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Apenas 16 municípios capixabas respeitam limites legais para água potável

Levantamento do Repórter Brasil e Agência Pública mostra que 47 têm água imprópria e 15 não informaram

Apenas 16 municípios capixabas (20,5%) comprovam oferecer à população uma água tratada que respeita os parâmetros de potabilidade estabelecidos na legislação brasileira, que, a propósito, é bastante permissiva, quando comparada à boa parte dos países europeus. 

A maior parte, 47 municípios (60%), informam entregar água com pelo menos um contaminante acima do limite legal. E outros 15 municípios simplesmente não informaram ou entregaram informações inconsistentes no Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano (Sisagua).

Os dados são resultado de um levantamento exclusivo feito pela Agência Pública e Repórter Brasil e constam na reportagem Água da torneira tem produtos químicos e radioativos em 763 cidades brasileiras, publicada nesta segunda-feira (7) como parte do projeto Por Trás do Alimento, que investiga o uso de agrotóxicos no Brasil. 

No mapa nacional, é possível conhecer todos os contaminantes detectados no período entre 2018 e 2020 em cada município do país, bem com saber quais não informaram os dados de suas análises ao Ministério da Saúde. O mapa divide as substâncias em dois grupos de periculosidade (que determina os tons de vermelho). Essa divisão foi feita pela Repórter Brasil com base nas classificações dadas a cada substância pelos órgãos reguladores mais reconhecidos do mundo, como a Organização Mundial da Saúde (OMS). 

Onze municípios capixabas estão com a pior classificação, em vermelho escuro, por terem apresentado “substâncias com os maiores riscos de gerar doenças crônicas, como câncer”. Entre eles, o mais populoso do Estado, Serra, na Grande Vitória, e Colatina, um dos mais populosos na região noroeste. 

Vermelho claro é a classificação de quase metade dos municípios e indica a presença de “outras substâncias que geram riscos à saúde”. São 36 cidades nessa situação, incluindo todos os outros três mais populosos da região metropolitana: Vila Velha, Cariacica, Vitória e Viana.

Os municípios que comprovaram respeitar a legislação brasileira são 16, sendo apenas um deles, Fundão, na região metropolitana. 

Outros 15 não informaram os dados necessários ao Sisagua, negligência que atingiu até municípios-polo no norte e sul do Estado, como Cachoeiro de Itapemirim, Linhares e São Mateus. (Veja classificação completa ao final da matéria).

Arsênio, mercúrio e cia.

Importante ressaltar que, mesmo em municípios que respeitam a legislação, há presença, ainda que dentro dos limites legais, de contaminantes. Em Fundão, por exemplo, foram detectados resíduos de substâncias com potencial de causar danos graves à saúde (vermelho), como Arsênio, Cádmio, Chumbo, Cromo e Selênio; além de substâncias que também geram riscos (amarelo), como Antimônio, Bário, Cobre e Mercúrio.

Impacto silencioso

Conforme destacou a reportagem da Agência Pública e Repórter Brasil, as substâncias monitoradas, quando estão acima do limite brasileiro, são comprovadamente prejudiciais à saúde. O consumo diário aumenta o risco de câncer, mutações genéticas, problemas hormonais, nos rins, fígado e no sistema nervoso – a depender do produto.

Durante o triênio 2018-2020, 763 cidades apresentaram presença irregular de algum contaminante. Substâncias químicas e radioativas foram encontradas acima do limite em um de cada quatro municípios que fizeram os testes, como São Paulo (13 testes acima do limite), Florianópolis (26) e Guarulhos (11).

Entre elas, 50 cidades estavam com pesticidas acima do limite, sendo que 19 dos pesticidas monitorados na água do Brasil são tão perigosos à saúde que foram proibidos na União Europeia. Cinco são “substâncias eternas”, tão resistentes que nunca se degradam.

Com impacto silencioso, esses produtos têm dinâmica diferente das contaminações por bactérias, que provocam dor de barriga, diarreia e até surtos de cólera. Os sintomas das substâncias químicas e radioativas podem levar anos, mas, quando aparecem, são na forma de doenças graves. Estudos que associam esses produtos ao câncer, mutações genéticas e diversos outros problemas de saúde são carimbados pelos mais respeitados órgãos de saúde, como a Organização Mundial da Saúde (OMS) e as agências regulatórias da União Europeia, Estados Unidos, Canadá e Austrália. 

O Mapa destaca o risco para a saúde e as atividades econômicas em que cada substância é utilizada. O nitrato, por exemplo, terceira que mais vezes excedeu o limite, é usado na fabricação de fertilizantes, conservantes de alimentos, explosivos e medicamentos. Ele é classificado como “provavelmente cancerígeno” pela OMS.

Ironicamente, ressalta a reportagem, as maiores responsáveis pelos problemas com a água no Brasil são substâncias geradas pelo próprio tratamento. Quando o cloro interage com elementos como algas, esgoto ou agrotóxicos, nascem os chamados “subprodutos da desinfecção”. Eles estão acima do limite em 493 cidades, 21% das que testaram.

A falta de transparência é tamanha que nem sempre os fiscais têm acesso aos dados. Em quase metade dos municípios (48%), as companhias de abastecimento não informaram resultados ao Sisagua. Isso é grave, já que é pelo Sisagua que as secretarias municipais ou estaduais de saúde monitoram a água.

Classificação dos municípios

Em vermelho escuro, estão 11 municípios capixabas: Águia Branca, Atílio Vivacqua, Baixo Guandu, Colatina, Domingos Martins, Guarapari, Marataízes, Nova Venécia, São Gabriel da Palha, Serra e Vila Valério. 

Em vermelho claro, o maior grupo, com 36 municípios, quase metade: Afonso Claudio, Água Doce do Norte, Anchieta, Alto Rio Novo, Aracruz, Barra de São Francisco, Boa Esperança, Conceição da Barra, Brejetuba, Cariacica, Castelo, Conceição do Castelo, Divino de São Lourenço, Dores do Rio Preto, Ecoporanga, Iúna, Laranja da Terra, Mantenópolis, Marechal Floriano, Montanha, Mucurici, Muqui, Nova Venécia, Pancas, Pedro Canário, Pinheiros, Ponto Belo, Presidente Kennedy, Santa Maria de Jetibá, Santa Teresa, São Roque do Canaã, São José do Calçado, Viana, Vila Pavão, Vila Velha e Vitória.

Os municípios que comprovaram respeitar a legislação brasileira são 16: Apiacá, Bom Jesus do Norte, Fundão, Guaçuí, Ibatiba, Itapemirim, Irupi, Marilândia, Mimoso do Sul, Muniz Freire, Piúma, Rio Bananal, Santa Leopoldina, Rio Novo do Sul, Vargem Alta e Venda Nova do Imigrante. 

Outros 15 não informaram os dados necessários ao Sisagua: Alegre, Alfredo Chaves, Cachoeiro de Itapemirim, Governador Lindenberg, Ibiraçu, Iconha, Itaguaçu, Itarana, Jaguaré, Jerônimo Monteiro, João Neiva, Linhares, São Domingos do Norte, São Mateus e Sooretama.

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