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Associações de catadores provam que podem assumir coleta seletiva

Em meio à greve de motoristas, elas afirmam ter resultados melhores que as empresas com grandes contratos com prefeituras

Diante da greve de motoristas do transporte de lixo, desde segunda-feira (23), as associações de catadores conseguiram com a Prefeitura Municipal de Vitória (PMV) a permissão para recolher com seus próprios veículos a coletiva seletiva, no qual os materiais recicláveis são separados previamente pelos moradores. Assim evitaram o risco de que várias famílias perdessem renda diante da paralisação, já que dependem da coleta.

Segundo Ana Lúcia Oliveira dos Santos, vice-presidente da Associação dos Catadores de Materiais Reciclados da Ilha de Vitória (Amariv), o resultado tem sido muito bom, pois, apesar de terem bem menos estruturas de transporte, estão conseguindo mais volume do que quando recebem material das empresas que têm contrato com a prefeitura.

A questão joga luz a uma demanda antiga dos catadores, que afirmam que teriam condições de assumir a parte referente à coleta seletiva, o que permitiria dominar o ciclo desde a coleta até a separação dos materiais, que depois é vendida para empresas de reciclagem.

Ana explica que hoje o sistema está na mão de grandes empresas, que possuem contratos para a coleta convencional e seletiva, sendo esta muito mais ecologicamente correta. Se o contrato da coleta seletiva passasse para as associações, com o devido pagamento pelo serviço, ela vislumbra a possibilidade de melhorar a renda e aumentar o número de associados numa categoria que faz um trabalho digno e importante para a sociedade, embora com pouca renda e reconhecimento social.

“Tenho mais de 30 anos com coleta, criei meus filhos com o material que catava na rua puxando carrinho e hoje estão dentro da associação. Muitas pessoas precisam desse trabalho, tem pessoas que chegaram morando na rua, outros dependentes de drogas, sem expectativa de vida, que conseguiram emprego. Hoje tem jovens que estão estudando e trabalhando aqui enquanto não têm outra oportunidade”, diz. Junto à sede da associação funciona um centro de Educação de Jovens e Adultos, na qual estudam nove associados. Outros estudam outros cursos e recebem liberação do trabalho no horário de aula.

“Podemos dar condições de vida melhores para catadores, muitos recebem entre R$ 400 e R$ 500 por mês do trabalho, sem ter outra fonte de renda. Entre as famílias que atuam nas associações em Vitória, são cerca de 60 crianças que dependem deste trabalho de seus pais”, explica Ana Lúcia. Com o que recebem da prefeitura pelo serviço atualmente prestado, a Amarvi, por exemplo, mal consegue pagar as contas de manutenção , incluindo a previdência dos associados para terem segurança caso ocorra algum problema.

Ana Lúcia cita cidades como Belo Horizonte (MG) e até municípios no Espírito Santo em que os catadores estão assumindo a tarefa da coleta, o que eles costumam fazer incluindo campanhas educativas. Junto com a Associação de Catadores de Material Reciclável de Vitória (Ascamare) e Associação de Catadores de Materiais Recicláveis do Município de Vitória (Amarv), a Amariv participa da campanha Catadores são Educadores, que busca conscientizar sobre a importância do descarte correto dos resíduos.

“A gente tem catadores aqui dentro qualificados para ir em condomínios fazer palestras e reuniões para explicar o funcionamento da coleta seletiva. Quando os moradores sabem que a gente vai coletar, já tem um carinho imenso, faz a separação, quando fala que é a prefeitura geralmente veem como mais um serviço, não veem o catador na outra ponta”. Com esse trabalho educativo e direto com as comunidades e condomínios, a dirigente da Amariv explica que o resultado também é bem melhor: geralmente mais de 90% da coleta é reaproveitável, enquanto o material entregue pelas empresas contratadas pela prefeitura tem cerca de 30% de rejeitos incorretamente destinados, não recicláveis e que podem até contaminar e fazer necessário desfazer de todo um lote de coleta.

É preciso repensar muitos pontos. Desde a forma e intensidade com que se gera resíduos na sociedade, até as estruturas utilizadas e as destinações finais dadas a eles. Nesse sentido, ouvir os catadores e reforçar as parcerias podem trazer boas respostas.

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