José Rabelo e Nerter Samora
Os advogados do coronel Walter Ferreira e de Cláudio Luiz Andrade Baptista, o Calú, usaram as três horas (90 minutos para cada parte) destinadas à defesa para convencer os jurados de que seus clientes não tiveram nenhuma relação com a morte do juiz Alexandre Martins de Castro Filho.
Os advogados Leonardo Gagno e Patrick Berriel se revesaram na defesa de Calú. Gagno afirmou que “as provas da acusação são falsas e a mentira permeou o processo do início ao fim”. Ele disse aos jurados que criaram um factoide para contar algo que não aconteceu.
Gagno esclareceu que, diferentemente do que disse André Cunha no seu depoimento, o delegado não saiu de férias. Disparou: “Ele tomou um pé na bunda”. O delegado, que comandou as investigações por cinco meses, também acreditava na tese de latrocínio, versão que não interessava à versão oficial, que defendia a linha do mando.
Leonardo Gagno explicou que a tese de mando era ideal para criar o factoide de que o Estado estava ameaçado pelo crime organizado. Ele recorda que logo após a morte do juiz, e a versão sobre o mando que se formou imediatamente após o crime, o Espírito Santo recebeu recursos do governo federal. Ele afirma que o governo federal, sensibilizado com os acontecimentos, liberou logo após crime R$ 60 milhões para o combate ao crime organizado no Estado, e a longo dos anos cerca de R$ 400 milhões, para investimentos na Segurança e sistema prisional.
Gagno afirmou que o crime serviu de palanque para o então secretário de Segurança Rodney Miranda e juízes envolvidos na farsa do mando.
Patrick Berriel fez o trabalho de falar diretamente ao júri. Olho no olho, o advogado de Calú se dirigia aos jurados para tentar sensibilizá-los. Ele lembrou aos jurados que o crime do juiz não ficou impune, já que os assassinos foram presos e condenados.
“Essa é uma história muito bem contada por um promotor corajoso para sustentar um caso sem provas”, disse, se referindo ao promotor João Eduardo Grimaldi da Fonseca.
Berriel ainda destacou aos jurados que Lumbrigão e Giliarde sofreram tortura por parte das autoridades. Ele registrou que Giliarde só fez o exame de corpo delito um mês após o interrogatório, caracterizado pelas sessões de tortura
Francisco de Oliveira, advogado de Ferreira, que também defendeu o sargento Heber Valêncio (condenado como intermediário do crime do juiz, ao lado do também sargento Ranilson Alves da Silva), recordou ao júri as circunstâncias que condenaram seu ex-cliente, para mostrar aos jurados que os dois militares foram condenados à unanimidade porque os jurados teriam sido ameaçados. Ele recuperou esse episódio para justificar seu pedido de desaforamento do júri de Vila Velha para Vitória. Ele queria evitar que ocorressem as mesmas ameaças aos jurados. A Justiça negou o pedido.
O advogado quis mostrar que o processo é uma sucessão de erros. Ele destacou que o juiz Alexandre Martins havia absolvido Valêncio num processo militar. A absolvição assegurou que o PM fosse promovido a sargento. Em seguida, ele perguntou qual seria interesse de Valêncio em intermediar o crime de um juiz que o absolveu.
Ainda sobre os intermediários, Oliveira resgatou o episódio do apartamento próximo à academia Belle Forme, que teria sido alugado para servir de tocaia para os dois militares da PM. O advogado esclareceu que o contrato de locação é de 15 de janeiro de 2002, e o juiz só se matricularia na academia oito meses depois.
Francisco apresentou essas contradições para dizer que todo o processo está repleto de erros. “É uma demonstração de desrespeito às provas”, afirmou. Ele acrescentou que não há prova alguma que relacione o coronel Ferreira e Calú com com o crime.
O advogado disse ainda que o juiz Carlos Eduardo Lemos forjou as provas para se promover. Francisco, assim como o advogado de Calú, Leonardo Gagno, exibiu o livro “Espírito Santo” (escrito por Rodney Miranda, Carlos Eduardo Lemos e Luiz Eduardo Soares), como símbolo da fraude criado para a tese de mando.
Depoimento da personal trainer
O advogado do coronel Ferreira fez questão resgatar o episódio envolvendo o depoimento da personal trainer do juiz Alexandre, Júlia Eugênia Fontoura.
Francisco recordou que no primeiro depoimento, no dia do crime, Júlia declarou ao delegado Danilo Bahiense como o então governador Paulo Hartung aparece na história, que o juiz havia lhe confidenciado alguns dias antes do crime.
No dia seguinte ao crime, quando ela foi ouvida pelo juiz Vladson Bittencourt, Júlia se surpreendeu ao notar que a parte do seu depoimento que relacionava Hartung ao crime fora suprimida. O advogado afirmou que mais essa tentativa de forjar o inquérito deveria ter sido apurada, mas não foi.
Após a defesa encerrar sua exposição, houve um novo intervalo. O julgamento foi retomado com a réplica da acusação, que não apresentou novos elementos. Apenas reafirmou que as provas lentadas pela defesa eram inconsistentes e voltou a desqualificar o depoimento das testemunhas da defesa de Calú e Ferreira.
Os advogados de defesa voltam agora para fazer a tréplica. Após a conclusão da defesa, os jurados devem ser reunir para o veredito e em seguida o juiz Marcelo Soares Cunha deve anunciar a decisão do júri, o que deve ocorrer ainda na noite deste domingo (30).