Os moradores do bairro Ulisses Guimarães, em Vila Velha, sofrem desde 2011 com a construção ilegal de um aterro em um córrego da região. Recheado de agressões ao meio ambiente e irregularidades de licenciamento, a obra foi alvo de diversas denúncias dos moradores, feitas em especial pelo líder comunitário José Geraldo Lazzarini (foto). A empresa responsável está registrada no nome de Dailton Perim.
Lazarini é coordenador do Fórum de Desenvolvimento Social e Econômico da Região 5 de Vila Velha, entidade fundada há 10 anos, responsável por discutir problemas dos 22 bairros e 13 comunidades rurais, como educação, segurança, saúde e o meio ambiente.
Anos depois, os moradores sofrem diretamente os resultados: com as fortes chuvas dos últimos dias, a maioria das casas do bairro foi completamente tomada pela água, acarretando em muitos prejuízos para os habitantes do local.
Isso aconteceu porque o antigo córrego era a única vazão da água no bairro. Agora, com ele aterrado, a água da chuva não tem para onde ir e, consequentemente, inunda as casas próximas ao local. Lazzarini conta que todos estão apreensivos quanto aos próximos dias e a previsão de continuidade das chuvas.
Segundo ele, os moradores perderam todos os móveis e eletrodomésticos que não conseguiram suspender em suas casas. Guarda-roupas e camas, por exemplo, foram muito afetados pelas águas das fortes chuvas.
O líder comunitário afirma que os moradores vão realizar reuniões para decidir quais providências serão tomadas. Eles querem que a empresa arque com os prejuízos proporcionados pela obra, e consideram inclusive a via judicial para isso.
Lazzarini conta que, desde 2011, quando os moradores começaram a se movimentar contra o aterro, já sabiam que a falta de vazão para as águas iria trazer prejuízos e inundações. “Nós já sabíamos que ia acontecer”, afirma. “Eles só pensaram no dinheiro deles mesmo, e não na comunidade”.
O córrego foi aterrado ilegalmente por uma empresa com licença apenas para atividade de pátio de estocagem, armazém ou depósito de material de construção. Com as denúncias feitas por Lazzarini, a obra foi embargada. Porém, de nada adiantou: o córrego já havia sido completamente aterrado.
Histórico
O caso é marcado pela omissão do poder público, mesmo com repetidos episódios de violência. A denúncia de um aterro ilegal feita por José Geraldo Lazarini virou caso de polícia em outubro de 2011, quando ele denunciou o aterro de um córrego pela empresa registrada no nome de Dailton Perim, de CNPJ 450141837-00, sem licença para realizar o aterro.
O Fórum Popular em Defesa de Vila Velha levanta a voz contra o poder público neste caso, alertando que nunca foi feita uma investigação sobre isso. Lazzarini está sob constante ameaça e entrou no Programa de Proteção do CDDH após sofrer diversos atentados. Segundo informações, alguns de seus “perseguidores” são ex-funcionários da obra embargada.
No ano seguinte à denúncia, uma série de atos violentos foi registrada: atiraram contra o líder comunitário; bombas de fabricação caseira foram lançadas contra o seu portão e pedras foram jogadas contra a sua moto, quando dirigia pelo bairro, e sua casa foi alvo de uma salva de tiros exatamente quando estava sendo realizada no local uma reunião entre a comunidade para debater o dano ambiental da obra de aterro.
Certa noite, Lazzarini acordou com sua casa sendo apedrejada e, assustado, disparou com uma arma de fogo para cima, na tentativa de espantar os agressores. Na ocasião, Lazzarini foi preso, sendo solto 28 dias depois. Além disso, a fiação elétrica de sua casa já foi roubada.
O último dos atentados aconteceu em janeiro deste ano: tiros foram disparados na direção de Lazzarini e sua mulher, quando estavam no quintal de sua casa. Um deles, segundo o líder comunitário, passou perto da cabeça de sua mulher. Os tiros teriam sido disparados por dois adolescentes, que fugiram após o feito.
Pouco depois, no entanto, Lazzarini teria visto os mesmos adolescentes no entorno de sua casa. Recomendado pelo Centro de Defesa dos Direitos Humanos de Vila Velha (CDDH-VV), o morador registrou o ocorrido na polícia.