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Hartung terá que se explicar ao Supremo sobre leis que convalidam incentivos fiscais

O governador Paulo Hartung (PMDB) terá que prestar informações ao Supremo Tribunal Federal (STF) sobre as normas que autorizam a concessão de incentivos fiscais no Estado. A solicitação foi feita pelo ministro Gilmar Mendes, relator da ação do governo de São Paulo contra os benefícios capixabas. Por conta da demora no julgamento, que se arrasta há três anos, o peemedebista conseguiu “regularizar” a situação com a aprovação de duas leis ordinárias para convalidar os benefícios concedidos por mais de uma década por decreto.

No despacho assinado nessa terça-feira (20), o ministro-relator pediu informações sobre a vigência dos dispositivos impugnados na ação direta de inconstitucionalidade (ADI 4935). Em abril de 2013, o governador paulista Geraldo Alckmin (PSDB) pediu a decretação da nulidade do decreto que instituiu os chamados Contratos de Competitividade (Compete-ES). A situação irregular, como prevê a Constituição Federal quanto à vedação na concessão de incentivos sem lei específica, acabou sendo “corrigida” por Hartung que conseguiu a aprovação das leis pela Assembleia Legislativa em junho passado.

As leis ordinárias 15.550/2016 e 15.538/2016 tratam da regulamentação do Programa de Incentivo ao Investimento no Estado (Invest-ES) e do Compete-ES, respectivamente. De uma só vez, as duas normas também garantem a convalidação de todos os benefícios anteriormente concedidos por meio de decretos e portarias. No entanto, a tese de legalização tardia poderá ser enfrentada pelo Supremo, já que o tema está judicializado há mais de três anos. Além do processo no STF, também existem questionamentos sobre o assunto na Justiça estadual e no Tribunal de Contas (TCE).

O julgamento em Brasília deve contar ainda com um elemento político importante após a inclusão do Sindicato dos Servidores Públicos do Estado (Sindipúblicos) como amicus curiae (parte interessada). Com a medida autorizada por Mendes no mês passado, a entidade sindical poderá apresentar memorial (manifestação sobre o mérito da ação), além de participar da sessão de julgamento por meio de sustentação oral. O Sindipúblicos foi um dos signatários do pedido de impeachment de Hartung, já arquivado pela Assembleia, por suposto crime de responsabilidade fiscal na concessão de renúncias fiscais sem atender a lei.

No bojo da ação direta de inconstitucionalidade, o governador paulista pede a declaração da inconstitucionalidade do Compete-ES entre o Estado e o Sindicato do Comércio Atacadista e Distribuidor do Estado (Sincades). Alckmin contesta o mecanismo do benefício, que garante que as empresas atacadistas do Estado recolham apenas 1% dos 12% do tributo devido nas operações interestaduais. Para o tucano, a diferença nas alíquotas do imposto é classificada como uma “odiosa discriminação tributária” em relação ao índice cobrado nos demais estados.

A Advocacia Geral da União (AGU) e a Procuradoria Geral da República (PGR) já se manifestaram pela procedência da ação direta de inconstitucionalidade. O caso deverá ficar concluso para julgamento, logo após o recebimento das informações solicitadas.

Segundo o texto da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) deste ano, o governo capixaba deve abrir mão de R$ 1,06 bilhão em tributos (ICMS e IPVA). Somente as empresas incentivadas vão deixar de arrecadar R$ 1,03 bilhão, sendo que o setor atacadista é responsável pela renúncia estimada em R$ 769 milhões em 2016. A previsão é de que, até o fim do mandato de Hartung em 2018, o Estado deixe de arrecadar mais de R$ 4,3 bilhões.

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