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Agricultura familiar orgânica e agroecológica é solução para escassez de água

“O que preserva o meio ambiente é a agroecologia e produção orgânica. Por si só”, sentencia Selene Tesch, presidenta da Associação de Agricultores e Agricultoras de Produção Orgânica Familiar de Santa Maria de Jetibá (Amparo Familiar). De fato, a certificação orgânica e a classificação agroecológica exigem todas as adequações, regras e condutas necessárias à recuperação dos recursos hídricos.

A boa notícia é que o número de famílias que aderem ao moderno método produtivo tem crescido continuamente nos últimos. A má notícia é que os agricultores que conseguiram se libertar da prisão petroquímica imposta a partir do fim da Segunda Guerra Mundial (os agrotóxicos passaram a ser produzidos em massa e incentivados pelos governos como forma de dar uma utilidade aos restos de armas químicas que sobraram da 2ª Grande Guerra) ainda são uma minoria, estatisticamente, pouco expressivos.

Em Santa Maria de Jetibá, por exemplo, o município mais orgânico do Espírito Santo, das 4.600 propriedades rurais, apenas 120 são orgânicas, parcos 2,6% do total. Isso explica as dificuldades enfrentadas na região com a seca.

“As nascentes têm que ser cercadas e preservadas. Precisa fazer caixas secas pra infiltração da água, pra ela descer devagar”, ensina a presidenta da Amparo Familiar, transmitindo uma das regras básicas seguidas por ela e seus companheiros de produção orgânica.

Como acelerar esse processo? “É um trabalho de formiguinha, é mesmo conscientização. Porque, obrigado, não vai ninguém”, explica Selene. E o que sensibiliza o agricultor e a agricultora, já conscientes da calamidade que é, na saúde da família, dos consumidores e da natureza, o uso de agrotóxicos? “Primeira parte é econômica. Precisa ser rentável”, resume.

E hoje, 30 anos após o início da revolução orgânica e agroecológica no Espírito Santo, há muito mais informação disponível e exemplos bem-sucedidos para inspirar. E quem está dentro das associações e compreende como tudo deve funcionar e segue as recomendações exigidas pela certificação, alcança também os benefícios econômicos. “Hoje é 50% melhor”, assegura Selene.

Merenda escolar orgânica

Essa percepção da interdependência virtuosa entre saúde hídrica e agricultura orgânica e agroecológica é cada vez mais difundida, não só no campo, mas também nas cidades. “Precisa ter merenda orgânica nas escolas”, reivindica Eduardo Pignaton, presidente da Associação Barrense de Canoagem (ABC) e um dos mobilizadores responsáveis pela fundação do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Jucu, em 2006. “Isso muda culturalmente uma sociedade, muda esse hábito do agrotóxico”, avalia.

Outra transformação cultural a ser incentivada é a relação com a floresta. Na visão do ambientalista, precisamos de uma “cultura do reflorestamento”. E, para isso, os viveiros precisam se multiplicar.  Igrejas, times de futebol, casas de produtos rurais … não só governos e ONGs. E as mudas devem ser mais acessíveis à população.

A meta da gestão integrada dos Comitês das Bacias dos Rios Santa Maria da Vitória e Jucu é de ter 50% da área reflorestada. Hoje, segundos dados levantados pelo Projeto Florestas para a Vida, executado pelo governo estadual com recursos do fundo internacional GEF, os percentuais são de 45% no Santa Maria e 41% no Jucu. Porém, quando se observa a situação das Áreas de Proteção Permanente (APPs), a situação se agrava. Apenas um terço da mata ciliar está de pé (31,1% no Santa Maria e e 34,2% no Jucu).

Eduardo também cita o fator econômico como fundamental para reverter o quadro. Um plano de manejo para reflorestar as duas bacias precisa conter atrativos financeiros, como a exploração sustentável de madeira de lei. “O Programa Reflorestar tem esse princípio, mas é muito tímido”, critica. 

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