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‘A gente conseguiu dar o nosso recado’, afirma Tupinikim sobre o ATL

Acampamento indígena em Brasília é encerrado com o legado da participação de 140 Tupinikim e Guarani de Aracruz.

Divulgação/PovosTupinikim

A 18ª edição do Acampamento Terra Livre (ATL) chegou ao fim nesta quinta-feira (14), em Brasília. Com pauta de temas urgentes para as comunidades indígenas, os organizadores estimam que mais de 8 mil pessoas de 200 povos espalhados pelo Brasil integraram a mobilização. Representando o Espírito Santo, uma delegação com cerca de 140 Tupinikim e Guarani de Aracruz, norte do Estado, participou das programações, que defenderam o direito à terra e a participação dos povos tradicionais nas eleições deste ano.

“A gente conseguiu dar nosso recado. Foram dez dias de acampamento, com os povos indígenas dispostos a lutar pelos seus direitos. A gente vai continuar firme na luta contra Bolsonaro e esse governo racista, fascista e genocida”, declara o presidente do Conselho de Saúde de Caieiras Velha, Renato Tupinikim, que participa do ATL há 16 anos.

Saindo de Aracruz, norte do Estado, em três ônibus, a maior parte da delegação capixaba voltou para o Espírito Santo na última sexta-feira (8). “Foi muito importante. A gente conseguiu mobilizar muitas lideranças indígenas, jovens, mulheres, anciãos, estudantes. Muito marcante”, conta Renato.

Nesta quinta, último dia de mobilizações, a programação foi marcada pelo evento “Aliança dos Movimentos”, que recebeu representantes de diversos movimentos sociais com o objetivo de unir bandeiras em torno de causas conjuntas. Na noite dessa quarta, indígenas também promoveram um ato na Esplanada dos Ministérios, gritando, mais uma vez, contra a agenda anti-indígena do governo e do Congresso Nacional. Ao todo, três mobilizações foram realizadas nas ruas de Brasília ao longo do ATL.

Ato realizado no dia 6 de abril por indígenas acampados. Foto: Oliver Kornblihtt/Apib

Com o tema “Retomando o Brasil: Demarcar Territórios e Aldear a Política”, os assuntos principais do acampamento, iniciado no dia 4 de abril, foram as eleições e o direito à terra. A 18ª edição também discutiu outras pautas urgentes para as comunidades indígenas em setores como Educação, Saúde e direitos LGBTQIA+.

Há uma semana, Renato Tupinikim participou de uma reunião com o novo responsável pela Secretaria de Saúde Indígena (Sesai), Reginaldo Ramos Machado, para apresentar demandas dos povos originários que vivem no Espírito Santo. O indígena falou de problemas da saúde indígena de Aracruz, como a falta de infraestrutura das unidades de saúde.

No mesmo dia, o coordenador da Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (Apoinme), Paulo Tupinikim, também participou de uma mesa de debates sobre o desmonte da saúde indígena no Brasil, área que também é alvo de denúncias recorrentes no Estado.

Com a pressão de mais de 8 mil indígenas acampados em Brasília, o Projeto de Lei 191/2020, outra pauta chave do acampamento este ano, foi desacelerado. A matéria, que autoriza a mineração em terras indígenas, tramita em regime de urgência no Congresso e estava previsto para ser votado entre a última terça (12) e quarta-feira (13), mas não entrou em pauta.

Pressão que também veio dos jovens. Este ano, o acampamento foi marcado pela grande mobilização da juventude indígena, que participou de forma massiva representando diversas comunidades originárias do Brasil. O próximo encontro aguardado pelos povos tradicionais do País é para os protestos contra o Marco Temporal, previsto para voltar a ser julgado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), em junho. No Espírito Santo, o Marco Temporal coloca em risco terras demarcadas em 1998, 2002 e 2008 em Aracruz, homologadas e autodemarcadas após décadas de luta contra a atual Suzano (ex-Aracruz Celulose e ex-Fibria).

“Estamos aqui, pois entendemos as urgências que o Brasil e nossos povos vivem. Nossas aldeias são constantemente invadidas, nossas Terras – as porções mais preservadas de todo o Brasil – são destruídas pelo avanço ilegal da mineração, do garimpo, da grilagem, da indústria madeireira, do agronegócio, e outros empreendimentos como hidrelétricas, portos, estradas, linhas de transmissão, e até pelo tráfico de drogas. E este processo resulta invariavelmente em morte e violência contra nós, indígenas, de todas as regiões do Brasil”, enfatiza carta elaborada pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), em conjunto com as organizações regionais de base.

O documento prossegue: “Nossas casas de reza são queimadas, nossas crianças e mulheres violentadas, nossos jovens e defensores são perseguidos e assassinados. Precisamos interromper esses processos de destruição”.

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