O projeto é uma parceria da COC/Fiocruz, TV Brasil/EBC e Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Todos os episódios da série são narrados como um diário de bordo. As imagens são em alta definição e contam com trilha sonora original, além de desenhos e mapas em computação gráfica.
O objetivo é “promover a popularização do conhecimento científico sobre a biodiversidade” e enfatizar “a relação entre o meio ambiente, a saúde e a qualidade de vida das pessoas”, noticia a Fiocruz.
Sim, meio ambiente, saúde e qualidade de vida – três aspectos indissociáveis, mas ainda insuficientemente enfatizados na maioria das produções audiovisuais ditas ambientais. “A Fiocruz trabalha com um conceito ampliado de saúde que surgiu na 8ª Conferência Nacional de Saúde em 1986”, ressalta Luciana, explicando que esse “conceito de saúde como qualidade de vida inclui acesso a serviços de saúde, alimentação, habitação, educação, renda, trabalho, transporte, emprego, lazer, liberdade e, também, meio ambiente, com todas as suas inter-relações, como condições necessárias para se garantir a saúde da população”.
Mestre em Ciência Ambiental e Doutora em Artes Visuais, Luciana Alvarenga declara sua satisfação em integrar o projeto. “É impossível conhecer a nossa biodiversidade e não ficar fascinado. Aos poucos a gente vai percebendo não só a riqueza e a variedade, mas também vai descobrindo as peculiaridades de cada espécie”, conta, extasiada, sobre o privilégio de registrar a trazer a público os encantos do país com uma das maiores biodiversidades do mundo.
“Os brasileiros não conhecem a biodiversidade que existe em nosso país, não sabem de onde vem a água que bebem, nem vários outros serviços ecossistêmicos que essas áreas garantem para as pessoas agora e no futuro”, ressalta.
Nessa primeira temporada, a equipe já percorreu 40 mil quilômetros, em oito estados – Rio de Janeiro, Espírito Santo, Bahia, São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Goiás – registrando as belezas e ameaças em 16 unidades de conservação federais, entre elas, a Reserva Biológica (Rebio) de Sooretama, no norte do Espírito Santo.
Concentração fundiária insustentável
“Nessas viagens ficou muito claro que o problema no Brasil é uma política de uso da terra que concentra vastas áreas nas mãos de poucos”, comenta Luciana. “Atravessando o Centro-Oeste você observa muito claramente essa realidade. Rodamos centenas de quilômetros no meio de imensas plantações rodeados por carretas de grãos. E são plantações que mais parecem pátios de fábrica do que outra coisa”, relata.
O primeiro episódio é o Parque Nacional das Emas, em Goiás, região onde o agronegócio de commodities para exportação está destruindo o Cerrado, aniquilando uma biodiversidade incrível e reservas de água doce imprescindíveis para a segurança hídrica brasileira.
Na Rebio Sooretama – que protege, junto com a Reserva Natural Vale, a maior área de Mata Atlântica de Tabuleiro do país –, episódio que irá ao ar em breve, a crítica situação hídrica também será enfatizada, adianta a bióloga. “O Espírito Santo é um estado pequeno onde a agricultura e a silvicultura ocupam uma boa parcela do seu território. Existem poucas unidades de conservação e a maioria delas possui uma área pequena”, observa.
“O Espírito Santo protege pouco a sua biodiversidade”, constata. “Ainda assim, nós temos aqui espécies que em outros lugares já foram extintas, como a onça-pintada. A Rebio Sooretama, por exemplo, é Patrimônio Natural da Humanidade e às vezes parece que isso não é valorizado como deveria”, diz.
Infelizmente, expõe Luciana, “não existe uma única unidade de conservação do país que não esteja sob alguma pressão ou ameaça”. “A caça, praticada por pessoas de diferentes classes sociais, está lentamente transformando as nossas florestas em áreas vazias de fauna de médio e grande porte. As estradas, a destruição e fragmentação destas áreas, o tráfico de animais silvestres, a poluição, o uso de agroquímicos, a superexploração da água doce, a sobrepesca e tantas outras pressões ou ameaças criam um quadro bastante ruim da nossa sociedade em termos de relação com o mundo natural”, conta.
Por outro lado, afima, “a existência dessas unidades de conservação nos mostra que é possível reverter ou minimizar a perda das áreas naturais e da biodiversidade e respeitar as outras formas de vidas”.