MST celebra 37 anos no Estado e, refletindo polarização nacional, apoia Casagrande para avançar em justiça fundiária
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), um dos maiores movimentos sociais do mundo, celebra 37 anos de atividades no Espírito Santo nesta quinta-feira (37), com uma programação no assentamento 27 de Outubro, em Nestor Gomes, São Mateus, norte do Estado.
O assentamento foi criado sobre a primeira terra improdutiva ocupada pelo MST no Estado, em 1985. Neste aniversário, a entidade reunirá comunidades religiosas, movimentos sociais que apoiam a luta pela terra, políticos e, claro, as famílias há 40 décadas beneficiadas por uma das políticas públicas mais estruturantes de uma sociedade mais justa e sustentável.
A programação terá início com uma carreata da comunidade de Nestor Gomes até o assentamento. No local, os participantes serão recebidos por uma mística preparada pela Escola Vale da Vitória, seguida de Santa Missa celebrada pelo Padre Maicon e o Frei Michel de Ecoporanga, de almoço comunitário e de uma roda de conversa, com discussão sobre conjuntura política atual. O encerramento será com shows musicais.
“Nos orgulha esses 37 anos de luta. São mais de 90 assentamentos no Espírito Santo, mais de 60 coordenados pelo MST. Uma parte criada pelo governo do Estado, outra pelo federal”, exalta Carolino da Silva, membro da direção nacional do MST no Estado, citando, para além dos territórios conquistados, o crescimento da Pedagogia do MST, instalada nas escolas dos assentamentos, além da farta produção de alimentos saudáveis, café e pimenta-do-reino realizadas pelos agricultores familiares e suas cooperativas, a exemplo da gaúcha, considerada o maior produtor de arroz orgânico do Brasil.
“O Bolsonaro achou que ia acabar com o MST, mas a nossa história é mais forte. Vamos comemorar 40 anos em breve e com mais conquistas”, profetiza.
Refletindo a polarização política nacional, o dirigente afirma que, em âmbito estadual, a expectativa é pela reeleição de Renato Casagrande (PSB). “Não podemos retroceder a momentos obscuros que tivemos nos anos 1980-1990, com um grupo que levou o Estado a uma situação de desequilíbrio, onde o crime organizado estava entranhado. A sociedade foi capaz de se levantar e hoje a gente tem um Estado livre, pelo menos as instituições a gente tem muito mais confiança do que naquele período. O MST tem essa clareza, porque nós também sofremos com esse processo”, pondera.
Dessa época, lembra, foi marcante a atuação da UDR e suas “pistolagens”, que perseguiam lideranças políticas e sindicais. “Valdício Barbosa, em Pedro Canário; Francisco Domingos Ramos, em Pancas; Severino Sossai, em Montanha; Saturnino Ribeiro, em Mucurici”, elenca Carolino, listando sindicalistas capixabas assassinatos por esses grupos entre os anos 1980 e 1990.
“Sindicalistas que faziam a luta, organizavam o povo assalariado rural. O MST foi forjado nesse processo, nas comunidades eclesiais de base, no movimento sindical, nas pastorais da Igreja Católica. Muitas reuniões aconteciam nas sedes desses sindicatos, mas depois tivemos que ir para outros lugares, por causa da perseguição”, relata.
O governo atual de Casagrande, afirma, representa a continuidade de um diálogo que possa retomar o avanço da reforma agrária no Estado. “Nós vivemos esses quatro anos no Espírito Santo de não avanço da reforma agrária. Já são mais de dez anos sem um assentamento, temos acampamento com oito anos e famílias há mais de dez anos acampadas. Mas nós conseguimos dialogar com o governo de Casagrande, a partir da Mesa de Resolução de Conflitos, em relação aos despejos. Não sofremos despejos“, conta.
A eleição de Jair Bolsonaro (PL), afirma, foi decisiva para estagnar a reforma agrária, que já vinha sendo reduzida desde o segundo mandato de Dilma Roussef (PT), por conta de articulações para retirá-la do poder. Nesse contexto, o MST dedicou esforços para que ao menos o governo do Estado pudesse avançar na titulação das áreas devolutas. “Como Gerson Camata fez nos anos 1980/1990, que criou mais de 20 assentamentos no Estado, tendo Casagrande como secretário de Agricultura. Eram terras negociadas. A gente negociava com os fazendeiros e o governo criava”, explica Carolino.
A decepção com essa esperança cultivada a partir de 2019, no entanto, não muda a polarização brutal do momento. “Não podemos dizer que não fomos recebidos por ele. Em 2019, a gente montou uma metodologia para discutir a pauta da terra no Estado. Mas em 2020 e 2021, vivemos a pandemia. Em 2022, fomos recebidos para três audiências com Renato. Temos um processo em curso sobre a pauta da terra, com as terras patrimoniais e possibilidade de permuta de algumas áreas. Na conjuntura eleitoral hoje, a reeleição de Renato seria oportunidade de continuar em prática esse trabalho”.
Já o adversário, Carlos Manato (PL), compara, “seria retroceder, como aconteceu no governo federal, com o desmonte do Incra [Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária]. Não há mais Incra no Estado, não há verba para vistoria de terras improdutivas”, exemplifica.
Mas acima de tudo, conclama, o momento é de reorganizar a luta das massas. “Todo governo é assim: depende da força política das massas, das classes. A gente precisa retomar a luta da classe trabalhadora, tanto no campo quanto na cidade. O próprio Lula, se não tiver mobilização de rua, nós não vamos ter conquistas. Porque a estrutura do Estado funciona na pressão. Precisamos ter luta, gente nas mesas de negociação e também nas ruas”.