Trata-se de um protesto lúdico contra a incoerência governamental de ser condescendente com a poluição do ar provocada pelas indústrias instaladas na Ponta de Tubarão – Vale e ArcelorMittal –, que atinge a toda a população de forma involuntária, ao mesmo tempo que é rigoroso no combate ao tabagismo, também uma questão de saúde pública, porém, de caráter mais privado.
“Os governos investem agressivamente contra o tabagismo, vício sabidamente prejudicial à saúde, entretanto, opcional e particular; mas são condescendentes com a poluição que é pública e prejudica a saúde de nós todos, pois não temos como evitá-la, nem existe tratamento para alguns de seus males, entre eles, a silicossiderose, além de causar mais despesas para o Sistema Único de Saúde (SUS)”, comenta o pintor Kleber Galvêas, organizador do evento.
O vencedor ganhará um fim de semana, com direito a acompanhante, no Hotel Pousada Eco da Floresta, em Pedra Azul, Domingos Martins, “respirando o ar puro das montanhas”, convida o artista-ativista. Além de uma tela com tema de natureza, pintada por ele, e uma compota de jenipapo, “fruta muito usada no tratamento de bronquite e excelente tônico para os pulmões”, explica.
Os competidores receberão três guimbas virgens de cigarro, fornecidas pelo Ateliê, para lançarem em direção a quatro miniaturas de chaminés, simbolizando as indústrias da Ponta de Tubarão, localizadas a três metros de distância. Sairá vencedor quem obtiver o maior número de acertos.
Na divulgação do evento, Kleber reproduz um trecho do livro Identidade Capixaba, de 2001, que conta a milenar convivência do ser humano com a fumaça – anterior ao surgimento do Homo sapiens – oriunda da queima de diversos materiais e o ineditismo atual, da ingestão de ferro e outros poluentes industriais, com consequências que ainda desconhecemos.
“Não se encontram fósseis de humanos nos longos períodos glaciais, o que nos leva a crer que o número de indivíduos diminuía muito durante os anos em que o gelo se espalhava pela terra e a convivência com a fumaça era contínua. Durante as glaciações, só sobreviveram e se reproduziram aqueles que usando o fogo para se aquecer, suportaram a fumaça o dia todo em abrigos pouco ventilados. Fumaça oriunda da queima de madeiras, cascas, folhas e até fezes, que liberavam gases, alcatrão e alcaloides, entre esses, a nicotina”, conta.
“Hoje, respiramos gases e partículas (ferro) que escapam das indústrias. É experiência nova, nenhuma geração foi testada. Somos cobaias”, reclama. “Enquanto o capixaba respira cada vez mais ferro, as indústrias alcançam lucros astronômicos multiplicando a produção, sem resolverem os problemas que criaram”, protesta, citando os problemas e custos com saúde, higiene, danos a equipamentos eletroeletrônicos, entre outros.