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Comunidade denuncia perseguição da direção do Parque Estadual de Itaúnas

Desde que a antiga Vila de Itaúnas, em Conceição da Barra (norte do Estado), foi soterrada na década de 1940, Paulo Jacó e sua família se transferiram para uma área próxima ao acesso à praia, garantindo seu sustento por meio da produção de esteiras de taboa. O manejo da taboa nunca conflitou com a proteção ambiental e o manguezal que viceja nos arredores da comunidade é uma das provas.
 
Descendente de índios Pataxó, Paulo Jacó é muito querido pelos moradores da vila e há uma grande indignação contra a perseguição sistemática que sua comunidade vem sofrendo. A direção do Parque Estadual de Itaúnas, criado meio século depois do estabelecimento dele no local, há muito se esforça para desalojá-lo de seu território.
 
Entre os golpes desferidos, houve a extirpação da taboa, que acabou com a subsistência tradicional, obrigando o patriarca Paulo a desenvolver outra fonte de renda. Depois de um resgate do saber tradicional Pataxó, o que hoje gera renda para a família é o artesanato indígena com palhas e cipós.  
 
O mais recente ataque foi protagonizado pelo Instituto de Desenvolvimento Urbano e Habitação (Idurb), com apoio do Instituto Estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema). A intenção, apresentada numa reunião no início de junho último, é a realização de uma pesquisa, com preenchimento de questionários sobre todas as casas, para elaboração de uma espécie de diagnóstico da situação das famílias, o que balizaria a transferência da comunidade.
 
Os agentes do Estado foram muito questionados pelos presentes e Paulo Jacó deixou clara a total falta de interesse dos moradores em se retirar. Ao final, a representante do Idurb, Caroline Jabour, afirmou que, caso os moradores escolham mesmo permanecer, precisarão seguir algumas regras, referentes à conformidade com os objetivos ambientais da unidade de conservação. E que “a proposta para solucionar a questão relacionada à presença da comunidade dentro da área do Parque será construída de forma compartilhada, conciliando os interesses da comunidade e do Parque, favorecendo a ambos”, segundo consta na ata da reunião.
 
Fernando Volpi, amigo da família e um dos que se levantou contra a proposta governamental, afirma que a vigília da comunidade continuará, pois preocupa essa arregimentação de órgãos estaduais.  “Juízes, promotores, Ministério do Meio Ambiente … todos que já vieram aqui, após conhecerem o modo de vida em Paulo Jacó, dizem que a comunidade não deve sair daqui”, relata.
 
Outros amigos presentes na reunião confirmaram a perseguição crônica realizada pelo Parque e até uma ameaça, feita por um vigilante com arma em punho, contra Paulo e sua esposa, Dona Jovem, foi noticiada.
 
Corre na Vila de Itaúnas um boato de que o interesse imediato no parque com a retirada do Jacó é a construção de um estacionamento para os turistas. Há boatos de outros interesses, mas nada confirmado.
 
De qualquer forma, a pergunta que todos fazem é o por quê de tanto empenho em retirar uma comunidade tradicional, que vive de forma sustentável, protegendo o mangue e trabalhando com artesanato de matérias-primas naturais, principalmente quando há tantas outras questões graves acontecendo dentro da unidade de conservação, como o desmatamento de Áreas de Preservação Permanente (APPs) para os extensos plantios de eucalipto, principalmente da Aracruz Celulose (Fibria) e Suzano Papel e Celulose. 

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