O temor já completou um ano e até o momento os moradores do entorno do Convento da Penha não receberam uma resposta satisfatória, por parte da direção da instituição, sobre os reais motivos para o desmatamento.
A direção do Convento afirma que serão cortadas apenas as árvores que ameaçam casas próximas à mata do Outeiro, tendo conseguido autorização para corte de mais de 100 árvores do Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Espírito Santo (Idaf).
Apoiando a intenção, está o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Em ofício assinado em 18 de outubro de 2017, a superintendente Elisa Machado Taveira relatou reunião em que participara, dias antes, a convite do Ministério Público Estadual (MPES), na presença do Idaf, Prefeitura Municipal de Vila Velha (PMVV) e entidades de apoio ao Convento e ao meio ambiente, e reafirmou que, com base nos documentos analisados, “não foi verificado dano ao bem tombado Outeiro, Convento e Igreja Nossa Senhora da Penha”.
A iniciativa do MPES atendeu a uma Manifestação Popular impetrada no órgão (processo nº 2017.0025.3018-44), que teve como origem um abaixo-assinado que circulou entre os moradores da região em agosto de 2017, reunindo mais de 800 assinaturas.
Na ação, também enviado ao Ministério Público Federal (MPF), os requerentes pedem que se faça impedir “o corte e retirada de centenas de árvores já demarcadas no Morro do Convento da Penha, afetando de forma avassaladora toda a fauna e flora da região”, “a possível abertura de muro centenário pela Travessa Dom Jorge de Meneses para a construção de via expressa automotiva” e “a possível ‘picada’ por toda a extensão da mata para o projeto de trilha ecológica, tendo em vista que ao lado da gruta Frei Pedro Palácios já existe um acesso à mata do convento, fechada por não haver verba para a manutenção e segurança da mesma”.
A Manifestação pede também que seja fiscalizado “o corte das árvores exclusivamente necessárias para a manutenção da integridade dos imóveis vizinhos ao Morro do Convento da Penha”.
“Será que o objetivo é abrir uma estrada nova para automóveis?”, indaga o médico João Batista Teixeira Lima, um dos organizadores da petição e da Manifestação Popular. Ele conta que, passado um ano desde a marcação das árvores com tinta branca, pelo Idaf, o corte ainda não foi feito, mas a ameaça continua.
O morador conta que há cerca de um mês, o MPES realizou nova reunião, entre a direção do Convento, o Idaf e a Prefeitura, convocando a mesma a tomar a frente do caso. O município, por sua vez, chamou a Defesa Civil, que “marcou apenas meia dúzia de árvores em amarelo, para poda, e meia dúzia em vermelho, para corte”, informa João. Sinalizando, portanto, um quantitativo bem menor que o Idaf, estritamente necessário para a segurança das casas vizinhas ao Outeiro do Convento, avalia.
Atualmente, prossegue o médico, um grupo de escoteiros tem circulando nos arredores, levando a mensagem de que há pessoas querendo impedir a poda de árvores que ameaçam casas próximas à mata e ao muro do Convento.
“Ao invés de mandar os escoteiros, a gente gostaria que o frei [Frei Paulo Roberto Pereira, definidor, guardião e reitor do Santuário] viesse a público, aqui, dizer o que ele realmente quer com esse desmatamento”, protesta João Batista, questionando a discrepância de orientações vindas do Idaf e da Defesa Civil, quanto ao número de árvores a serem cortadas visando à segurança das casas vizinhas.