Um cobrador de ônibus da empresa Praia Sol, dentro do Sistema Transcol, “passou a mão nas nádegas de uma passageira e continua impune, uma semana depois do ocorrido”. O relato é de Franciele Santos, que pede justiça. As denúncias já foram feitas à Polícia e à própria empresa, mas até o momento, não houve qualquer providência.
“Hoje de manhã peguei o ônibus para ir trabalhar e encontrei com o mesmo cobrador, trabalhando normalmente. Fiquei em estado de choque quando vi ele dentro do ônibus. Estou desacreditada da Justiça e muito impactada pelo descaso da empresa, que ainda não entrou em contato comigo, disse que iria me dar um retorno sobre a denúncia em no máximo 48 horas, mas já se passaram seis dias!”, roga Franciele.
A jovem denuncia que o crime de importunação sexual aconteceu no final da tarde da última sexta-feira (7), quando, ao sair do trabalho, na Praia da Costa, tomou um coletivo da linha 520, para Jacaraípe. Sem ter conseguido liberação do cartão para passar a roleta – o crédito havia sido colocado há instantes –, o cobrador a orientou a aguardar na parte da frente do ônibus, e que se o valor não fosse compensado no cartão a tempo do local de desembarque, ela poderia descer pela frente.
“Ele foi muito simpático, me ajudando. Eu fiquei em pé ali, encostei as costas na cadeira de prioridade que tem perto do cobrador, e fiquei mexendo no meu celular. Daí senti algo passar na minha bunda. Achei que era parte da cadeira, ok. Mas depois senti ser apalpada! Olhei para a cara dele em choque, ele baixou a cabeça. Fiquei muito nervosa. Quando me acalmei um pouco, tirei foto do número do ônibus e perguntei para ele ‘Você tocou em mim?’. Ele pediu desculpa, disse que estava sentado na cadeira dele, mas eu estava muito perto…Eu disse que ele não tinha o direito de fazer aquilo. Ele pediu desculpas de novo. Eu fiquei mais nervosa, comecei a chorar. O motorista não falava nada. Até que uma moça no meio do ônibus viu meu desespero e pagou minha passagem. Eu atravessei a roleta, ela me colocou para sentar numa cadeira de prioridade e ficou tentando me acalmar, me orientou a denunciar mesmo e buscar os meus direitos”.
Muito abalada, Franciele desceu do ônibus no Terminal de Carapina e procurou um fiscal, encontrando dois, identificados com crachá das empresas Grande Vitória e Veredas. Ela diz que relatou o ocorrido aos dois e o fiscal da Grande Vitória explicou que o responsável pela Praia Sol era o do crachá da Veredas. Este, então, disse que iria abrir um protocolo de reclamação para a empresa, para que o cobrador fosse notificado, e em seguida saiu de perto dela.
“Eu disse que queria chamar a polícia, porque já tinha visto casos semelhantes antes, dentro de ônibus, onde a pessoa chama a polícia e o policial pede para ficar no ônibus quem quer ser testemunha do caso e seguir até a delegacia e, quem não quer, desce. Mas ele só disse que fez a reclamação e sumiu dentro do terminal”.
A vítima então pegou outro ônibus, até Laranjeiras, para a delegacia que sabia ser a mais próxima e registrou um Boletim de Ocorrência (BO 48221073/2022). “A escrivã fez o BO, mas disse que era melhor eu procurar também a Delegacia da Mulher, porque era um tipo de caso que lá não teria o andamento ideal”.
Franciele conta que logo após o primeiro registro policial, ligou para a Praia Sol e foi informada que o fiscal não tinha aberto nenhum protocolo e que a empresa não estava ciente do ocorrido. Mas que a partir da sua denúncia, receberia um retorno em no máximo 48 horas sobre as medidas que seriam tomadas.
Nessa segunda-feira (4), ela seguiu o aconselhamento recebido no DPJ de Laranjeiras e foi até a Delegacia da Mulher na Reta da Penha, mas lá foi direcionada à Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) de Boa Vista II, já que o BO havia sido aberto no município da Serra.
“Lá eu fui bem atendida, a escrivã me deu todo o suporte, me atendeu muito bem. Ontem [quarta-feira, 6] ela me ligou, pedindo para eu assinar uns documentos que, na correria, eu tinha esquecido de assinar, e também para entregar alguns documentos”.
O Termo de Declaração lavrado na Deam da Serra, na presença da delegada, Ana Karolina Marques Costa Sousa, narra todo o ocorrido até então, com destaque para o descaso com que o fiscal do terminal a tratou, afirmando ser impossível identificar o cobrador que a agrediu, pois o ônibus já havia partido, e não fazendo o devido registro da denúncia junto à empresa, apesar de ter dito que o faria.
Passada uma semana, ao encontrar novamente o agressor, Franciele diz que ele tentou culpá-la pelo que aconteceu. “Ele me disse hoje: ‘moça, você deu mole para mim!’. Meu Deus! Eu jamais iria acusar um trabalhador de algo que não é verdade. Falei que ‘eu ser simpática com você não quer dizer em momento nenhum que eu te dei liberdade para tocar em mim’. Mas ele continuou repetindo dentro do ônibus que eu que ‘dei mole’. Eu avisei que fiz BO e que iria processá-lo, e ele disse que o que eu estava fazendo é perigoso. Entendi como uma ameaça e respondi que perigoso seria levantar falsa acusação contra um trabalhador, coisa que eu não fiz nem nunca faria”.
Franciele conta que depois desse segundo encontro, procurou outro fiscal da empresa em um terminal, e ele, apesar de aparentemente mais solícito, disse que ela precisava aguardar os trâmites da empresa, já que a denúncia já estava registrada. “Aguardar que trâmites? Tem câmeras de segurança que filmaram tudo, tem testemunhas, tem o meu relato em Boletim de Ocorrência. Eu tive novamente que descer do ônibus e pegar outro para ir ao trabalho. O meu direito de ir e vir também está sendo cerceado e ele continua trabalhando normalmente. Eu não sei mais o que fazer”.