Após Odessi Martins da Silva Júnior, o Lumbrigão, e Giliarde Ferreira de Souza efetuarem os disparos que mataram o juiz Alexandre Martins de Castro Júnior, em frente à Academia Belle Forme, em Itapoã, Vila Velha, na rua que hoje recebe o nome do magistrado morto, os criminosos levaram da cena do crime a arma usada pelo juiz no tiroteio.
A dupla criminosa, ao reparar que a arma trazia um brasão da Polícia Militar do Espírito Santo, suspeitou que havia atirado num policial. Mas por que o juiz portava uma arma-carga da PM? A resposta para essa pergunta nào aparece no júri, mas Século Diário teve acesso a um dossê do então comandante-geral da PM, Júlio César Lugato, que esclarece essa passagem.
A história da arma do juiz abriu uma crise entre o então secretário de Segurança, Rodney Miranda, hoje prefeito de Vila Velha, e Lugato.
Cerca de um mês antes do crime, Rodney exigiu que Lugato lhe entregasse 10 pistolas ponto 40 e 500 munições do mesmo calibre. O coronel respondeu que não podia atendê-lo, pois todos os policiais Civis e Militares que estavam cedidos à Sesp já possuíam armas.
Rodney, sempre com perfil autoritário, não aceitou a negativa, passando e pressionar o comandante da PM. Lugato, acuado, levou o caso ao chefe da Casa Militar, o também coronel Luiz Sérgio Aurich, e ao próprio governador Paulo Hartung.
Uma semana antes da morte do juiz, Lugato foi chamado ao gabinete do secretário. Contrariado com as seguidas negativas do coronel, Rodney teria dado um murro na mesa e exigido: “Agora não tem mais jeito, você tem de me dar as armas”.
Sem saída, o comandante-geral exigiu a formalização do pedido por escrito para preparar a cautela das 10 pistolas e 500 munições. No mesmo dia as armas foram entregues a Rodney.
No domingo (23/03/2003) véspera do crime, a Diretoria de Inteligência da PM informou ao comandante-geral que o secretário de Segurança estava ensinando os juízes Alexandre Martins e Carlos Eduardo Lemos a usar a pistola ponto 40, numa “aula de tiro particular”, durante churrasco na Associação dos Magistrados do Espírito Santo (Amages).
O coronel Lugato só ficou sabendo do paradeiro de uma das pistolas no dia seguinte à morte do juiz. Durante uma coletiva de imprensa convocada por Rodney para falar sobre o crime, um policial entregou ao secretário a pistola do juiz dentro de um saco de plástico. A arma chamou a atenção dos repórteres, que queriam saber a ligação da arma apresentada com o crime. Rodney preferiu não tocar no assunto.
É fato que o juiz não era familiarizado com armas e tampouco havia praticava tiro. Talvez sua única “aula preparatória” tenha sido no churrasco da Amages, com Rodney.
Na cena do crime, não restou dúvida de que Alexandre, saca a arma da pochete, desmuniciada, ou seja, não estava pronta para disparar. Os segundos que o juiz perdeu para atirar poderiam ter salvado sua vida.