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Aracruz Celulose insentifica violência contra quilombolas dentro do território reconhecido

O emprego de violência é a marca registrada da forma com que a Aracruz Celulose (Fibria) sempre lidou com as comunidades quilombolas – e também indígenas – do norte e noroeste do Estado. Há quase meio século, ela roubou os territórios desses povos tradicionais e exterminou a Mata Atlântica para plantar seus soldados estrangeiros do deserto verde. O resultado é que hoje cerca de 250 mil hectares são ocupados com a monocultura de eucalipto, seja por ação da Aracruz o da Suzano.

Desertificação estabelecida, crise hídrica cada vez mais acentuada, a violência continua. Após uma ampla mobilização de antropólogos e ativistas dos direitos dos quilombolas, várias comunidades tiveram seu território reconhecido pelo governo e aguardam titulação. Mesmo assim, a empresa continua utilizando da violência e do apoio da Polícia Militar para oprimir e criminalizar as lideranças quilombolas.

Desta vez, as vítimas diretas foram o agricultor Antonio Rodrigues de Oliveira, da comunidade de Linharinho, e o contra-guia do Ticumbi – manifestação folclórica mais emblemática de Conceição da Barra e uma das mais importantes do Estado – Berto Florentino, de São Domingos. Ambos estão sendo ameaçados pela Polícia Militar de terem suas roças – de pimenta-do-reino e abóbora, respectivamente – destruídas para o plantio de eucalipto.

Antonio foi abordado no domingo (11) pela empresa de segurança patrimonial da Aracruz Celulose, que depois trouxe a Polícia Ambiental. O motivo foi o corte de acácia, para servir de apoio aos pés de pimenta-do-reino. A ideia é, em seguida à retirada das acácias, espécie invasora, proceder um reflorestamento com espécies nativas e frutíferas. Quinhentas mudas já foram disponibilizadas, na forma de permuta, com um produtor de Nova Venécia.

Na comunidade de Antonio, passa o Córrego do Caboclo, um dos poucos que sobreviveu na região, devido aos cuidados que os moradores têm dispensado às nascentes. E mesmo nos arredores do Caboclo, muitos poços já não têm água. “Mais de mil nascentes secaram no nosso território”, denuncia Antonio.

No domingo, Antonio foi levado pela Polícia Ambiental até a delegacia de São Mateus. Mas antes, conseguiu levar os policiais até uma área, próxima de onde ele retirou as invasoras acácias, onde a Fibria desmatou toda a mata ciliar (Área de Preservação Permanente – APP). “Passaram com máquina e desmataram tudo”, relatou. Antonio conta que o sargento constatou o crime ambiental da empresa e após prestar seu depoimento na delegacia, assinou um termo circunstancial, que ele não soube explicar do que se trata.

Dois dias depois, novamente a empresa o coagiu, desta vez com apoio da Polícia Militar. “Não entendo, a acácia é uma vilã e eu estou dentro do meu território. Mas o comandante me tratou de forma agressiva, disse que ia mandar a empresa passar em cima da madeira”, desabafa.

Respeito sim, medo não

Levado para a Delegacia de Conceição da Barra, mais depoimento e mais papeis assinados sem conhecimento do conteúdo e objetivo. “Na visão deles, a empresa é dona da terra, não vê que é área devoluta. A empresa faz com que a polícia me veja como um criminoso”, denuncia Antonio.

“Minha dó é passar por cima da minha biodiversidade, que eu estou recuperando lá, é a empresa ir lá com a máquina e moer tudo”, clama. “A empresa é bilionária é está tirando alimento da minha casa. Eu estou aqui pra defender a Agroecologia. São Mateus está bebendo água salgada há seis meses, porque as nascentes estão secas, a água não chega no rio, o mar invade”, explica.

Em São Domingos, a violência aconteceu nesta quinta-feira (15), também através da segurança patrimonial e da Polícia Militar. A ameaça é de destruir a plantação de abóboras com trator. Duas viaturas já foram ao local e os policiais chegaram a disparar tiros para o alto.

“Dissemos que não era pra fazer. O único córrego que tem água por aqui é o que eu cuido, que não deixei plantar eucalipto”, defende Berto. “Não estamos deixando plantar. Se plantar nós vamos arrancar o eucalipto todo”, avisa.

Em ambas as comunidades, os líderes ameaçados estão se mobilizando para acionar o Ministério Público Federal. “Eles vêm pra amedrontar a gente. Eu respeito a autoridade, mas medo eu não tenho, não”, declara o velho Berto, guardião da cultura popular há 45 anos, ajudando a manter vivo o Ticumbi de São Benedito.

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