Relembre os principais fatos do ano em relação à agricultura familiar e agroecologia no Espírito Santo
Os movimentos do campo e em defesa da agroecologia tiveram mais um ano difícil mas de muita ação política. Confira alguns dos destaques do ano nesse sentido a partir da cobertura do Século Diário.
Em relação ao uso de agrotóxicos, no âmbito nacional, 2021 foi mais um ano para aprofundar a política ecocida de expansão da liberação e uso de agrotóxicos pelo país, parte da aliança do governo Bolsonaro com o agronegócio.
Uma pesquisa realizada no Espírito Santo identificou alta presença de agrotóxicos na água captada para consumo no Estado. Outro estudo mostrou que os resultados negativos do agronegócio brasileiro, situação que pode ter análise similar em relação à realidade do agronegócio capixaba.
Deserto Verde
No campo capixaba, uma das principais questões de conflito com povos do campo e com a proposta da agroecologia é o monocultivo de eucalipto, hoje comandando pela empresa Suzano (antes Fibria e Aracruz Celulose). Embora a empresa invista em projetos com agroecologia em comunidades, estes foram apontados como “captura” e “farsa” pela Rede Alerta Contra os Desertos Verdes no documento A Farsa da Solidariedade. A Rede surgiu no Espírito Santo, expandiu-se para outros estados e foi muito forte nos anos 2000, tendo retornado algumas atividades em 2021, entre elas o Dia Internacional contra o Monocultivo de Árvores e um manifesto assinado por diversas entidades.
Insegurança alimentar
Na esteira da crise econômica e da política de destruição de instrumentos públicos de segurança alimentar, sobretudo pelo governo federal, a fome foi uma realidade que viu-se ampliada para a população brasileira, como mostraram diversas pesquisas. Parte dessa realidade foi apresentada num estudo da Unisales juntos aos CRAS de Vitória.
Entre as alternativas que brotaram a partir da sociedade civil, para lidar com o aumento da fome e o descaso dos governo, esteve a criação de Cozinhas Solidárias, com preparação e distribuição de marmitas em Vitória e Cariacica. No âmbito da comercialização de alimentos, o ano teve retomada, com a reabertura da última feira orgânica do Estado que ainda estava fechada por conta da pandemia.
MST
Uma das mais importantes organizações camponesas do mundo, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) teve um ano de mobilizações e também de novidades. O movimento reivindica que sejam criados novos assentamentos no Espírito Santo, pressionando o governo estadual a agir nesse sentido diante do marasmo do governo federal. Alguns acampamentos vêm produzindo alimentos e abrigando famílias há mais de cinco anos, sem que o processo para transformação em assentamento avance. Houve ameaças de despejo de famílias acampadas e protestos do MST.
O ano de lutas culminou no evento Natal Sem Fome da Reforma Agrária, quando houve doação de cerca de 30 toneladas de alimentos no Centro de Vitória. Na ocasião foi apresentado também o local que abrigará o Armazém do Campo, um centro de comercialização de alimentos da agricultura familiar e de realização de atividades políticas e culturais, que deve ser inaugurado oficialmente no início de 2022.
Rede Bem Viver
A Rede Bem Viver, articulação de agricultores e consumidores em prol da agroecologia fomentada pelo Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) realizou seu terceiro encontro presencial desde a pandemia.
Durante o ano, o MPA também fez campanhas de doações de alimentos saudáveis nas periferias das cidades, como foi o caso da ação política e solidária realizada na Paróquia de Itararé, no Território do Bem, Vitória.
A atuação de órgãos do Estado relacionados com povos do campo também foi conturbada durante o ano de 2021. O Instituto Capixaba de Pesquisa e Extensão Rural (Incaper), autarquia estadual que presta assistência técnica agrícola e outra atividades no campo, teve uma série de mobilizações de seus trabalhadores por melhores condições de trabalho.
Por outro lado, o órgão teve alguns avanços no âmbito do fomento à agroecologia, área ainda reduzida no Incaper, onde boa parte dos trabalhos se baseiam na chamada agricultura convencional. Um dos desafios é formar profissionais com conhecimentos sobre agroecologia, o que foi promovido por meio de cursos como o de formação de agentes municipais e a capacitação com enfoque em hortas urbanas,
Quilombolas
Nos quilombos capixabas, especialmente naqueles localizados na região do Sapê do Norte, entre São Mateus e Conceição da Barra, persistiu o ambiente de conflito fundiário, envolvendo tanto invasores recentes vindos de outras regiões como as tensões em relação ao monocultivo de eucalipto que ocupa territórios tradicionais, havendo denúncias de ameaças da empresa Suzano contra a população. As retomadas quilombolas têm sido uma estratégia para retomar territórios e garantir a sobrevivência das famílias.
Mesa de conflitos
Diante dos diversos conflitos observados no campo capixaba, foi criada pelo governo do Estado em 2020 a Comissão Permanente de Conciliação e Acompanhamento dos Conflitos Fundiários no âmbito do Estado do Espírito Santo (CPCACF), que teve papel importante em 2021 na mediação dos conflitos. A sugestão de órgão foi para que a comissão fosse formalizada por meio de decreto. Porém, no final do ano, lideranças protestaram contra a suspensão da chamada mesa de conflitos por 120 dias por meio de portaria do governo estadual.
Jovens no campo
Em 2021, uma reportagem do Século Diário evidenciou também um movimento que vem ocorrendo nos últimos anos: jovens que venceram o êxodo rural e voltaram para o campo para viver e trabalhar em busca de uma vida mais digna e feliz.
Memória camponesa
Após suspensão diante da pandemia, o Seminário de Humanidades de Cotaxé realizou sua sétima edição no povoado de Ecoporanga que foi epicentro de algumas das mais importantes revoltas camponesas do Espírito Santo. Durante quatro dias de evento em Cotaxé, foram realizadas várias atividades relacionadas com a memória camponesa. Em janeiro de 2022, um grupo se comprometeu em ir ao local instalar uma placa em homenagem a essa memória.
Agricultura Urbana
Em relação à agricultura urbana, a questão vem ganhando visibilidade no Estado, principalmente a partir de ações da Rede Urbana Capixaba de Agroecologia (Ruca). Entre outras iniciativas, em 2021 esta rede apresentou resultados do seu mapeamento colaborativo identificando diversas experiências ligadas à agroecologia urbana no Espírito Santo.