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Capixabas entram no mapa mundial das hortas comunitárias

Atividade física, higiene mental, alimentação saudável, harmonização ambiental, senso de coletividade …  É impressionante perceber como alguns poucos metros de terra bem cuidada podem gerar mudanças tão significativas no espaço urbano, na saúde das pessoas e na coesão social de uma comunidade.

A receita é antiga, nunca saiu de moda. Mas nos últimos dois ou três anos, tem havido uma multiplicação muito maior de projetos de hortas comunitárias e também escolares em todo o mundo. 

 
Documentários mostram as hortas verticais em Nova Iorque, os quintais alimentícios da Suíça, e as grandes hortas comunitárias da cidade de São Paulo, onde a ONG Cidades Sem Fome iniciou sua atuação no País.

Na Grande Vitória a “magia” das hortas sociais também chegou. Existem três experiências em andamento no Estado que mostram a diversidade de objetivos e formatos.

Na Serra, uma Igreja de Cidade Continental alugou uma casa somente para desenvolver uma horta com crianças atendidas por um programa de doação de sopa e um coletivo de jovens está transformando um ponto viciado de lixo na pracinha de José de Anchieta 2 em horta comunitária e, assim, integrando as tribos de dois bairros “rivais”.

Além do assistencialismo

Desde setembro, a Fraternidade Espirita Francisco de Assis, no setor América de Cidade Continental, está envolvendo as crianças beneficiadas pelo programa de doação de sopa na construção de uma horta comunitária. A casa, alugada exclusivamente para esse fim, é pequena, mas acolhe as expectativas de ampliar o trabalho assistencial e atingir uma dimensão também educativa.

São cerca de 15 meninos, entre 8 e 15 anos, que se encontram aos sábados e, agora, ao invés de somente receber a sopa, também ajudam no projeto coletivo. Ganham café da manhã e almoço. “Até o pai de uma das crianças se interessou e quer participar, quando retomarmos as atividades esse mês”, conta entusiasmada a coordenadora do Projeto, Eladir Araújo Fontoura.

Nós Por Nós

Não muito longe dali, em José de Anchieta 2, o Coletivo Resistência Nós Por Nós, formado há quatro meses por jovens da comunidade, tem na horta um de seus projetos sociais, voltados a melhorar a realidade local, entre eles os torneios, as apresentações culturais e o apoio a projetos esportivos e artísticos.

O projeto de horta, na pracinha localizada próximo à divisa com Jardim Tropical, está se tornando um ponto de convergência entre os dois bairros “rivais”. A primeira ação foi cercar o local onde o lixo era lançado. O vandalismo cessou. Agora, os jovens têm se lançado a conseguir os insumos e materiais para construção da horta. “Recebemos doações dos comércios e moradores”, explica Jhonny Cayru, um dos membros do Coletivo. A ideia é também fazer mais bancos para a praça, com materiais recicláveis, e cobrir o ponto de ônibus.

O terreno da futura horta, acreditam os jovens, pertence à EDP Escelsa, pois é onde está localizada uma torre de energia elétrica da concessionária. “Dando certo aqui, a própria empresa pode querer replicar o projeto em outros lugares, pois é muito comum ter lixão nesses terrenos”, projeta Jhonny.

Quintal da Cidade

Também foi o lixo lançado em local inadequado a motivação para a criação da horta comunitária na rua Rubens José Vervloet, na Cidade Alta, no Centro de Vitória. Uma rua sem saída e sem calçamento, esquecida pela prefeitura, que raramente era atendida nos pedidos de capina e limpeza.

Até que um dia, dois moradores decidiram agir por conta própria. A ação teve início com um pequeno canteiro. Outros vizinhos se somaram, decidiram então escrever um projeto e participaram de um curso de hortas urbanas. Pronto. Alquimia perfeita. O grupo cresceu e o projeto virou realidade.

Em novembro de 2016, a Horta Comunitária Quintal da Cidade foi inaugurada, com apresentações musicais, oficinas e outras ações culturais. Nos 50m², são produzidas mais de 90 espécies de verduras e ervas medicinais, como manjericão, hortelã, alface, almeirão, couve, pimentão, jiló, quiabo, milho, brócolis, taioba …

“Começou com essa proposta de cuidar da rua, tirar o lixo. Mas também estamos conseguindo produzir alimento saudável. A compra na feira já reduziu”, conta a assistente social e hortelã Eduarda Borges Bimbatto, autora do primeiro canteiro, junto com o marido.

O grupo é formado por 14 famílias e é bem heterogêneo, contando com engenheiros agrônomos, professora, psicóloga, dona de casa, uma diversidade. Todos se dividem numa escala diária para as regas e uma vez por mês, aos fins de semana, todos se juntam em um mutirão, para limpeza dos canteiros, plantios e ajustes gerais.

Duda, como é conhecida Eduarda, tinha uma horta em seu próprio quintal, mas agora se dedica ao Quintal da Cidade. “Tem um sentido de comunidade, conhecer pessoas, sair desse individualismo que caracteriza as cidades hoje. E isso é o grande diferencial entre uma horta privada e uma comunitária”, explica.

O jardineiro ancestral de cada um

Engana-se quem pensa que é preciso ser um grande conhecedor de técnicas agrícolas para começar uma horta, especialmente uma comunitária. “Dentro de cada um de nós mora um jardineiro, nem que seja na ancestralidade”, afirma a médica Henriqueta Sacramento, reconhecida militante da alimentação natural e das hortas comunitárias.

Seus jardins terapêuticos, nas unidades de saúde da Capital, têm se tornado realidade graças ao apoio da municipalidade, dentro de um programa de potencialização da segurança alimentar e nutricional.

Conhecedora do poder curativo e preventivo das plantas orgânicas, Henriqueta lembra que as ervas aromáticas são excelentes antioxidantes, promovendo desintoxicação e prevenindo doenças crônicas. “A horta comunitária diz não para esse excesso de doenças gerados pelos alimentos processados, industrializados e cheios de agrotóxicos”, afirma.

E, fazendo coro com a hortelã Duda, a médica lembra que, tão importante quanto o acesso a alimentos saudáveis, está a promoção da paz, individual e coletiva.  “O trabalho nas hortas comunitárias tira as pessoas da depressão e da sensação de solidão, alimenta a solidariedade, a boa convivência e a cultura da paz”.

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