Com este caso, os registros de baleias jubartes mortas durante a temporada de migração deste ano, somente no Espírito Santo, chegam a 13, número considerado excessivamente alto para a época, ainda a metade da temporada. A última vez em que os óbitos foram tão altos, em 2010, os especialistas chegaram à conclusão, após três anos de estudos, que o motivo foi déficit nutricional, em função das mudanças climáticas.
Este ano, por ora, ainda é cedo para encontrar uma resposta. Até porque, um dos motivos para os elevados números pode estar na grande quantidade de frentes frias deste inverno, com muito vento sul e mar de viração (ressaca), que pode estar simplesmente trazendo mais carcaças do alto mar para a costa. “Essa dúvida ainda vai levar um bom tempo para se esclarecer”, admite Lupércio Araújo, presidente do Instituto Orca, especializado na pesquisa e conservação de animais marinhos.
Dos treze registros desse ano nas praias capixabas, este é o segundo ou terceiro subadulto (um terceiro corpo já estava em avançado estado de decomposição, impossibilitando ter certeza), o que chama atenção, pois nessa idade, a jubarte está no auge de sua saúde, com muita condição de resistência. Se ela chega debilitada na praia, é porque está com algum problema sério de saúde. E se não há sinais de causa externa, como enroscamento em rede de pesca ou abalroamento (“atropelamento” por embarcação), as causas internas podem ser patologias por vírus, déficit nutricional ou de imunidade.
Essa última é a explicação mais provável para os três subadultos, incluindo o desta sexta-feira. “Havia uma carga muito grande de parasitas, muitos piolhos de baleia, muito além do normal”, informa o pesquisador.
Lupércio explica que os parasitas se proliferam quando a baleia está enfraquecida e, em seguida, a enfraquecem mais ainda, pois sugam seus nutrientes. Quando elas então não conseguem mais nadar ou respirar adequadamente, procuram um lugar para encalhar, para conseguir ficar com o orifício de respiração para fora da água – um local mais raso, como um banco de areia, uma ilha, ou uma praia.
O problema é que, na praia, elas encalham de verdade e lutam para sair daquela condição, pois a arrebentação não é segura pra elas, nem a presença das pessoas, ou o sol, enfim, elas se esforçam pra voltar para o mar.
O trabalho das equipes de atendimento geralmente consiste em ajudá-las no desencalhe, mesmo sabendo que, logo mais, ela voltará a mesma praia ou a outra praia próxima, quando vêm a óbito. “Jubarte quando chega na costa, dificilmente sobrevive”, lamenta o presidente do Orca. “Elas são diferentes das baleias franca, que, normalmente, se aproximam bastante. Encontrar uma jubarte a menos de cinco milhas da costa é sinal de problema”, esclarece.
Infelizmente, tratar um animal desse porte, numa praia, o que seria o ideal para salvar-lhe a vida, é algo ainda inédito. “Ninguém ainda faz isso no mundo”, conta Lupércio, devido aos elevados custos dos medicamentos e máquinas e periculosidade de manuseio.
O subadulto de Urussuquara foi alvo de necropsia, quando tecidos são retirados para análises sobre condições de nutrição, parasitas internos, patologias, metais pesados, inseticidas e vírus. Os resultados devem demorar a sair, pois estudos de baleia no Brasil ainda dependem de doações e parcerias com universidades. “Faltam recursos para pesquisas”, reclama o especialista.