Pescadores pedem socorro: comportas que levam água até a fábrica fecham a barra do rio Riacho e o acesso ao mar
As condicionantes sociais e ambientais referentes ao licenciamento das atividades da fábrica de celulose da Suzano (ex-Fibria e ex-Aracruz Celulose) em Aracruz, norte do Estado, precisam ser atualizadas e adequadas à realidade do território onde ela está instalada. O alerta é feito por pescadores da Barra do Riacho, principal localidade do município afetada pelas atividades da multinacional, com apoio do Sindicato dos Pescadores e Marisqueiros do Espírito Santo (Sindpesmes) e do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB).
“Nós, pescadores e ribeirinhos, sabemos a necessidade do rio. Muitas pessoas veem só a beleza, mas a gente sabe a necessidade. Nós temos um grupo de pescadores voltado para cuidar do rio Riacho, fazemos formações de ecoagentes ambientais, nós abraçamos a causa de cuidar desse rio. Ele é a única passagem que a gente tem para ter acesso ao mar. Mas às vezes não tem como entrar na boca da barra, quando a empresa fecha três comportas da represa, como está fazendo agora”, relata o pescador Alexandre Barbosa, após protesto realizado nesta terça-feira (7) em frente à represa da Suzano no rio Riacho.
“O ato foi um pedido de socorro. Há muito tempo que isso acontece, a gente não aguenta mais. Não tem outra coisa para fazer agora que não pedir esse socorro”, ressalta.
Alexandre explica que o impacto da represa é ainda maior nos períodos de seca, como agora. O inverno, para os pescadores, começa em maio, quando o vento sul começa a soprar. Nesses dias de tempo instável, não é possível sair para o mar para pescar. Porém, nos dias de tempo propício, muitas vezes, a Suzano fecha as comportas da represa, causando assoreamento do rio Riacho, chegando a fechar a boca da barra e o acesso ao mar.
“Quem determina é a natureza, com tempo ruim não pode pescar. A gente acaba perdendo dias importantes de trabalho. Isso mexe no bolso de todo mundo, do pescador, da fábrica de gelo, do mercado…nós trabalhamos numa cadeia [produtiva] que leva alimento para as pessoas. E que sustenta a tradição da moqueca capixaba”, afirma.
Pescador há mais de trinta anos, membro das associações de Pescadores e de Moradores de Barra do Riacho, do Sindpesmes e suplente no Conselho Municipal de Saúde de Aracruz, Alexandre entende a necessidade de envolver instituições de justiça no pleito da categoria. No ato desta terça-feira, ele conta a importância da participação da Defensoria Pública, que pôde ver a situação da barra do rio Riacho em decorrência do fechamento das comportas e se comprometeu a realizar estudos jurídicos que apontem soluções para o problema socioambiental instalado juntamente com as atividades da empresa na região.
“A gente não quer problema com a Suzano. Ela é uma multinacional, muito grande! Mas a gente quer que ela trabalhe reparando os danos à altura. Tivemos reunião com a Defensoria Pública e eles disseram que precisa rever algumas condicionantes, feitas há quinze ou vinte anos, que podem não atender mais às necessidades da população”, conta.
“Ela usufrui da nossa água o tempo todo. Quando fecha as comportas, a água vai para as bombas para jogar no armazenamento deles, para não parar a produção, que funciona dia e noite. Ela tira água do nosso rio, limpa e saudável, que entra nas caldeiras para cozinhar a madeira. Para ela ficar branquinha, a celulose, tem que colocar muita soda, ácidos, muitos produtos químicos, que eu nem sei quais são. Daí eles jogam essa água numa estação de tratamento. As duas coisas que tocam essa fábrica é água e celulose. Sabem onde jogam essa água depois do tratamento? Num emissário submarino um quilômetro mar adentro. Mas a gente não sabe as condições dessa água [efluente industrial]. A gente só sabe que quando ela cai no mar, sente um odor muito forte, é uma água mais quente”, descreve.
“Não entendemos porque eles gastam milhões nesse tratamento e jogam essa água fora em vez de reaproveitar ou voltar com ela para o próprio rio. Será que o tratamento que eles fazem é suficiente?”, pergunta.
Após o protesto, a situação continua a mesma nesta quarta-feira (8). “Ontem e hoje os barcos estão presos dentro do rio sem poder sair para o mar para pescar. E tem um lá fora que não consegue entrar e descarregar. A gente tem que ficar procurando alternativa, através do Portocel, com coisas que a gente não quer fazer, mas é obrigado”, reforça.
O pedido de socorro, sublinha, é por soluções e diálogo. “Tem que ter transparência, eles não explicam nada para a gente. E sem não tem transparência, causa dúvida”, posiciona.