Data de 2006 estão registrados os primeiros pedidos de moradores do bairro Santa Tereza, em Vitória, para que o espaço da antiga estação de tratamento de esgoto da Companhia Espírito-Santense de Saneamento (Cesan), abandonada, fosse cedida para o uso da comunidade. Com a reorganização do movimento comunitário desde o final de 2018, a proposta foi finalmente ganhando corpo. A empresa pública cedeu o local para a prefeitura, que o entregou para a comunidade. Nas últimas semanas, foi dado início à primeira iniciativa: a Horta Comunitária de Santa Tereza, que já tem os primeiros canteiros plantados.
A área é ampla, incluindo uma parte construída e a maioria ao ar livre. O local era visto como ponto de insegurança pela comunidade por conta do abandono. Parte do muro, próximo a um trecho de sombra em que as crianças descansam nas aulas de futebol, chegou a desabar em horário de atividades. Por sorte, não havia ninguém no momento.
Agora, o espaço virou um ambiente propício para fazer brotar diversos desejos e sonhos para pessoas do entorno. Além da horta comunitária, a proposta é que na parte construída, com cinco salas, estejam abrigados a sede da associação de moradores, um centro de apoio a empreendedores, uma rádio comunitária, vestiário e local de suporte para a escolinha de futebol do bairro.
O uso do espaço construído ainda aguarda, porém, a liberação de alvará pela Defesa Civil, além de instalação de água e energia elétrica. “Dificulta para lavar as mãos, usar a roçadeiras ou outros equipamentos elétricos”, diz Jean dos Santos, o Joca, presidente do Movimento Comunitário do Bairro Santa Tereza. Ele clama por apoio do poder público e dos comerciantes locais para ajudar nos desafios que ainda serão necessários para colocar todo o espaço a serviço do bairro e da cidade. Os líderes já articulam com a escola local para que o espaço seja também um espaço de vivência e aprendizado por meio de um programa de educação ambiental.
Mas Almir explica que a intenção é que o novo espaço comunitário possa atender a todos os públicos com atividades diversas, incluindo crianças, adolescentes, adultos e idosos. Uma das propostas é ter também uma cozinha industrial, para que possam ser desenvolvidas atividades ligadas à gastronomia.
Horta vai agregar várias iniciativas sustentáveis
Além de moradores do bairro, o início das atividades conta com apoio de outros projetos e entidades, como a Rede Urbana Capixaba de Agroecologia (Ruca), a Central Única das Favelas (Cufa) e o projeto de turismo de base comunitária de Santa Tereza.
O bairro já possui uma outra horta comunitária, localizada no alto do Morro do Cabral, na zona de amortização do Parque Municipal da Fonte Grande. “Além da nova horta, começamos também um viveiro comunitário para plantar alimentos mudas de árvores nativas”, diz Joca, que além de líder comunitário, foi nomeado em abril como gestor do parque, no qual atua como voluntário e guia há 10 anos. Numa área de 1 hectare que faz limite da comunidade com o parque, há anos ele e outros moradores vêm contribuindo para o reflorestamento.
Para a implantação da nova horta, numa parte muito mais plana e central da comunidade, próxima ao campo e à praça, o movimento comunitário está recebendo apoio de uma assistência técnica realizada pela Ruca em conjunto com a Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (Fase) Espírito Santo, que contribuiu com compra de sementes, mudas, adubos, ferramentas, materiais para cercamento e também orientação do engenheiro agrônomo Dauro Brício.
Onde antes havia um matagal alto, foram construídos quatro canteiros com alface, couve, cebolinha, pimenta, tomate, jiló e taioba. Apenas a área ensolarada será usada para a horta, já que a parte coberta por árvores, a maior, será utilizada para outras atividades. “Além do plantio queremos aumentar a produção de mudas, fazer captação de água da chuva, criar um espaço para compostagem”, diz Dauro.
Outras experiências da primeira horta da região, como a criação de tanque para piscicultura e de abelhas nativas sem ferrão, também são possibilidades pensadas para transformar o espaço numa referência de sustentabilidade na cidade.
“Nosso bairro é muito aconchegante e tem uma história linda. Eu digo a todos que sou de Santa Tereza e acho um dos melhores bairros de Vitória para se morar”, diz Joca, morador orgulhoso.
Localizado na região da Grande Santo Antônio, faz divisa com Morro do Quadro, Caratoíra, Santo Antônio e Bela Vista, no sudoeste da ilha de Vitória. “O bairro é conhecido por se um dos mais frutíferos, tem pés de manga, jaca, fruta pão, banana, cajá”, lembra Joca, indicando que o acesso a alimentos saudáveis sempre foi uma questão. “Era uma tradição subir no alto de Santa Tereza para fazer piqueniques no fim de tarde e ir às nascentes”, conta.
O sonho de uma cidade que cuida e respeita a natureza permanece vivo.