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‘Agroecologia e Agricultura Orgânica não vão ficar sem o devido atendimento’

Subsecretário de Agricultura Familiar, Rogério Favoretti, disse que aceitou desafio de lutar por demandas históricas do setor

Arquivo Pessoal

Primeiro subsecretário de Agricultura Familiar do Espírito Santo, Rogério Favoretti sabe o tamanho do desafio que tem pela frente. O cargo recém-criado é fruto da mobilização dos movimentos sociais por meio do Fórum Estadual da Agricultura Familiar, o mesmo que o indicou numa lista tríplice de nomes bem-vindos para o cargo pleiteado.

Advogado e ex-assessor parlamentar com experiência entre políticos de esquerda nos legislativos estadual e federal – a atuação mais recente foi na Assembleia Legislativa, no mandato da deputada Iriny Lopes (PT) -, Favoretti pretende manter o diálogo com essa base popular e técnica do Fórum de Agricultura Familiar, para construir um planejamento que dê conta de organizar as demandas históricas do setor, priorizando, dentro do possível, a Agroecologia e a Agricultura Orgânica.

“A Agroecologia e a Agricultura Orgânica estão no nosso horizonte, não vai ficar sem o devido debate e atendimento”, garante em entrevista a Século Diário logo após a publicação de sua nomeação, nessa segunda-feira (5), no Diário Oficial. A expectativa é, assim que empossado, iniciar a organização das ações a serem realizadas. “A ideia é reunir toda a demanda existente e organizar melhor, através desse planejamento que será feito. Vamos analisar as ações e projetos em andamento, identificar o que de novo precisa ser criado”.

A lei que cria a nova subsecretaria prevê sua organização geral em três gerências: de Desenvolvimento Agrário, de Projetos e de Comercialização. Há ainda, ressalta, estreito diálogo com a Coordenação Técnica da Agroecologia, que substitui sua antecessora mais robusta, a Gerência de Agricultura Orgânica.

Tanto as gerências quanto a coordenação, no entanto, não têm orçamento próprio dentro do escopo da Secretaria de Estado de Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca (Seag). A despeito disso, os planos de Favoretti são grandiosos. “Que a gente consiga, em todo o Estado, gerar fixação das famílias no campo, combatendo o ainda existente êxodo rural. A gente ainda vê muitos jovens que deixam a agricultura e sua propriedade em busca de emprego na cidade”, posiciona. “Vamos criar projetos e programas para gerar mais trabalho e renda no campo, uma melhor qualidade de vida dessas famílias de agricultores e agricultoras no meio rural. Vamos ter o olhar para as mulheres, para a juventude”.

Grandiosidade, porém, que ele sabe precisar do apoio de outros órgãos estaduais, para além da Secretaria de Estado da Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca (Seag), hoje sob comando de Enio Bergoli. “Sedu, Incaper, Idaf, Bandes”, cita, referindo-se à Secretaria de Estado da Educação, ao Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural, ao Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal (Idaf) e ao Banco de Desenvolvimento do Estado (Bandes).

O subsecretário elenca também o governo federal. “Agora temos o MDA [Ministério do Desenvolvimento Agrário, recriado pelo governo Lula], foi aberto um escritório local no Espírito Santo; o Incra [Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária] tem agora um novo corpo político também”, aponta.

Educação do campo

“Vamos dialogar com todos aqueles preocupados com a pauta da Agricultura Familiar como um todo. Temos que pensar a Educação do Campo, a estruturação das políticas públicas também de saúde, esporte, lazer, de forma ampla”, contextualiza.

Especificamente sobre a educação, Favoretti conhece uma luta ainda inglória empenhada pelos movimentos sociais, educadores e pesquisadores contra o Termo de Ajustamento de Gestão (TAG), tendo inclusive participado da reunião ocorrida entre os movimentos e a Corte no início de maio, quando foi formalizado o pedido de retirada de todas as escolas do campo estaduais do espectro do acordo. O TAG, denunciam os educadores, é uma sentença de morte para dezenas de escolas do campo, medida que inviabiliza o sonho de frear o êxodo rural dos jovens.

“Há de fato essa preocupação. Na reunião com o conselheiro Rodrigo Chamoun, o encaminhamento foi de que seria feita mais uma reunião com os movimentos sociais, para então o Tribunal de Contas decidir o pedido feito pelos educadores”, relata.

O subsecretário de Agricultura Familiar afirma compartilhar do entendimento dos movimentos sociais, liderado pelo Comitê de Educação do Campo do Espírito Santo (Comeces), de que não somente é preciso não fechar mais escolas, como é fundamental criar novas para atender a população rural, e dentro de uma metodologia própria, que é a Pedagogia da Alternância, fundada no Espírito Santo na década de 1960 e que se espalhou para todo o país, devido à sua efetividade e eficácia com as populações rurais. “Criar mais escolas é preciso e que utilizem a Pedagogia da Alternância, tão bem aplicada nas Escolas Família Agrícola. A subsecretaria vai ter um olhar especial para construir parcerias fundamentais para que essa pedagogia se fortaleça e as escolas do campo sejam valorizadas em todo o Estado”.

Bom legado

No balaio de complexidade em que a Subsecretaria se insere, há ainda uma postura declaradamente preconceituosa do alto escalão da Seag em relação à Agricultura Orgânica e a Agroecologia, setores que têm na Agricultura Familiar o locus historicamente privilegiado, seja no seu desenvolvimento inicial – na década de 1980, no caso do Espírito Santo -, seja em sua expansão, por meio de estratégias como as Organizações de Controle Social (OSCs), a certificação participativa e as feiras livres.

“Estou consciente do tamanho do desafio. Temos preocupações. Estou indo com um sentimento de dar certo. Não vai faltar empenho, esforço e dedicação. Vamos dialogar com as entidades, os movimentos sociais, as prefeituras. É a primeira experiência no Estado, tenho o sentimento que dê certo, que ao final dos quatro anos, que possa deixar um bom resultado, um bom legado, porque isso é importante para o agricultor e a agricultora, para toda a população capixaba”, projeta.

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