Apartados das chuvas pelo paredão de montanhas, produtores do vale precisam de apoio para produzir e quitar dívidas
O semi-árido avança pelo Espírito Santo, estado que aumentou em 462% o desmatamento da Mata Atlântica no período entre 2019 e 2020, segundo monitoramento nacional feito pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e a Fundação SOS Mata Atlântica.
Em justiça ao triste fenômeno, o Congresso Nacional aprovou, nesta quinta-feira (27), a inclusão de mais quatro municípios na área de abrangência da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene): Aracruz, Governador Lindenberg, Itaguaçu e Itarana, ao aprovar o Projeto de Lei Complementar (PLC) nº 148/2017, que agora segue para sanção do presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido).
A proposta, no entanto, não contemplou ainda a região baixa dos municípios de Santa Teresa e São Roque do Canaã, na região serrana, onde a última seca se prolongou até 2019 e, até hoje, tem consequências devastadoras na vida dos agricultores familiares da região.
Em novembro de 2019, Século Diário noticiou o racionamento de água que perdurava na região, onde os agricultores estimavam perdas de mais de 70%, em média. “É desesperador!”, exclamou, na época, o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de São Roque do Canaã, Roberto Carlos Silvestre. “São Roque é o município que menos chove no Estado, precisava de políticas especiais. O Programa Reflorestar é muito burocrático, está deixando muito a desejar”, expôs.
Na lavoura de pimenta de Alberto, das três mil plantas, menos de 300 sobreviveram à longa estiagem. O café conseguiu se sair melhor em função da boa adubação verde que ele conseguiu fazer. Mas vários produtores, conta, perderam tudo. “Até pé de coco morreu, coisa que eu nunca tinha visto antes na vida”, conta.
De posse dos mapas e laudos do Instituto Capixaba de Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), Beto explica: “Santa Teresa em geral é vista como município rico, eles olham a cidade e a área de sítios de lazer, mas não olham pro interior, pra área baixa, na divisa com São Roque. Aqui, as montanhas fazem uma barreira que não deixa a chuva chegar. Antigamente quando tinha mais floresta, pelo menos a umidade chegava, mas agora que está mais desmatado, nem isso”, descreve.
A região compreendida entre Várgea Alegre, Santo Antônio do Canãa, Córrego Seco e São Roque do Canãa é uma das mais castigadas do Estado, relata. Ali, a barragem que leva agua para o município de São roque do Canãa é afluente do mesmo córrego que abastece as Barragem do Assentamento, e chegaram a um ponto de seca que os mais velhos nunca haviam visto.
Entre 2015 e 2016, a floração do café indicava uma boa safra, mas a seca e as temperatura acima de 35° provocaram “abortamento dos frutos da pimenta do reino, [havendo] mais de 70% dos frutos e cachos que ficaram banguelos, ou seja, sem uniformidade de grãos. E em algumas propriedades há mortes de aproximadamente 70% das plantas”, explana a Associação no documento protocolado no MPES.
“A proposta dos Banco e Pagar ou Pagar. Mesmo que tiver a prorrogação não tenho como quitar minhas obrigações e o pior que não tenho como fazer nada em relação as chuvas”, suplicou, no requerimento.