A retomada da captação de água do rio Doce para consumo humano em Colatina (noroeste do Estado) poderá ser suspensa na Justiça até que sejam realizados novos testes que atestem sua qualidade A necessidade da medida foi discutida em reunião na Promotoria do município nessa quinta-feira (26).
O prefeito Leonardo Deptulski (PT) – Batata – voltou a captar água do rio nessa quarta-feira (26), com a justificativa de que os padrões de potabilidade têm sido respeitados. No encontro dessa quinta, porém, tanto a promotoria como os representantes da Defensoria Pública do Estado, dos conselhos regionais de Biologia (CRBio-2) e de Engenharia e Arquitetura (Crea) e da comissão de representação da Assembleia alertaram que não há informações sobre os laudos e parâmetros utilizados. O laboratório contrato pela prefeitura seria o Tommasi, de Vila Velha.
Para que se tenha certeza da qualidade da água, segundo apontam, são necessários laudos diários e por períodos continuados, o que não tem sido feito no município. A incerteza dos resultados ficou comprovada na última segunda (23), quando a captação, que havia sido autorizada um dia antes, precisou ser interrompida em decorrência da instabilidade na turbidez. A prefeitura havia tratado a água com o produto extraído da acácia negra (Tanfloc).
Com a retomada da captação e a permanência da falta de segurança em relação aos laudos, o Ministério Público de Colatina decidiu ajuizar ação para que a captação seja paralisada.
O promotor de Justiça Marcelo Volpato ressaltou que, sem as informações, não há segurança de que a água não está contaminada pelos rejeitos de minério da barragem da Samarco/Vale rompida em Mariana (MG). “Todos os técnicos que contatamos apontaram para a necessidade de maior cautela”, pontuou.
Volpato alertou que, neste caso, uma análise minuciosa não pode ser feita somente com base nas recomendações da Resolução 357 do Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama) e da portaria 2914 do Ministério da Saúde, que orientam os testes de água das estações de tratamento. “Esses exames químicos e bacteriológicos não são capazes de aferir, com segurança, o teor da presença de metais pesados”, explicou.
Os biólogos presentes no encontro também advertiram que é temerário liberar água para captação fazendo apenas testes em alguns pontos do rio Doce, já que a presença de elementos químicos pode se alterar ao longo de todo o manancial, até que haja um tempo suficiente para que sua distribuição se estabilize. A própria chuva pode emergir elementos mais pesados depositados no fundo do rio.
O presidente da Comissão de Representação da Ales, Da Vitória (PDT), presente ao encontro, criticou a pressa da prefeitura de Colatina na captação da água do rio Doce. “Não entendemos porque a administração de Colatina entrou na Justiça para captar a água do rio Doce, numa pressa que pode colocar em risco a saúde da população”.
Dos municípios capixabas atingidos pela onda de lama, Colatina é o mais prejudicado no abastecimento da população, porque depende exclusivamente da captação da água do rio Doce, ao contrário de Baixo Guandu e Linhares, que têm pontos alternativos.
A situação no município é alarmante. A Samarco/Vale não cumpre com sua obrigação de distribuir água mineral para a população, o que gera revolta, confusão e protestos. Também não iniciou, ainda, a obra de construção de adutoras que retirariam água das lagoas do Limão e do Batista, localizadas a 25 quilômetros do Centro de Colatina.