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Gestão de Bizzotto quase triplicou gastos com indenizações no TJES

A nova administração do Tribunal de Justiça do Estado (TJES) assume com o desafio de colocar as contas do Poder novamente no azul. Hoje, a Corte está acima do limite de gastos com pessoal da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) e terá o ano de 2016 para fazer adequações no orçamento bilionário, estimado em R$ 1,1 bilhão. No entanto, os números da gestão do desembargador Sérgio Bizzotto, que deixou o cargo na última quinta-feira (17) em meio ao discurso de resignação diante da crise financeira, revelam uma escalada de gastos, sobretudo, nas despesas de vantagens para seus integrantes.

Nos últimos dois anos, as despesas com custeio de indenizações – indenizações e auxílios como, por exemplo, o contestado auxílio-moradia – registrou uma alta de 170,2% em relação ao valor gasto no ano de 2013, último da gestão de Pedro Valls Feu Rosa. Somente este ano, o tribunal gastou R$ 34,31 milhões com esta finalidade, ante R$ 12,7 milhões em 2013. No ano passado, o gasto com essas indenizações quase dobrou, passando para R$ 24,54 milhões. Este tipo de despesa entra na conta dos gastos com custeio, de acordo com a metodologia do tribunal.

Ao todo, as despesas com custeio – que também incluem gastos com terceirização, outros benefícios assistenciais, auxílio-alimentação, ajuda de custo de transporte e o pagamento de diárias – passaram de R$ 146,72 milhões em 2013 para R$ 199,42 milhões em 2015, considerado os valores consolidados até a última sexta-feira (18). No ano passado, o valor foi ainda maior (R$ 207,87 milhões), reflexo da tardia política de “ajuste fiscal”, implementado somente no apagar das luzes da administração de Bizzotto.

Se por um lado, os números do próprio TJES confirmam o descontrole da gestão anterior com este tipo de gasto, sobretudo, diante do fantasma da crise econômica que dava seus primeiros sinais no ano passado e se tornou realidade com a recessão apontada por todos os institutos – oficiais e de mercado – este ano, por outro, Bizzotto pode ser absolvido da acusação de que teria promovido uma escalada de gastos com o pagamento de salários a magistrados – que tiveram os vencimentos reajustados durante o biênio – e de servidores, que cobram ainda a revisão anual dos salários deste ano.

Em relação aos gastos diretos com pessoal, a despesa do TJES saltou de R$ 688,72 milhões em 2013 para R$ 732,70 milhões este ano, incluindo vencimentos e encargos sociais. A variação no período foi de 6,3%, bem abaixo da inflação registrada no período – 6,14% em 2014 e 10,71% em 2015. No entanto, a elevação dos gastos ocorreu justamente no período de fraca expansão da arrecadação do Estado, que determina a Receita Corrente Líquida (RCL) e, consequentemente, serve de base para a aferição dos índices da LRF.

Na versão mais recente do relatório de gestão fiscal, o TJ capixaba gastou R$ 743,62 milhões nos últimos 12 meses, com salários e benefícios, equivalente a 6,32% da RCL, sendo que o teto era de 6%. Os números são referentes ao segundo quadrimestre deste ano. Para os primeiros quatro meses de 2016, o ex-presidente havia anunciado um corte de R$ 12,7 milhões. Entre as medidas de ajuste, o tribunal demitiu 67 servidores comissionados, suspendeu o reajuste de juízes e desembargadores para 2016, além de congelar o salário dos trabalhadores por dois anos, e anulou todas as promoções de servidores.

O novo presidente do TJES, desembargador Annibal de Rezende Lima, não descarta a possibilidade de demissão de alguns dos juízes substitutos – aprovados no último concurso público, realizado este ano –, que foram nomeados no período em que o tribunal já estava próximo de romper os limites da LRF. A Associação dos Magistrados do Espírito Santo (Amages) já se posicionou contra a medida. A entidade obteve na última terça-feira (15) uma sentença favorável da Justiça, a favor de mudança no cálculo das despesas. No entanto, mesmo com o drible na LRF, o Judiciário segue acima do limite prudencial (5,7% da RCL) – último degrau antes do teto previsto em lei.

Na última semana, o ex-chefe da Justiça estadual foi notificado pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE) para explicar as medidas tomadas para reduzir os gastos com pessoal. A decisão sugere ainda que, caso não sejam adotadas “medidas corretivas”, Bizzotto poderá responder a ações de improbidade e ser alvo de sanções administrativas e penais. Ao deixar o cargo, o ex-presidente recebeu a homenagens de seus colegas e de autoridades políticas, como o presidente da Assembleia, Theodorico Ferraço (DEM), que destacaram suas virtudes e a adoção das primeiras medidas para enfrentar a crise interna.

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