Pelo contrário, a corrupção é uma prática que acabou enraizada no âmbito do poder público. Uma prova disso foi a revelação de documentos da contabilidade extraoficial da Odebrecht do fim da década de 1980, que aponta o pagamento de propina para políticos, sobre os percentuais das obras executadas pela empreiteira naquela época. O material enviado pelo deputado federal Jorge Solla (PT-BA) à CPI da Petrobras também foi divulgada na íntegra no site Conversa Afiada, do jornalista Paulo Henrique Amorim.
Na reportagem intitulada “Tucanos inundam lista da Odebrecht”, o jornalista cita que os documentos da Odebrecht fazem menção a, pelo menos, duas obras no Espírito Santo, a construção das pontes de Colatina e Vitória (Terceira Ponte). O texto destaca a menção direta ao nome do ex-governador do Espírito Santo e ex-senador, Gerson Camata, na “lista de parceiros” da empreiteira. O documento lista agentes políticos, empresários e servidores públicos que teriam sido beneficiados pelo esquema.
A reportagem de Século Diário identificou no material disponibilizado ao público o nome de outras 19 pessoas que foram ligadas às duas obras da Odebrecht no Estado naquela época. Chama atenção o fato de que, além de Camata – que recebeu a alcunha de “marinheiro” –, constam os nomes de outros políticos influentes na época, entre governadores, prefeitos e senadores. Um dos nomes na lista é do ex-governador Élcio Alvares, responsável pela obra da Terceira Ponte. O ex-senador, ex-ministro e ex-deputado é identificado pelo codinome de “EA”, iniciais de seu nome.
Figuram na relação, o nome de três ex-prefeitos de Vitória – Crisógono Cruz, que recebeu a alcunha de “inimigo”; Hermes Laranja; e José Moraes (já falecido), que foi vice-governador na gestão Camata e já presidiu a Assembleia Legislativa. Também aparece o nome do ex-presidente do Senado, o capixaba Moacir Dalla, além de Edmar Lucas do Amaral, que chefiou o gabinete de Dalla no Senado. Outro nome conhecido é de Pedro Camata, irmão do ex-governador, que é identificado pelo sugestivo codinome de “brother”.
Entretanto, a “lista de parceiros” capixabas da Odebrecht também apontava outros nomes pessoas, entre eles, engenheiros, empresários e até uma empresa de publicidade. A relação é completada por: Ademar Musso Leal, Silvio Vieira Peixoto, Carlos Augusto Cunha, Carlos Lima, Élvio Santório, Haroldo D. Ribeiro, Hélio Doria, José Amaro, Lenildo Lucas, Márcio Reinaldo e Rogério Benezath.
Em âmbito nacional, a relação conta com nomes conhecidos como do senador Jader Barbalho (PMDB-PA), do deputado federal Antônio Imbassahy (PSDB-BA), do ex-ministro Edson Lobão (PMDB), do prefeito de Manaus, Arthur Virgílio (PSDB), do ex-deputado João Agripino Maia Neto, do empresário Fernando Sarney, do deputado José Sarney Filho e da ex-governadora Roseana Sarney. De acordo com o site Conversa Afiada, o material original foi entregue ao delegado Bráulio Cézar Galloni, coordenador-geral da Polícia Fazendária, na sede da Polícia Federal, em Brasília.
Além da relação de agentes políticos que teriam participado do esquema de propina da empreiteira, o material disponibilizado no site traz ainda as reproduções de anotações, comprovantes de depósito e outros materiais da contabilidade extraoficial da Odebrecht. Segundo o deputado Jorge Solla, as pessoas que entregaram o material disseram que a distribuição de propina era feita por depósito bancário, na agência do falido banco Econômico dentro da própria sede da empreiteira em Salvador.
Além disso, o parlamentar relatou que as propinas também eram pagas na calada da noite. “Das 9 horas da noite às 2 da manhã era a hora que os políticos e agentes públicos envolvidos no esquema iam pegar suas caixinhas de camisa recheadas de dólar”, disse, na sessão da CPI da Petrobrás. As propinas também seriam destinadas a políticos que interessavam a empresa, neste caso, eles eram direcionados para a DGU (Diretoria-Geral da empresa), sem vinculá-los a nenhuma obra.
De acordo com o relato feito na CPI, Jorge Solla informou que boa parte dos pagamentos era feito em dólar, como consta nas anotações. “Mesmo para obras realizadas no Brasil, havia a orientação escrita para converter em “dólar black” e pagar . Para quem não lembra, o “dólar black” era o dólar do mercado negro, era comercializado ao arrepio da lei, por quem praticava contravenção”, explicou o deputado.
Segundo o colunista, a “lista de parceiros” da empreiteira – disponibilizada para acesso público na internet pelo site Conversa Afiada, do jornalista Paulo Henrique Amorim, “não tem qualquer significado ou sequer constitui prova de nenhum ilícito de sua parte”. Ele alega que a reportagem publicada no site nacional também não faz menção à seu nome, apesar de admitir que seu nome realmente aparece no documento do Google drive. Ele diz que o documento publicado nada mais é que uma lista aleatória de nomes, dentre os quais o dele. Ele acrescenta que a relação de nomes não tem qualquer significado ou constitui prova de ilícito de sua parte, mas cuja a fonte a origem lhe totalmente desconhecida.