisão da juíza da Vara Única de Fundão, Priscila de Castro Murad.