Izanildo Sabino, membro do Fórum Popular em Defesa de Vila Velha, conta que várias denúncias já foram feitas ao Ministério Público Estadual, que está apurando o caso, e também à Polícia Ambiental, que abriu inquérito. No entanto, nenhuma ação efetiva de punição aos infratores foi tomada.
O Fórum de Desenvolvimento Econômico, Social e Ambiental da Grande Vale Encantado (Fórum Desea) é outro coletivo atuante na defesa dos Alagados e da Lagoa Encantada. As duas regiões eram contíguas antes do surgimento do bairro Vale Encantado, possuem alta biodiversidade e são de importância estratégica para a macrodrenagem de Vila Velha, que sofre constantemente com enchentes terríveis.
Os cerca de seis milhões de metros quadrados dos Alagados formam um “piscinão natural”, que se forma com a água da chuva. Se ocupada, a água vai escorrer ainda mais para os bairros”, alerta o ambientalista.
Nos dois Fóruns, o entendimento claro é de que as constantes agressões objetivam descaracterizar a região, levando a uma perda de status como área de interesse ambiental – atual classificação dentro do Plano Diretor Municipal (PDM) – e permitindo a exploração para fins imobiliários e industriais.
Enquanto a sociedade civil organizada luta para transformar a região em unidade de conservação e para criar um corredor ecológico até a Reserva de Jacarenema, as autoridades municipais preparam um tiro contra o próprio pé.
Izanildo conta que, na proposta do Novo PDM, atualmente tramitando na Câmara de Vereadores, parte da região já foi rebaixada para zona de ocupação restrita, “bem dentro da área de inundação”, protesta. “Pontal das Garças já alagada, imagine se houver mais ocupação. Isso é colocar a população em área de risco, não é planejamento inteligente de uma cidade”, critica.
Espécies raras
Na área vítima desta última devastação, já foram feitos registros biológicos importantes, como o único, para o Espírito Santo, da coruja Mocho-diabo Nome (Asio stygius). Outros destaques são de mamíferos como a Lontra, o Gato-mourisco, o Tamanduá-mirim, o Cachorro-do-mato e a Capivara, além do jacaré-do-papo-amarelo e várias aves ameaçadas de extinção.
“É muita covardia”, lamenta Izanildo. “A riqueza da flora e fauna sendo destruída de uma forma arrogante e violenta, infelizmente, quem pratica esse tipo de crime na maioria das vezes não são sequer indiciados em inquérito policial”.