Selecionada para captar financiamento de forma colaborativa pelo Catarse, com apoio da Escola de Ativismo, a campanha visa produzir um documentário e uma exposição fotográfica mostrando a realidade ao longo dos oito municípios da bacia hidrográfica e formar um coletivo juvenil ativista/protagonista em prol da conservação e defesa do rio.
A bióloga Márcia Lederman, da ONG Sociedade Amigos por Itaúnas (Sapi), entidade organizadora do projeto, conta que a Bacia Hidrográfica do Rio Itaúnas é a mais degradada do Espírito Santo, com apenas 9% de cobertura vegetal natural. É também uma das mais conflituosas, com baixa densidade demográfica e muitos latifúndios, estes, os grandes responsáveis pelo mau uso do solo e da água no território, caracterizado pelas monoculturas de eucalipto, cana-de-açúcar e pastagens, que fazem uso intensivo de agrotóxicos. A foz artificial também provocou grande alteração na dinâmica do rio.
As ações de recuperação das nascentes e matas ciliares e de despoluição, no entanto, são praticamente inexistentes. A bióloga, que já foi gestora do Parque Estadual de Itaúnas, cita uma situação recente que ilustra bem o posicionamento irresponsável do Estado com relação à crise hídrica, quando, em um evento oficial, o secretário de Meio Ambiente, Aladim Cerqueira, afirmou não dispor de orçamento para reflorestamento do Itaúnas, nem mesmo via o Programa Reflorestar, ao passo que o mesmo governo vai investir R$ 60 milhões em cinco barragens na bacia, que já tem cerca de 400 dessas obras, incluindo a maior do Estado, em Pedro Canário.
Mensagem positiva
“No meio de tanta coisa ruim, a comunidade se junta pra buscar alguma solução. É essa mensagem positiva, de juntar gente pra fazer alguma coisa, que a campanha traz”, anuncia a também ambientalista. “Por isso as pessoas de Itaúnas [vila de mil habitantes localizada próximo à foz do Rio, em Conceição da Barra] aprovam o projeto. Estão felizes com a oportunidade de fazer esse alerta”, conta a diretora de Comunicação da Sapi, a arte educadora Kika Gouvea.
O Rio Itaúnas tem três nascentes principais, sendo uma em Ponto Belo, no noroeste do Espírito Santo, e outras duas nas divisas com a Bahia e Minas Gerais. Seu leito, porém, corre exclusivamente no território capixaba. A Bacia percorre oito municípios – Ponto Belo, Montanha, Mucurici, Boa Esperança, Pinheiros, São Mateus, Pedro Canário e Conceição da Barra – e abastece 130 mil pessoas. Em vários pontos, a degradação é gritante. “Já ouvimos relatos de um produtor que andou de moto no leito do rio, de tão seco!”, cita Márcia.
A bacia abrange o Território Quilombola do Sapê do Norte, onde vivem dezenas de comunidades tradicionais, cercadas pelos eucaliptais da Aracruz Celulose (atual Fibria), que secaram centenas de córregos, nascentes e rios.
A devastação provocada pelo chamado “deserto verde” teve início na década de 1950, com incentivo do Estado, quando a empresa derrubou milhares de hectares de Mata Atlântica primária para plantar suas monoculturas de eucalipto. E prosseguiu, nos últimos sessenta anos, com a conivência estatal. “Não tem fiscalização”, denuncia a bióloga.
Águas que ardem
“A gente chama a Polícia Ambiental, não responde, chama o Iema [Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos], não responde, chama o Idaf [Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal], não responde. O governo não faz a parte dele e a sociedade está muito apática”, reclama.
Kika conta que as comunidades quilombolas relatam o drama que testemunham de plantio de eucalipto sendo feitos em várias nascentes, secando e contaminando os cursos d' água ao longo de todo o Território. “O Rio Angelim [um dos principais afluentes do Itaúnas a irrigar o Sapê do Norte] não deságua mais no Itaúnas”, lamenta. “Hoje, a água do Angelim queima o rosto da gente, arde a boca se a gente tenta beber. Os animais não bebem essa água”, denuncia a arte educadora.
As ambientalistas dizem ainda que os moradores de Itaúnas têm conhecimento de que são feitas análises quinzenais da qualidade da água do Rio, em dois pontos em que ele passa pela comunidade. Mas os resultados nunca são divulgados. “O interessante dessa campanha é que a Vila tá dando um grito a tudo isso, toda essa degradação ao longo da bacia. A gente não aguenta mais!”, dizem, acrescentando que a ONG tem feito contatos com universidades fora do Espírito Santo para coleta e monitoramento externo.
Um mês de atividades
O lançamento físico do Projeto, no próximo sábado, será no Portal Tantra, na rua da Ponte, com a exposição fotográfica Caminhos do Rio, reunindo fotografias de Rogério Medeiros, Vitor Nogueira, Rodrigo Damasio, Leonardo Merçon, Frederico Pereira e a própria Kika Gouvea. Durante um mês, o Portal vai abrigar também exibições de vídeos e bate-papos sobre a Bacia do Itaúnas, além de apresentações artísticas com parceiros do projeto, como a poeta Elisa Lucinda e o músico Fábio Carvalho.
Na internet, o lançamento será no dia seguinte, domingo (16), no portal do Catarse, quando estarão ativadas as opções de doações ao projeto.
Saiba mais sobre a campanha no portal Catarse, na fanpage da Sapi ou no Instagran