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‘Começou como terapia e hoje é o ganha-pão de muitas mulheres e jovens’

Coletivo Mulheres de Fibra inaugura laboratório de produção de fibras de bananeira para artesanato quilombola

Divulgação

“A fibra de banana tem ajudado muito as comunidades com o artesanato”. A afirmação, dita quase em tom de oração, é da artesã quilombola profissional Jurema Gonçalves, coordenadora geral do coletivo Mulheres de Fibra, que atua nas comunidades do Território Quilombola Tradicional do Sapê do Norte, entre Conceição da Barra e São Mateus, norte do Estado.

Na manhã desta quinta-feira (18), o coletivo apresentou os resultados dos trabalhados realizados desde antes da pandemia de Covid-19 pelo seu Núcleo de Fibras, projeto apoiado pela Secretaria de Estado de Cultura (Secult) e pela Rede Empreender Jovem. Na programação, relatos de parceiros e colaboradores do projeto, mostra cultural, exposição de artesanato e inauguração do Laboratório de Produção de Fibras.

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Agora com telhado e pintura doada pelo grafiteiro Zuzu NATHYCREED, o laboratório é o principal espaço de trabalho do Núcleo, onde as instrutoras preparam os cursos que ministram gratuitamente nas comunidades interessadas na nova fonte de renda e integração social.

“Pegamos um nível de depressão muito alto entre jovens. Um número grande se mutilando, se cortando. E hoje vê as meninas felizes!!”, conta Jurema. “As Mulheres de Fibra foi o primeiro coletivo a entrar na comunidade e fazer um trabalho com essas mulheres. Funcionou no começo como terapia e hoje é o ganha-pão delas”, exulta.

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Todo o trabalho é realizado seguindo os princípios da economia criativa e solidária. “O Núcleo de Fibras vem moldando e formando pessoas para a vida, é uma experiência de fé e muito trabalho”, testemunha a coordenadora-geral.

Atualmente, a comunidade do Angelim 3 é a mais envolvida na produção de artesanato com fibra de bananeira, contando com 56 mulheres. Além da cestaria e utensílios, elas desenvolveram também uma grande novidade, que é o cabelo de fibra de bananeira. “Elas já patentearam e estão fazendo mais testes pra começar as vendas”, anuncia Jurema. “Essa descoberta vai dar uma liberdade financeira muito grande”, comemora. Os demais produtos já são comercializados na feira de Braço do Rio.

Armando Mecenas

Além de Angelim 3 e Santana, as comunidades de Roda d’ Água, Nova Conquista e Córrego do Felipe contam com artesãs de fibra de bananeira. Nessa última há a intenção de abrir uma loja de artesanato, aproveitando o fluxo de turistas que passam na estrada para a vila de Itaúnas.

Nego Rugério

O endereço de toda essa alquimia sociocultural é a Casa Amarela, que funciona ao lado da escola do quilombo urbano de Santana, em Conceição da Barra, local que está sendo preparado para sediar um projeto de turismo histórico quilombola.

“É o quilombo do Nego Rugério”, acentua a coordenadora-geral, referindo-se ao personagem histórico que liderou os negros escravizados da região em um quilombo que teve grande relevância social e econômica na região, e que já dá nome ao Centro de Referência em Assistência Social (CRAS) de Santana.

A Casa Amarela, conta, já foi a “Casa de Raspa”, onde os negros se reuniam para raspar a mandioca que abastecia as doze casas de farinha do quilombo. “Os negros estavam sempre unidos. Nego Rugério era o rei da farinha. Vendia a produção pra Dona Rita Cunha, mãe do Barão de Timbuí. Eles vendiam a um preço menor e, em troca, recebiam proteção dela. Quando Dona Rita morreu, houve a invasão do quilombo, quando a força policial da época matou muita gente”, relata.

A ideia é fazer da Casa Amarela também um ponto de hospedagem dos visitantes, que percorrerão a comunidade, conhecendo os principais pontos históricos.

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