Os moradores da Serra sofrem ainda mais que os da Grande Vitória. É que, pela proximidade com as chaminés da ArcelorMitttal Tubarão, recebem não só os poluentes particulados e os gasosos, que produzem doenças e mortes, como os que causam forte mau cheiro.
A denúncia foi apresentada na audiência pública da CPI do Pó Preto, realizada na noite dessa quarta-feira (15), no bairro Novo Horizonte, na Serra. A audiência marca o fim do ciclo das manifestações das comunidades. Entretando, a CPI do Pó Preto poupou a Aracruz Celulose (Fibria), que polui o litoral norte capixaba com as emissões das chaminés de três usinas, em Aracruz. São poluentes que causam doenças e fedor, que atinge a Grande Vitória.
A empresa tem outros passivos ambientais, tanto pela destruição da água e da terra em todo o Estado, como pelo roubo de terras no Espírito Santo dos índios, quilombolas e pequenos agricultores. Mas é generosa com os políticos no financiamento de suas campanhas. Foi a única grande poluidora do ar no Estado isentada liminarmente pela CPI do Pó Preto.
Serra
A CPI do Pó Preto também realizou audiências públicas em Vitória, Anchieta, e Vila Velha. Na Serra, além do pó preto produzido pelo minério de ferro e pelo carvão da Vale e ArcelorMittal Tubarão, os moradores tem um problema adicional.
As chaminés da ArcelorMittal exalam forte cheiro. Moradora do setor América, no bairro Continental, Maria Lenir Meireles, informou que a sua residência fica próxima do portão de entrada da empresa. Denunciou: “Eles começam a queimar as coisas lá principalmente de madrugada. Acho que é para ninguém ver, porque é hora de a gente dormir. Eu fico observando, assim que a fumacinha começa a sair (das chaminés) vem em seguida um cheiro horroroso de querosene misturado com piche”.
A ArcelorMittal Tubarão tem três usinas no Planalto de Carapina, e só duas unidades de dessulfuração. Portanto, não trata o enxofre, que é lançado diretamente no ar. Este intenso mau cheiro denunciado pode ser deste agente, que é cancerígeno. Também pode ser produzido pelo óleo diesel usado nas usinas da Vale.
Maria Lenir Meireles também se queixou da sujeira provocada pelo pó preto. “A gente tem de ficar passando o pano nos móveis e no chão toda hora. Limpa cedo e à tarde já tem poeira preta novamente”, contou.
Cerca de 30 pessoas participaram da audiência pública na Serra. Gilson Mesquita, morador há mais de 30 anos do município, estima que o pó preto e o mau cheiro exalado pelas chaminés da ArcelorMittal e da Vale estejam afetando cerca de 250 mil moradores da Serra. Particularmente, os residentes nos bairros de Fátima, Laranjeiras, Barcelona, Feu Rosa, Vila Nova de Colares, Jardim Limoeiro, Carapina, Tropical, Novo Horizonte, São Geraldo e Carapebus, nominou.
Na audiência, foi sugerido aos membros da CPI que aprovem medidas capazes de obrigar as empresas poluidoras a oferecerem uma contrapartida no sentido de compensar os municípios da Grande Vitória diante do passivo ambiental provocado pelas operações no Porto de Tubarão.
Uma dessas compensações seria obrigar a ArcelorMittal e a Vale a reflorestarem as margens do Rio Santa Maria, que corta Serra, Cariacica e Vitória. As duas empresas consomem aproximadamente 30% da água do Rio Santa Maria, que atualmente apresenta alto grau de devastação em suas margens. As empresas também consomem água subterrânea.
O presidente da CPI, Rafael Favatto (PEN), manifestou apoio à ideia de as empresas fazerem o reflorestamento das margens do Santa Maria. Como as empresas também poluem Cariacica e Vila (estes municípios também pela ArcelorMittal Cariacica), exigir que as empresas reflorestem as margens do rio Jucu também é necessário.
Vereadores omissos
O deputado Gilsinho Lopes (PR) criticou a ausência de autoridades municipais de Serra na audiência pública. “Cadê os vereadores? Não vieram e sequer mandaram representantes, com exceção do pastor Ricardo (membro do Legislativo municipal)”.
A secretária de Meio Ambiente de Serra, Andréia Pereira de Carvalho, foi a única autoridade municipal presente no encontro.
Favatto anunciou que a CPI está se encaminhando para a finalização de seu relatório. “Devemos concluir tudo até o final de agosto, após o retorno do recesso parlamentar. Já temos elementos suficientes para fazer um relatório consistente e propor medidas eficazes para reduzir consideravelmente o grau de poluição provocado pelo pó preto na Grande Vitória”, disse.
(O texto inclui informações da Web Ales)