sábado, novembro 16, 2024
22.9 C
Vitória
sábado, novembro 16, 2024
sábado, novembro 16, 2024

Leia Também:

‘As crianças sofrem mais’

“As crianças sofrem mais. Elas não têm preparo psicológico pra entender. Elas tinham autonomia pra ir na praia, no rio, pra subir nas árvores, comer frutas, na beira do rio. Hoje as famílias não deixam, têm medo do contato com a água”, relata Renato Oliveira, guia turístico nativo de Regência, em Linhares (norte do Estado), e também facilitador de projetos sociais de surf com as crianças da vila.

“Tiro por mim”, continua: “Passei minha infância descalço, no porto, catando goiamum”, recorda. “As crianças sentem falta, não entendem. Olham o mar, quando muda o vento, e falam: ‘Tá verde, mãe, posso ir’. E a mãe responde: ‘Não, filho, ainda tá poluído, não pode’”, conta o guia turístico e surfista, reproduzindo um diálogo cotidiano na vila de Regência Augusta, na foz do Rio Doce, a primeira comunidade litorânea a receber a lama de rejeitos da Samarco/Vale-BHP.

Renato tem utilizado seu drone – veículo aéreo não tripulado e controlado remotamente, entre outras coisas, para captação de imagens aéreas – para monitorar a contínua descarga de lama, que continua chegando ao mar de Regência e de outras comunidades costeiras ao norte e ao sul da foz do Rio Doce. “Mostrar a total realidade”, enfatiza.

“Esse fim de semana foi o caos”, reclama. Indignado, editou um vídeo (abaixo) com imagens feitas na última segunda-feira (3), ao som da música Cacimba de Mágoa, do músico Gabriel O Pensador e a banda Falamansa. 

“Só piora”, sentencia. “A gente queria um laudo de balneabilidade, dos peixes. Escutar eu não quero mais, quero soluções”, exige.

Renato observa que, um ano e meio depois do maior crime socioambiental do país, as pessoas estão cada vez mais tristes, desesperançadas, “desanimando até de sair de casa”. “Falta turista, falta trabalho, falta água, falta peixe. Queremos trazer de volta o que Regência era antes. A nossa cultura está morrendo, as crianças não querem mais participar do congo, do teatro, da biblioteca”, clama. 

Mais Lidas