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‘Eu vou lutar até o fim, não admito terem matado meu filho na covardia’

Mãe de ex-interno de hospital de custódia protesta contra pedido do MPES de arquivamento do caso 

“Eu vou lutar até o fim, não admito terem matado meu filho na covardia. Não podem matar uma pessoa e isso ficar de graça”. O protesto é de Adelina Soares de Oliveira Peixoto, mãe de Aligierry de Oliveira Pereira, ex-interno do Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico (UCTP), em Cariacica, diante da manifestação do promotor de Justiça Bruno de Freitas Lima em defesa do arquivamento do inquérito que investiga o caso.

Ela contesta a alegação de que “não foi constatada pela equipe de saúde lesões que indicassem tratar de morte violenta”, sendo, portanto, “causa natural, possivelmente, Acidente Vascular Cerebral (AVC)”, pois o interno já tinha sofrido um antes de ir para a unidade.

Adelina relata que seu filho sofreu agressões físicas no dia da morte, em 2 de janeiro deste ano, e em ocasiões anteriores, e que o corpo no caixão estava visivelmente machucado, inclusive, com um buraco no pescoço. Diz, ainda, que a pessoa que arrumou o corpo de Aligierry no caixão também relatou que estava com lesões.

Cinco dias antes da morte, ela afirma que foi visitá-lo, e o filho “estava muito machucado, pois tinha sido espancado por outro interno”. Na ocasião, conta, o filho falou que era para dar ou vender seus cachorros, pois sabia que o matariam. “Eu me despedi do meu filho ali”, lamenta. 

A defesa do promotor aponta que os pacientes Anemir José Furtado e Patrick Santos Fernandes dividiam cela com Aligierry e “apresentaram versões contraditórias e confusas”. De acordo com ele, Anemir acusou Patrick de ter matado a vítima, “enquanto Patrick disse apenas ter discutido com ela”. No entanto, um agente penitenciário “afirmou não acreditar nas narrativas dos referidos pacientes, em razão de ambos sofrerem de problemas psiquiátricos”.

No inquérito policial, porém, consta que “há declarações de presos da cela indicando ocorrência de um suposto homicídio. Cabe ressaltar que os presos que foram ouvidos são inimputáveis (CID 10 F32.3)”.

No dia do crime, Anemir declarou que, juntamente com Patrick, foi transferido para a cela onde estava Aligierry, enquanto a deles passava por uma limpeza. Aligierry estava deitado na cama quando Patrick chutou seu rosto, levando a vítima aparentemente ao desmaio. Em seguida, relatou, Patrick arrastou Aligierry pelo braço em direção ao banheiro, por isso, pediu socorro. Nesse momento, apareceu um policial penal chamado Juan, que adentrou a cela e acionou o serviço de saúde, que contatou o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).

Na mesma ocasião, Patrick confirmou que foi transferido de cela com Anemir e confessou o crime. No depoimento, diz que enquanto Aligierry dormia, desferiu três socos e um chute nele, arrastando-o para o banheiro, onde pretendia enforcá-lo. Anemir pediu socorro e, em seguida, ele fez o mesmo. Posteriormente, um policial, que afirma não saber quem foi, ajudou a prestar socorro. 

Quanto ao motivo do crime, Patrick declarou que recebeu “uma informação paralela de gestores da alta cúpula do Governo, pois a vítima estava gerando gastos ao Governo”. Diz, ainda, que “deveria cumprir sua missão em executar a vítima”, que “as ordens chegam “através de um chip pessoal”. Também afirmou ter recebido “uma nova missão de assassinar um rapaz que acabou de atingir a maioridade, cujo nome dele é Ruan”.

No dia do crime, também foi ouvido o policial penal Juan Fabio Pereira Cartacho. Ele falou que uma faxineira avisou que Anemir estava pedindo socorro. Isso fez com que fosse para a cela, onde encontraram Anemir e Patrick sentados na cama um ao lado do outro, enquanto o corpo de Aligierry estava caído no banheiro. Sua atitude, então, foi acionar a equipe de saúde, que acionou o Samu, porém, quando o socorro chegou, a vítima já estava morta.

Ainda segundo Juan, o diretor da unidade, Pablo Pereira de Souza, conversou com os internos. Nesse diálogo, declara o policial penal, Anemir falou que Patrick tinha dado um chute em Aligierry, arrastando-o depois para o banheiro. Contudo, o acusado negou ter cometido a agressão. Juan, em seu depoimento, afirma não acreditar nas versões que Anemir e Patrick declararam na delegacia, “pois ambos sofrem problemas psiquiátricos”.

O advogado Antonio Fernando de Lima Moreira da Silva, que representa a família do ex-interno, questiona o argumento de que não se deve levar em consideração os depoimentos de Anemir e Patrick por terem problemas psiquiátricos. “Uma coisa é falar que são inimputáveis e não podem ser acusados de crime, outra é querer descredibilizar a palavra pelo fato de estar internado lá e ter deficiência mental”, ressalta. 

Para ele, essa descredibilização é perigosa. “Pode acontecer qualquer coisa lá que nada vai ser apurado”, aponta. Antonio também denuncia que quando há assassinato, a “tônica da Sejus [Secretaria Estadual de Justiça] é levar o preso para o hospital e dizer que morreu lá”. Por isso, afirma, muitos casos nem ao menos chegam à Delegacia de Crimes Carcerários, e quando chegam, há dificuldade de apurar. O advogado aguarda a decisão do juiz do caso. No caso de arquivamento, a família irá recorrer. 

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