Proposta inicial é de 2001 e inclui instalação de um campus do Ifes junto à sede da APA, em Regência
O processo de criação de uma unidade de conservação para ordenar o desenvolvimento na Foz do Rio Doce, no norte do Espírito Santo, entra em uma nova fase, com a realização de duas consultas públicas pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) nesta quarta e quinta feiras (17 e 18), em Linhares e Aracruz, respectivamente.
As reuniões são abertas a todos os interessados e serão transmitidas ao vivo pela internet. Após as duas consultas, os participantes ainda poderão encaminhar sugestões por meio do email [email protected].
No centro do debate, está o Estudo Técnico elaborado pela autarquia, que inclui a primeira proposta formal de UC para a região, feita pelo Projeto Tamar em 2001 por meio do Plano de Desenvolvimento Sustentável para as Comunidades do Entorno da Reserva Biológica de Comboios (PDIS-Comboios), financiado pelo Fundo Nacional de Meio Ambiente (FNMA).
O estudo indica a viabilidade de uma Área de Proteção Ambiental (APA), categoria que permite o uso dos recursos naturais por diversos setores da economia e não exige a desapropriação das terras protegidas, que continuam sob posse e domínio dos proprietários, mediante regras de gestão sustentável integrada previstas no Sistema Nacional de Unidades de Conservação (Snuc).
A área apontada como relevante para cumprir com a finalidade de proteger a bio e sociodiversidade da região engloba a faixa costeira compreendida entre a Área de Relevante Interesse Ecológico (Arie) municipal de Degredo, no limite norte de Linhares, e o distrito de Barra do Riacho, no sul de Aracruz, bem como a região marinha a ela associada até uma distância de 10 km da praia, com profundidades máximas entre 10 e 20 metros – totalizando uma área de aproximadamente 100 mil hectares, majoritariamente marinha.
Os custos para implementação da Unidade de Conservação estão contemplados no Termo de Transação e Ajustamento de Conduta (TTAC), primeiro acordo extrajudicial firmado em decorrência do crime da Samarco/Vale-BHP contra o Rio Doce, ocorrido em novembro de 2015.
Em sua cláusula 182, o acordo determina que a Fundação Renova deve custear ações referentes à consolidação de duas Unidades de Conservação – o Parque Estadual do Rio Doce e o Refúgio de Vida Silvestre de Santa Cruz – e “a elaboração e implementação do plano de manejo e a construção da sede da APA na Foz do Rio Doce”.
A sede será instalada nos galpões abandonados do Terminal de Regência (Tereg) da Petrobras, localizados entre a vila e a sede da Reserva Biológica (Rebio) de Comboios, de forma a aproveitar o encaminhamento feito em uma ação civil pública movida pelos Ministérios Públicos Federal e Estadual (MPF e MPES) de transformar a antiga estrutura em um centro de ciência e educação.
Entre os equipamentos previstos no local, está também um campus do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo (Ifes), que está em processo avançado de criação pela superintendência capixaba da autarquia.
Linha do tempo
1950-1953 – região é considerada um dos principais remanescentes de restinga do Brasil: “Criado o Parque Estadual Ecológico da Região Leste – Ilha de Comboios”
1982 – Criação da Base Avançada do Tamar
1984 – Criação da Reserva Biológica de Comboios
2001 – Elaboração do Plano de Desenvolvimento Sustentável para as Comunidades do Entorno da Reserva Biológica de Comboios (PDIS-Comboios)
2003 – Área doada pelo Governo do Estado para criação de Unidade de Conservação (UC) de Uso Sustentável
2007 – Abertura do processo de criação de UC na Foz do Rio Doce, após solicitação das Associações de Pescadores de Regência e de Povoação
2015 – Crime da Samarco: impactos ao Rio Doce e mar. TTAC prevê a Criação de APA da Foz do Rio Doce pelo Poder Público, com apoio da Fundação Renova para elaboração e implementação do Plano de Manejo
2017-2022 – Consultorias contratadas nos projetos GEF-Mar e Terra-Mar para atualizar os estudos. Discussões com as comunidades envolvidas e governos federal, estadual, municípios.
2023 – Consultas públicas em Linhares e Aracruz
Próximos passos – envio da proposta final ao Ministério do Meio Ambiente (MMA), para encaminhamento à Casa Civil e sanção do presidente da República.