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Comunidade quilombola de Linharinho realiza mutirão

A comunidade de Linharinho, em Conceição da Barr (norte do Estado), integrante do Território Quilombola do Sapê do Norte, realizará um novo mutirão entre os dias 26 e 28 de maio. Na programação, embarreio, plantio, capinas e construções, privilegiando as técnicas agroecológicas e de permacultura. Também haverá atividades com as crianças, incluindo cirandas e outras brincadeiras.

“Estamos resgatando uma prática dos nossos antepassados, que faziam suas casas a partir do embarreio, que faziam as suas roças a partir dos mutirões, porque não tinham incentivo do Estado, como nós não temos até hoje”, anuncia uma das lideranças locais e organizadores do mutirão, Antonio Sapezeiro.

Para quem for participar e colaborar, é recomendado levar ferramentas como enxadas, cavadeiras, serrotes, martelos, alicates, pregos, facões e sacolas de lixo e de nylon. Itens pessoais e coletivos de primeiros socorros, além de alimentos para compartilhar também são bem-vindos.

União e força

Além dos objetivos práticos de fazer a roça e as construções, os mutirões são também momentos de união e de fortalecimento da luta quilombola, em que membros de diversas comunidades do Território se reencontram e também recebem apoiadores vindos da cidade, entre eles, professores, estudantes, pesquisadores e militantes de outros movimentos sociais do campo.

“O mutirão não é só de produção, mas também momento de se encontrar e ver que as coisas não estão totalmente acabadas, que temos aqui as Retomadas. E a gente está trabalhando totalmente alternativo, já que não temos nenhuma política de Estado, mas sabemos que precisamos ficar na terra”, contextualiza Antonio.

Outra proposta do mutirão é viabilizar a realização de um curso de permacultura na região.  A agricultura é o pilar de sustentação dos quilombolas do Sapê do Norte, empenhados em resgatar técnicas ecológicas ancestrais e enriquecê-las com novas práticas da agroecologia e permacultura.

Processo anulado na Justiça

A comunidade de Linharinho foi formada a partir de uma das várias Retomadas realizadas pelos quilombolas do Sapê, como única forma de exigir a devolução de suas terras, usurpadas pela Aracruz Celulose (Fibria) a partir da década de 1960.

O primeiro processo aberto pela comunidade de Linharinho chegou a ser anulado judicialmente. Um segundo processo foi aberto em 2012, teve as contestações indeferidas, e os recursos subsequentes aguardam decisão do Conselho Diretor do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).

A maioria dos processos das demais comunidades também foi anulado ou arquivado pela Justiça, mostrando uma tendência explícita de não reconhecimento do Território, apesar de todas as evidências antropológicas já formalizadas.

Deserto verde

No Espírito Santo, apenas três comunidades quilombolas – localizadas em Ibiraçú, Santa Leopoldina e Cachoeiro de Itapemirim – conseguiram escapar da perseguição da Aracruz Celulose, do Estado e da Justiça, todas elas fora das áreas de monocultura da empresa.

Nas terras dominadas pelo deserto verde, também padecem indígenas e camponeses, cercados pelos eucaliptos, sofrendo imensa dificuldade para colocar em prática seus projetos de agricultura ecológica, produtora de alimentos saudáveis, dignidade e prosperidade para o campo. Daí o brado do líder quilombola, no convite para este mutirão: “Que viva a luta de todos os companheiros quilombolas, índios, todos os trabalhadores campesinos do Brasil!”, conclama. 

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