domingo, fevereiro 23, 2025
29.9 C
Vitória
domingo, fevereiro 23, 2025
domingo, fevereiro 23, 2025

Leia Também:

‘A Petrobras precisa reassumir os campos do norte capixaba’

Valnísio Hoffman, do Sindipetro, defende reestatização diante da crise da Seacrest

Diante da crise da Seacrest no Espírito Santo, que culminou com o pedido de recuperação judicial da empresa, o Sindicato dos Petroleiros do Espírito Santo (Sindipetro-ES) defende que a Petrobras retome os campos do norte capixaba. O coordenador do Sindicato dos Petroleiros do Espírito Santo (Sindipetro-ES), Valnísio Hoffman alerta para os impactos da crise na economia local e para os trabalhadores do setor, e defende que a estatal é a única empresa com condições de garantir a operação segura e eficiente dos campos, evitando mais danos ambientais e prejuízos à região.

“A Petrobras precisa reassumir os campos no norte capixaba, porque tem expertise, conhecimento e capacidade para garantir a segurança e a continuidade da exploração de forma sustentável. Estamos buscando sensibilizar a estatal para retomar os campos, já que a Seacrest deve valores significativos. Uma negociação com os bancos poderia permitir a recuperação dos ativos”, argumenta.

Sindipetro-ES

A empresa norueguesa, que atua na produção de petróleo onshore no norte do Espírito Santo, entrou com pedido de recuperação judicial nessa semana no Tribunal de Justiça de São Paulo. A petroleira alega que enfrenta uma crise financeira grave, acumulando uma dívida de R$ 3,3 bilhões, solicitando à Justiça a suspensão, por 180 dias, de todas as execuções e ações que possam comprometer seu patrimônio.

Para o representante do sindicato dos petroleiros, a crise financeira da Seacrest Petróleo e seu pedido de recuperação judicial reacendem o debate sobre a venda de ativos da Petrobras no Espírito Santo. Ele destaca que o desfecho da privatização dos campos de petróleo do norte capixaba já era previsível, por isso, desde o início das discussões sobre a privatização, o Sindipetro se posicionou contra a venda dos ativos da Petrobras para a norueguesa.

“Nós avisamos do risco dessa privatização, brigamos demais, fizemos campanha e a caravana petroleira explicando a importância da Petrobras”, relembra. Ele aponta que a venda, concluída durante o Governo Bolsonaro, expôs os trabalhadores e o meio ambiente a riscos iminentes. A operação dos campos foi assumida pela Seacrest em 2023, após o processo de privatização. Desde então, os receios do sindicato se confirmaram com uma série de incidentes ambientais.

O mais grave ocorreu em outubro do ano passado, quando um poço do campo de Inhambu, em São Mateus, sofreu um blowout, ou seja, um vazamento descontrolado de óleo. A Seacrest demorou para se pronunciar e apenas informou que enviaria uma equipe ao local. A falta de uma gestão mais rigorosa e de investimentos suficientes em medidas preventivas contribuíram para que o vazamento ocorresse, aponta o sindicato. A Seacrest esteve envolvida em outros acidentes, como o vazamento de aproximadamente 1,1 mil litros de petróleo em Linhares, no Polo Cricaré, em março de 2023. O Instituto Estadual de Meio Ambiente (Iema) vistoriou o local e determinou a limpeza, mas a empresa não foi multada.

Os impactos da crise da Seacrest também são sentidos pelos trabalhadores. Em dezembro do último ano, profissionais da Sudamin, empresa terceirizada que presta serviços à Seacrest, realizaram uma paralisação devido a salários atrasados. Hoffmann denuncia que a insegurança no emprego e as condições de trabalho precárias têm gerado grande pressão sobre os empregados. “Temos relatos de sobrecarga de trabalho, falta de manutenção adequada e uma tensão constante entre os trabalhadores sobre o futuro da empresa e seus empregos”, relata.

A recuperação judicial da Seacrest também levanta preocupações sobre possíveis cortes de investimentos em manutenção e segurança, o que pode resultar em novos vazamentos e acidentes. “Os bancos que assumiram o controle da empresa querem recuperar o dinheiro investido, não priorizar segurança ou manutenção. Isso aumenta o risco de precarização e de novos desastres ambientais”, alerta Hoffmann.

O impacto da crise da Seacrest também é sentido diretamente nas receitas dos municípios que dependem dos royalties do petróleo. Com a incerteza sobre a continuidade das operações, cidades como São Mateus, Jaguaré e Linhares podem sofrer perdas financeiras significativas. “Os royalties da Petrobras são maiores do que os de empresas de grande porte. Agora, com a crise da Seacrest, os municípios não estão recebendo uma fonte de receita significativa”, explica o petroleiro, que conclui: “a crise atual é resultado de uma política de desmonte da Petrobras promovida pelo governo anterior. Agora, estamos lidando com as consequências”.

Mais Lidas