“Plantações não são florestas!
As monoculturas de árvores não dão abrigo, nem alimento, nem remédios!
As monoculturas de árvores secam, contaminam e mudam o curso de nossos rios e córregos!
As monoculturas de árvores monopolizam territórios, expulsam comunidades e destroem ecossistemas!”
Com palavras de ordem como essas, a Rede Latino-Americana Contra a Monocultura de Árvores (Recoma) marca mais um 21 de setembro como o Dia Internacional de Luta contra as Monoculturas de Árvores. A Rede é um coletivo de organizações não governamentais e está presente em 13 países: Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Equador, El Salvador, Guatemala, Honduras, México, Nicarágua, Paraguai e Uruguai.
O objetivo é denunciar os impactos provocados pelas grandes monoculturas sobre ecossistemas e comunidades em todo o território desses países, porque, “apesar de haver documentação mostrando os efeitos nocivos das monoculturas sobre os territórios (poluição e esgotamento de solos e águas), as plantações continuam se expandindo, seguindo a lógica de crescimento ilimitado, que concentra terras e sustenta um sistema de saque, em muitos casos associado à violência contra comunidades indígenas, negras e camponesas, o que é um denominador comum”.
Em carta divulgada nesta quarta-feira (21), a Recoma alerta sobre a estratégia das empresas de se “reinventarem” e esconderem seus graves impactos atrás de novos nomes, selos e certificados “verdes”, de políticas de “responsabilidade social” sob a maquiagem da economia “verde”. Com isso, conseguem manter a expansão de seus plantios insustentáveis, provocando graves problemas para as comunidades, direta ou indiretamente afetadas.
“É por isso que não podemos deixar de levantar a voz. O objetivo deste dia é dar visibilidade especial à luta contra as monoculturas, às violações dos direitos que muitos povos e comunidades sofrem quando as plantações avançam e se estabelecem em seus territórios”, afirma a carta.
Mas, acima de tudo, destaca o manifesto, visa celebrar a resistência e a solidariedade entre comunidades e o fato de que esses processos de resistência andam de mãos dadas com um modelo diferente de geração de alimentos e gestão do território, no qual as monoculturas não têm lugar e no qual, pelo contrário, sobrevivem conhecimentos tradicionais e de manejo da floresta que, em muitos casos, são milenares.
“Isso é muito importante porque a oposição por parte de movimentos sociais, organizações camponesas, indígenas, negras e outras é respondida com ameaças, criminalização e, às vezes, até mesmo com a morte” denuncia.
A Rede contextualiza ainda mais o problema, evidenciando que essas plantações de eucalipto, pinus, dendezeiros, teca e acácia, localizadas no Sul Global, respondem a uma lógica de produção e consumo excessivo que prevalece nos países do Norte. “Normalmente nas mãos das corporações transnacionais ou grandes grupos econômicos nacionais, elas ocupam grandes extensões de território, substituem ecossistemas como florestas, cerrado ou pradarias (pampa), e têm impacto negativo sobre as comunidades locais, ou seja, sobre quem tem menos recursos”, afirma.
Resistência capixaba
No Espírito Santo, as regiões norte e noroeste são historicamente as mais castigadas pela lógica da exploração da terra e das pessoas, em função da demanda crescente, do hemisfério norte, por produtos baratos, disfarçados de sustentáveis por selos e certificações pouco comprometidas com a justiça social e ambiental.
Ao norte do Rio Doce, é a monocultura de eucalipto que realiza a triste sina do esvaziamento do campo, que assombra o Brasil e outros países ao sul da linha do Equador. Nessa vasta região do Espírito Santo, alguns municípios chegam a ter 80% de toda a sua área agricultável, ocupada com monoculturas de eucaliptos da Aracruz Celulose (Fibria) e Suzano.
Além da intensa degradação do solo e dos recursos hídricos, os desertos verdes de eucaliptais condenam comunidades quilombolas ao isolamento e à escassez aguda de meios de sobrevivência tradicional. Indígenas também se veem pressionados e impedidos de conservarem sua cultura e costumes de forma plena e autônoma.
Também os camponeses, agricultores familiares e agroecologistas são sufocados pela lógica do capital e impedidos não só de garantirem sua dignidade econômica, social e cultural, mas também de exercerem o papel de agentes ambientais, visto que a monocultura toma espaços que poderiam ser ocupados pela agroecologia e, consequentemente, desenvolver a recuperação de mananciais e a diversidade de produção.
No Território Quilombola do Sapê do Norte, as comunidades criaram, nesse mês de setembro, mais um coletivo para fortalecer a luta pela recuperação de seu território e dignidade. A Comissão das Retomadas Quilombolas tem como temais focais, além da titulação dos territórios, a segurança hídrica, as mudanças climáticas e a produção agrícola sustentável.