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Deputados que “enterraram” a CPI das Licenças assistem passivos apresentação de investimentos das poluidoras

Leonardo Sá

Depois de “enterrarem” a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Licenças, os deputados estaduais da atual legislatura da Casa do Povo capixaba assumem sem pudor o papel coadjuvante no sarcástico teatro do pó preto em que as poluidoras da Ponta de Tubarão, Vale e ArcelorMittal, seguem protagonistas, diretoras, produtoras e roteiristas da triste história. O povo? Ah, segue plateia. Bate palma, dorme, alguns tentam jogar ovos podres em protesto, mas não chegam a conseguir insuflar o público contra o espetáculo de mau gosto empurrado goela abaixo, narinas adentro.

Nessa quarta-feira (12), a Comissão de Meio Ambiente da Assembleia recebeu representantes da ArcelorMittal, que apresentaram os investimentos feitos pela siderúrgica no cumprimento do Termo de Compromisso Ambiental (TCA) nº 36/2018, firmado entre as poluidoras, o governo do Estado e o Ministério Público Estadual (MPES), com objetivo formal de “mitigar a emissão de partículas poluidoras e melhorar a qualidade do ar na Grande Vitória”. TCA semelhante foi firmado também com a Vale, que será a próxima convidada do colegiado, no dia 19.

A Comissão fez poucas reuniões, sem qualquer resultado relevante, a última em setembro do mesmo ano, após ser alterada pelo presidente, Marcelo Santos (Podemos), numa manobra explícita de desviar o foco e evitar o levantamento das comprovações das irregularidades denunciadas pela sociedade civil, especialmente a ONG Juntos SOS ES Ambiental.
Postura legislativa que é acompanhada da ministerial, já que o promotor Marcelo Lemos defendeu, no Dia Mundial do Meio Ambiente de 2020, a extinção da CPI, afirmando que os TCAs com a Vale e a ArcelorMittal são “talvez os termos de compromisso mais importantes da América Latina, talvez até das Américas, em relação à poluição atmosférica” e que “não estamos atrasados, estamos bem à frente de muitos países”.
Três meses depois, a bióloga Dra. Iara Costa Souza apresentou novos resultados de sua pesquisa sobre a poluição do ar em Vitória – realizada na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) em parceria com outras universidades e fundações de financiamento capixabas, paulistas, argentinas e britânica – que mostra que “100% do pó preto se dissocia em nanopartículas”, podendo entrar nos órgãos e tecidos humanos, causando alterações e possíveis problemas de saúde. “Isso já seria suficiente para mudar a legislação atual”, alertou, na ocasião.

‘Investimentos de R$ 40 milhões’
Na apresentação dessa quarta-feira, a ArcelorMIttal, por meio de seu representante Bernardo Enne, afirmou que “80% das metas previstas para este ano já estão adiantadas”. Entre elas, citou a implementação de um filtro para diminuição de poeira na área da empresa e a instalação de trombas telescópicas, que são equipamentos utilizados na melhoria das descargas de silos, onde o pó captado passa por um tratamento e o material tratado é, em grande parte, reutilizado internamente.

O siderúrgico também abordou o Plano Estratégico de Pavimentação, a dessalinização da água do mar a ser usada no processo de resfriamento de equipamentos, e o aplicativo Evoluir (disponível no Google Play e na Apple Store), com indicadores customizados de acesso e informações sobre todas as metas do TCA; marcação de visitas guiadas, para que a sociedade possa aferir como o trabalho está sendo realizado; e o tour virtual, ainda em fase de finalização, para que a sociedade possa conhecer todas as ações da empresa no combate à emissão de partículas.

“O prazo para a conclusão das metas desta primeira fase é setembro de 2021 e 76% dessas metas já estão concluídas, um investimento de R$ 40 milhões. São 26 áreas monitoradas, 60 estações, 180 monitores de material particulado, 25 sensores de direção e velocidade dos ventos e 5 estações meteorológicas”, informou Bernardo.

Outro foco da CPI abortada eram as licenças ambientais das duas poluidoras, cujos indícios de irregularidades, levantados pela Juntos SOS, foram seguidamente noticiados em Século Diário. Sobre a siderúrgica, por exemplo, conforme resume a ONG, há pelo menos quatro Licenças de Operação que vêm sendo renovadas automaticamente, sem qualquer avaliação de cumprimento de metas, havendo, inclusive várias metas não cumpridas, o que, no rigor da lei, deveria impedir a renovação automática, sendo motivo de cobranças, multas e até suspensão das licenças.

Mas seguimos com céu de brigadeiro, com o pó preto apenas uma alegoria inofensiva jogada sobre a plateia.

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