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Agricultores iniciam entregas em domicílio em processo de transição agroecológica

Trabalhadores rurais de Cariacica buscam vender seus produtos sem intermédio de atravessadores

A Associação de Produtores Rurais de Cachoeirinha e Sabão (Aprucas), em Cariacica, deu início, neste mês de fevereiro, à entrega de cestas em domicílio, inicialmente em Cariacica, Vila Velha e Vitória. A iniciativa, que faz parte de um processo de transição agroecológica, é uma forma de vender os produtos sem o intermédio de atravessadores, uma vez que os trabalhadores rurais da região vendem principalmente para os grandes mercados, que normalmente compram os produtos por um valor reduzido e comercializam por um bem maior.

“Assim, eles acabam sendo escravos do modelo capitalista, servindo de mão de obra barata para os mercados”, diz o técnico agropecuário Moyses Galvão Veiga, que assessora o grupo por meio do Instituto Kairós, uma entidade da sociedade civil que fomenta práticas de produção, distribuição, comercialização e consumo responsáveis.

O link para encomenda das cestas é disponibilizado todo sábado, sendo possível fazer pedidos até a quinta-feira, para recebê-las no sábado seguinte. Uma opção é adquirir a cesta já pronta. A outra, é montar a sua própria cesta escolhendo os produtos desejados entre as diversas ofertas de frutas, legumes, verduras, temperos, ervas, proteínas e artesanais, como bolo. Para divulgar o trabalho feito, foram criados perfis no Instagram e no Facebook, além de ser compartilhado no whatsapp. 

Em cada cidade é traçado um trajeto que contempla determinados bairros. A ideia, caso haja demanda em comunidades que não estão no itinerário, é criar pontos de entrega nessas localidades. Também não está descartada a possibilidade de expandir a atuação para outros municípios. 

Moyses Galvão Veiga

Entretanto, para dar início a essa alternativa de comercialização, cuja ideia surgiu em um curso promovido pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), foi feito todo um processo de mudanças que, segundo Moysés, teve como objetivo empoderar as famílias em um sistema no qual a sustentabilidade é aplicada como um todo, desde a concepção do espaço agrícola até a comercialização, passando pelo modelo de agrícola de produção, ou seja, um processo de transição agroecológica.

O primeiro passo foi fazer um diagnóstico da comunidade, no qual se percebeu que a renda dos trabalhadores rurais vinha quase que 100% da produção de banana, detectando-se a necessidade de diversificação da produção. Para isso, uma ação foi a realização de um curso de agrofloresta de horta, ensinando, por exemplo, como montar horta com floresta. Entretanto, essa diversificação, afirma Moyses, é um processo, uma vez que os agricultores da região se concentram no cultivo da banana há cerca de 100 anos, uma atividade que passa de geração em geração.

Moyses Galvão Veiga

O técnico agrícola informa que, depois da banana, a maior produção na região é de manga, que não era aproveitada pelos agricultores. Ele explica que essa realidade é uma prova de que “o sistema aliena os trabalhadores das possibilidades”, pois enxergam nas grandes monoculturas de soja dos latifúndios, por exemplo, um parâmetro de vida para eles, entretanto, é uma realidade que não se aplica à agricultura familiar.

Moysés destaca que quando o agricultor familiar vende um produto em grande quantidade, como no caso da banana, acaba comercializando por um preço menor, devido à grande oferta. Com o processo de diversificação iniciado, as famílias que fazem parte da Associação já estão produzindo hortaliças em geral, frutas cítricas e outros produtos agrícolas, que compõem a cesta. Além disso, a iniciativa busca também agregar valor ao Grupo 7M, formado por mulheres e que comercializa produtos feitos à base de banana, tendo como carro chefe a banana passa. Um dos próximos passos do Grupo 7M é produzir a manga passa.

Moyses Galvão Veiga

Saúde

Durante o processo de transição agroecológica não poderia faltar o esclarecimento sobre a saúde do produtor, do consumidor, e do planeta. Segundo Moyses, alguns agricultores usavam o Roundup, herbicida da Bayer, sendo necessário esclarecer, por exemplo, que esse produto, com o passar do tempo, pode causar câncer em quem o utiliza. “O câncer é apenas uma das doenças”, diz, destacando, inclusive, que isso traz impacto no Sistema Único de Saúde (SUS).

Outro esclarecimento foi sobre as consequências da utilização de adubos químicos, “que matam a vida do solo”. “Não utilizá-los é uma forma de não contaminar o solo, o ar, a água, lençóis freáticos”, relata Moyses. Para o presidente da Aprucas, Luciano Sarmento Pereira, há motivos para comemorar diante de todo esse processo de transição agroecológica.
“Estamos plantando coisas que a gente não tinha conhecimento técnico para cultivar. A gente quer produzir sem matar. É qualidade de vida de quem produz e de quem come”, diz.

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