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Arena itinerante reúne relatos de perseguidos pela Samarco/Vale-BHP

Processos na Justiça, perseguição da polícia, abandono. A lista de omissões e abusos da Samarco/Vale-BHP contra a população atingida por seu crime socioambiental do dia cinco de novembro do ano passado está sendo recontada por moradores de sete comunidades visitadas pela Arena Itinerante, uma atividade de greve realizada de 16 a 19 de novembro por professores e pesquisadores do Organon – Núcleo de Estudos, Pesquisa e Extensão em Mobilizações Sociais da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).

A data de início da Arena marca a chegada da lama no Espírito Santo e é em Mascarenhas/Baixo Guandu que o Organon iniciou as atividades. Nessa quinta-feira (17), as audições foram em Itapina e Maria Ortiz, em Colatina. Nesta sexta-feira (18), foi a vez de Linhares, no assentamento Sezínio e em Povoação. E, no sábado, a última parada prevista é em Barra do Riacho/Aracruz.

Os pesquisadores explicam que a Arena faz parte de um processo de formação de defensores populares da participação e de direitos e tem como objetivo discutir os desafios dos atingidos na construção da mobilização e no acesso à Justiça. A expectativa é formar três tipos de agentes na defesa de direitos: assessores jurídicos populares, advogados populares e defensores populares.

Em Mascarenhas, a moradora Anataly Rodrigues Barros relatou a perseguição que vem sofrendo depois que participou de uma manifestação de fechamento dos trilhos da ferrovia da Vale. Processada pela empresa, ela diz estar sendo perseguida por policiais à paisana. “Em frente à minha casa, à casa da minha sogra, me ameaçando. Toda vez que eu participo de uma reunião, tem um policial à paisana me esperando, me vigiando e amedrontando, de cara feia, às vezes anda me perseguindo num lugar reto, e assim eu 'tô' vivendo”.

Anataly conta que tem conhecimento de um número entre 11 e 21 pessoas sendo processadas pela empresa. E pelo menos uma delas sequer participou das manifestações. Uma senhora de 65 anos, muito respeitada na comunidade, apenas deu entrevista a um jornal e foi processada.

O fato é que depois das manifestações, alguns atingidos receberam o cartão de auxílio mensal, mas ainda restam 119 sem qualquer reconhecimento. No seu caso, um agravante é sua condição de saúde. Na falta de dois órgãos vitais em seu corpo, a necessidade de água de qualidade é ainda maior.  “Preciso de uma água mineral e eles não me dão. Preciso do cartão auxilio”, reclama.

No grupo dos não atendidos, Anataly conta que a maioria não tem estudo. “Como vão trabalhar? Pega um pescador de 75 anos, que não tem nenhum estudo, não tem nada, como vai trabalhar?”, questiona.

A pressão feita pela empresa contra os atingidos que se manifestam está começando a atingir a força da mobilização popular. “Estremeceu, pela agressividade da polícia. Porque ninguém nunca tinha visto uma ação tão covarde como daquela vez”. “Não pode mais reunir nem na praça!”, revolta-se.

Os grupos que colaboram na organização e realização da Arena do Organon são: Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Fórum Capixaba em Defesa do Rio Doce, Diocese de Colatina, Gesta/UFMG, Gepsa/UFOP, GEPPEDES/Ufes, Coletivo Margarida Alves, ONG Justiça Global, Movimentos pela Soberania Popular na Mineração (MAM), Fórum de Defesa do Rio Doce do Norte da Foz, Fórum de Defesa do Rio Doce de Colatina, Movimento dos Pequenos Agricultores do ES (MPA/ES), Assentamento Sezínio/MST, Paróquia de São Pedro Apóstolo, Brigadas Populares, Cine Clube Ecossocial, Juntos SOS ES Ambiental, Pró-reitoria de Extensão da Ufes e Defensoria Pública do Espírito Santo.

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