A jornalista Raquel Lucena Paiva apresentou o pôster A Agroecologia e a mídia: (in)visibilidades, atores e enquadramentos, com alguns dados sobre seu Metrado em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Em sua pesquisa, são analisados oito sites jornalísticos da Região Sudeste, sendo quatro chamados de hegemônicos e quatro contra-hegênicos, dentre eles, este Século Diário.
A análise da representação da Agroecologia pela mídia tem revelado, segundo Raquel, que, ao lado da relativa invisibilidade do tema, ainda tratado como alternativo e até exótico, percebe-se também a subordinação do conceito à dimensão econômica.
A pesquisadora diz que, enquanto o jornalismo hegemônico dá voz aos agentes institucionais, ligados aos governos, empresas e universidade, o jornalismo contra-hegemônico analisado atribui relevância aos movimentos sociais agroecológicos, presentes como fontes e até como produtores de notícias. “E essas vozes ressoam denúncias, conceitos e argumentações contrárias à racionalidade da agricultura industrial”, conta.
No universo capixaba, além do Século Diário, foi analisado um segundo jornal, mas da chamada imprensa hegemônica. As diferenças de abordagem, enfatiza a mestranda, são gritantes. Durante todo o ano de 2016 o jornal hegemônico capixaba pesquisado não publicou sequer uma única matéria sobre Agroecologia, enquanto Século Diário publicou 23.
Do total de notícias que mencionavam a palavra “agroecologia” ou “agronegócio” em Século Diário, 35% fez referência à Agroecologia, número um pouco maior que a média dos demais jornais contra-hegemônicos, em torno de 20%. Raquel explica que, nesse segmento, o agronegócio é citado para criticar. Já na mídia hegemônica, mais de 95% das matérias menciona o termo “agronegócio”, sempre de forma positiva.
Mais importante que a quantidade, ´porém, Raquel ressalta o fato de as matérias demonstrarem muita proximidade com o assunto. Matérias tinham embasamento sobre questões ambientais e agroecológicas.
Na grande imprensa, ao contrário, “a desconexão com os movimentos sociais é claramente intencional”. “Nunca aparece um agricultor do MST [Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra] falando em O Globo, por exemplo”, reclama. “São falas despolitizadas, a Agroecologia engajada não aparece”, reflete, o que revela um distanciamento muito grande da realidade da Agroecologia, pois “existe uma politização muito forte e esse lado político é sempre omitido pela mídia hegemônica”, conta a jornalista.
Feiras são mais diversas e baratas
A bióloga e agrônoma Elaine Caliman Sposito, mestra em Agroecologia e Desenvolvimento Rural e doutoranda em Solo e Nutrição de Plantas, apresentou o pôster Os produtos orgânicos são acessíveis?, em que apresenta uma comparação entre a diversidade e os preços de alimentos orgânicos comercializados em diferentes tipos de pontos de venda: lojas especializadas, supermercados e feiras livres e de exposição.
Entre os resultados da pesquisa, está a maior diversidade de produtos oferecidos nas feiras especializadas, entre quatro e sete vezes mais, com um total de 210 itens. Diversidade na feira que reflete diversidade nas propriedades, destaca Elaine, citando dados obtidos junto aos certificados de autoria feitas nos sítios.
Para a comparação de preços, foram estudados entre 27 e 36 produtos. Entre as conclusões, está a de que todos os produtos orgânicos apresentaram preços maiores nos supermercados e loja de hortigranjeiros do que nas feiras, sendo que a diferença nos preços entre supermercados e feiras, em porcentagem, variou de 77,09% a 380,8%. E, nas feiras livres, 26,67% dos produtos orgânicos foram encontrados com preços mais baratos que os convencionais.
“As feiras de produtos orgânicos de Vitória permitem a comercialização de produtos orgânicos por preços mais acessíveis do que os supermercados, além de oferecerem uma maior diversidade de itens. Dessa forma, demonstra a importância desse canal de comercialização no acesso a esses produtos”, conclui Elaine.