“Tiro por mim”, continua: “Passei minha infância descalço, no porto, catando goiamum”, recorda. “As crianças sentem falta, não entendem. Olham o mar, quando muda o vento, e falam: ‘Tá verde, mãe, posso ir’. E a mãe responde: ‘Não, filho, ainda tá poluído, não pode’”, conta o guia turístico e surfista, reproduzindo um diálogo cotidiano na vila de Regência Augusta, na foz do Rio Doce, a primeira comunidade litorânea a receber a lama de rejeitos da Samarco/Vale-BHP.
Renato tem utilizado seu drone – veículo aéreo não tripulado e controlado remotamente, entre outras coisas, para captação de imagens aéreas – para monitorar a contínua descarga de lama, que continua chegando ao mar de Regência e de outras comunidades costeiras ao norte e ao sul da foz do Rio Doce. “Mostrar a total realidade”, enfatiza.
“Esse fim de semana foi o caos”, reclama. Indignado, editou um vídeo (abaixo) com imagens feitas na última segunda-feira (3), ao som da música Cacimba de Mágoa, do músico Gabriel O Pensador e a banda Falamansa.
“Só piora”, sentencia. “A gente queria um laudo de balneabilidade, dos peixes. Escutar eu não quero mais, quero soluções”, exige.
Renato observa que, um ano e meio depois do maior crime socioambiental do país, as pessoas estão cada vez mais tristes, desesperançadas, “desanimando até de sair de casa”. “Falta turista, falta trabalho, falta água, falta peixe. Queremos trazer de volta o que Regência era antes. A nossa cultura está morrendo, as crianças não querem mais participar do congo, do teatro, da biblioteca”, clama.