Acompanhada de um oficial de Justiça e portando mandado de segurança obtido na Justiça Federal do Espírito Santo, a engenheira civil Lúcia Vilarinho assumiu, nesta terça-feira (2), a presidência do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Estado (Crea-ES), três dias após ter sua posse suspensa por decisão do juiz federal de plantão em Brasília, Waldemar Cláudio de Carvalho, deferindo pedido em liminar feito pelo candidato derrotado Geraldo Ferreguetti.
Uma das primeiras providências de Lúcia foi reunir-se com as chefias de departamento para conhecer o organograma da entidade e levantar nomes de funcionários contratados para cargos em comissão pelo antigo presidente do Crea, Helder Carnielli, que fez campanha para Ferregueti. Um deles é o gerente administrativo Wallace Ferreguetti, irmão do candidato da situação. O problema de alguns salários altos recebidos por comissionados é uma das preocupações de Lúcia.
Ela também anunciou a realização de uma auditoria para “conhecer o terreno onde vou pisar”. Segundo ela, não será uma decisão pessoal, mas colegiada, com o objetivo de garantir as decisões certas. “Tenho que fazer um planejamento e a partir dele traçar o caminho a ser seguido pela minha gestão”, observou.
Um dos principais objetivos da nova presidente do Conselho, como ela aponta, é colocar em prática uma de suas promessas de campanha, que é “valorizar o profissional e tornar nossa entidade cada vez mais atuante e participativa sempre em benefício da sociedade”
Lúcia lamentou a tumultuada campanha eleitoral, referindo-se às denúncias contra o antigo presidente do Crea, Helder Carnielli, mas considerou que o “importante é que a Comissão Eleitoral Regional registrou tudo, encaminhou o assunto para Brasília, minha vitória foi homologada pela Comissão Eleitoral Federal e depois confirmada pela plenária do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia. Estou tranquila, não é o momento de ficar olhando o retrovisor”, completou.
No entanto, apesar de já estar em pleno exercício do mandato com o suporte de uma decisão judicial, o reconhecimento da vitória de Lúcia pelo Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea) ainda sofre contestações que evidenciam, para todos os efeitos, a balbúrdia que foram as eleições conduzidas por Carnielli, sobre o qual pesam denúncias campanha antecipada, uso da máquina e fraudes e manipulação de listas de eleitores em favor do seu candidato.
O próprio Ferregueti só disputou as eleições porque obteve liminar na Justiça Federal em Brasília, ficando o mérito da ação a ser julgado posteriormente, o que deve ocorrer nesta sexta-feira (5). Sua candidatura havia sido impugnada pelo Conselho Eleitoral Federal com base em denúncia documentada por fotos e vídeos, de uma reunião para a qual foram levados funcionários do Crea, aparentemente com o objetivo de referendar seu nome. A ordem teria sido dada aos funcionários pelo então presidente Helder Carnielli, também presente à reunião.
Ferregueti não só nega que sua candidatura em algum momento esteve sub judice como afirma que a liminar que conseguiu em Brasília, impedindo a posse de Lúcia, tem por base o argumento de que ainda não foram computados os votos de uma urna impugnada em Linhares, dia 15 passado, quando se constatou que havia nela mais votos do que assinaturas de eleitores que tinham comparecido à seção eleitoral. De acordo com Ferregueti, nessa urna ele recebeu 166 votos e Lúcia apenas 15.
“Neste momento, tenho no total 456 votos e ela venceu com 500 votos. Somados os 166 votos, meu total vai para 622 e ela fica com 515, ou seja, uma diferença de 107 votos a meu favor. Se a Comissão Eleitoral Federal reconhecer como improcedente a impugnação dessa urna, estarei eleito”, afirmou.
Não é o que pensa Jorge Luiz e Silva, um dos quatro candidatos a presidente que solicitaram a anulação das eleições à Comissão Federal. Para ele, foi legítima a decisão pela impugnação da urna. De fato, um dos eleitores não assinou a lista de comparecimento à seção eleitoral, o que resultou na diferença observada ao se fazer a apuração de votos. Duas horas e meia após o encerramento da votação, a advogada Amanda Carnielli, sobrinha de Helder, localizou o eleitor e convenceu-o a voltar à seção eleitoral para assinar a lista. A essa altura, já havia sido confirmada a impugnação.
Além de Jorge, os engenheiros Sebastião Silveira, Marcos Motta e Fred Rosalém também pediram a anulação das eleições. Acompanhou-os o técnico em agropecuária José Luiz Miotto, candidato a diretor-geral da Mútua ES-Caixa de Assistência aos Profissionais do Crea.
Segundo Jorge, o quadro pós-eleitoral se define, nesse momento, a partir de dois fatos que ele considera “muito importantes”. De um lado, há a homologação de Lúcia como presidente pela Comissão Federal, com a ressalva de que será imediatamente instaurada uma investigação para, no prazo de 90 dias, checar a veracidade das denúncias contra Carnielli, que teria agido para favorecer seu candidato. “Faltou moralidade ao processo eleitoral e isso será comprovado”, ressaltou.
Do outro, permanece o fato de que a eleição se judicializou, principalmente pelas ações de Ferreguetti, primeiro, tentando computar os votos que recebeu na urna impugnada em Linhares e, depois, agindo para impedir a posse de Lúcia.
“Ferregueti hoje corre o risco de não participar sequer de uma próxima eleição, caso ocorra a anulação desta pelo Conselho Federal. Sua candidatura só se manteve de pé por causa da decisão de um juiz federal. Se ele, ao analisar o mérito da liminar, confirmar a impugnação da candidatura, Ferreguetti já era”, disparou Jorge.