Presença da espécie, aparentemente em comportamento reprodutivo, reforça importância da criação de um parque natural
“A lontra é em geral um bicho muito difícil de ver. Até quem estuda a espécie, faz isso mais pelas fezes e rastros, mesmo. E elas são consideradas solitárias, que só ficam juntos durante o acasalamento e reprodução. Por isso, o interessante desse registro do Izanildo [Izanildo Sabino, também ambientalista membro do Fórum Desea] é que parece tratar-se de um casal. É um indicativo de eles irão se reproduzir ou de que talvez até já estejam com filhote”, comemora o biólogo.
Flávio explica ainda que, além do comportamento mais arisco, a lontra torna-se ainda mais reservada em lugares como a Lagoa Encantada, que, por estar no meio urbano, é visitado por um número grande de pessoas. “O comportamento delas aqui é de ficar ativa à noite ou nos horários crepusculares, no início da manhã ou fim de tarde, quando menos pessoas costumam frequentar”.
E quando está ativa, caça com intensidade, necessitando de uma quantidade substancial de energia. “Ela é um predador de topo de cadeia e precisa comer muito. A dieta básica é de peixes e crustáceos, mas ela come de tudo, anfíbios, aves…Então ver essas lontras ali mostra que a área tem abundância de alimentos, muitos peixes, caranguejos, anfíbios. Precisa ser preservada”, reforça.
A lontra pode ainda ser considerada uma “espécie guarda-chuva”, ou seja, ações de proteção dela abrigam naturalmente medidas de proteção de diversas outras espécies e ambientes, como acontece com a tartaruga-marinha, que é fundamental para a saúde dos ambientes marinhos e costeiros do Brasil, onde há bases do Projeto Tamar e outras iniciativas de conservação da espécie. “No caso da lontra, é interessante ainda que ela é um mamífero semiaquático, precisa tanto de ambientes aquáticos quanto de ambientes terrestres preservados”, acrescenta.
Unidade de conservação
A proposta em curso no município é de criação de uma unidade de conservação de proteção integral, na categoria parque natural municipal, com tamanho de 200 hectares, incluindo o manguezal e o leito do rio Aribiri, que nasce nas proximidades da lagoa.
Após a consulta pública, encerrada no final de abril, as definições de categoria de UC e delimitação serão encaminhados para a Procuradoria do Município e o Ministério Público do Estado (MPES), que farão avalições fundiárias e outros desdobramentos. Por fim, a prefeitura deve elaborar uma minuta de projeto de lei para criação da UC, que terá que ser apreciada e aprovada pela Câmara de Vila Velha.