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Agronegócio e mineração agravam processo de desertificação no Estado

O processo de desertificação não é uma novidade no Espírito Santo, mas a situação vem se agravando, à medida que o agronegócio e a mineração avançam. A afirmação é do coordenador estadual do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), Valmir Noventa. A situação é especialmente alarmante nas regiões do norte e extremo norte capixaba, onde a monocultura intensiva do eucalipto é responsável pela desnutrição e secura do solo; e na região sul, onde a mineração é responsável pela degradação do solo e dos recursos hídricos.
 
A desertificação é um processo destrutivo causado pela intensa exploração e exaustão dos recursos naturais (como a água, o solo e a vegetação), tornando insustentável a vida nas regiões impactadas. Em virtude da escassez de recursos necessários à vida, esse processo de devastação provoca, também, uma intensa migração dos povos atingidos pela desertificação em direção a locais habitáveis.
 
Como lembra Valmir, o modelo de agricultura desenvolvido no Estado é baseado na destruição da natureza, dos recursos naturais e do solo, devido ao grande uso de água para a irrigação das grandes lavouras de monoculturas que, além disso, também fazem uso intenso de venenos agrícolas. A monocultura, por si só, ao fazer com que haja uma grande rotatividade da mesma espécie sempre sobre o mesmo território, provoca a exaustão do solo.

Ainda segundo o militante, o meio ambiente se encontra em melhor estágio de preservação em lugares como a região serrana do Estado, onde muitas pequenas propriedades são geridas por camponeses e os plantios são realizados com variedade de mudas e sem o uso de químicos agrícolas como os agrotóxicos, do que em lugares onde o agronegócio predomina, como o norte capixaba, ocupado pelos extensos plantios de eucalipto da Aracruz Celulose (Fibria) e Suzano Papel e Celulose.

 
De acordo com Valmir, têm crescido entre os camponeses a consciência ambiental e a adesão ao modelo de produção agroecológico, que alia a produção de alimentos à preservação ambiental. Apesar disso, como lembra o camponês, as políticas públicas, sobretudo as do governo federal,  vão na contramão da preservação ambiental e do incentivo à agricultura camponesa, uma vez que ainda incentivam a ampliação da produção do agronegócio. Para que processos destrutivos como a desertificação sejam sanados, lembra, é preciso que atividades como a agroecologia sejam incentivadas no campo brasileiro.
 
O Dia Mundial de Combate à Desertificação é lembrado no dia 17 de junho, nesta terça-feira. A Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação (UNCCD), assinada em Paris, na França, em 1944, e ratificada pelo Brasil, em 1997, aponta que a desertificação é a raiz de problemas políticos e socioeconômicos, como a pobreza, a segurança alimentar e as precárias condições de vida das populações mais vulneráveis, além de ser um fenômeno que compromete o equilíbrio ambiental do planeta. 
 
No Estado, os impactos da desertificação foram alertados pelo cientista Augusto Ruschi (1915-1986), que já previa as consequências da derrubada da floresta do Rio Doce ao norte do Estado e a desertificação que acomete até hoje 22 municípios banhados pela bacia.
 
Em outubro de 2005, o Panorama sobre a Desertificação no Estado do Espírito Santo, do Ministério do Meio Ambiente (MMA), evidenciou a ocupação intensa do monocultivo de eucalipto nas regiões que sofrem o processo de desertificação ao norte do Estado. O documento apontou, ainda, como solução para o desmatamento desordenado, o impedimento de aquisição de terras por empresas que fazem o plantio intensivo de eucalipto. 
 
Estudos de pesquisadores ligados à Associação dos Geógrafos do Brasil no Estado (AGB-ES) e à Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (Fase) apontam que o consumo diário de água para produção de celulose é de 248 mil metros cúbicos, o suficiente para abastecer uma cidade de 2,5 milhões de habitantes, equivalente à população da Grande Vitória. 

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