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Contaminação de lago preocupa moradores de Santa Teresa 

Rompimento de fossa pode comprometer saúde pública, alerta conselheira 

“A minha propriedade está no segundo ponto mais alto de Santa Teresa. Aqui temos várias nascentes que alimentam o Córrego Valão de São Pedro, que desce e forma a bacia hídrica do Caravaggio, emendando-se ao complexo hídrico que abastece Jacaraípe e a Grande Vitória”, explica Josiane de Siqueira, moradora da região de Valão de São Pedro, zona rural do município de Santa Teresa, na região serrana capixaba.  

Na manhã da última terça-feira (7), ela foi até o lago localizado na divisa de sua propriedade alimentar os peixes, mas notou que a água estava turva e nenhum deles aparecia na superfície. Segundo ela, máquinas haviam sido utilizadas pra arar o terreno na área do entorno e ela suspeita que a operação resultou no rompimento de uma fossa séptica, que estaria despejando resíduos diretamente no lago, que se conecta ao sistema hídrico da região.

O despejo persiste há seis dias, contaminando o sistema hídrico que alimenta o rio Timbuí, crucial para o abastecimento de água na região de Jacaraípe e outras localidades da Grande Vitória. Na foto enviada pela moradora, é possível observar uma mancha escura na água do lago, o que pode indicar a presença de resíduos contaminantes.

Josiane de Siqueira

Josiane acionou o Conselho Municipal de Meio Ambiente e afirma que levará o caso ao Ministério Público do Espírito Santo (MPES), diante do histórico de impunidade e ausência de fiscalização adequada na região. “Os fiscais vieram, ficaram menos de dez minutos, não anotaram nada e não tiraram fotos. Parecia que estavam debochando da situação,” relatou. 

A conselheira municipal de meio ambiente Alzira Bermudes, que recebeu a denúncia, tem cobrado medidas da Secretaria de Meio Ambiente para mitigar os danos causados pela contaminação do lago. Ela destaca que a região abastecida pelo rio Timbuí é produtora de hortifruti e grande parte desses alimentos destinada à população da Grande Vitória e de outros municípios do Espírito Santo. Se a água contaminada atingir os cultivos dessa região, haverá prejuízos à saúde pública, alerta.  

Além disso, a escassez hídrica já começa a ameaçar a região, que enfrenta uma crescente pressão imobiliária e a prática recorrente de crimes ambientais. Desde junho deste ano, essas práticas vêm sendo denunciadas por moradores, organizações não governamentais (ONGs) e membros do Conselho, junto ao Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Espírito Santo (IDAF) e o Instituto de Meio Ambiente e Recursos Hídricos. Contudo, a resposta das autoridades tem sido insuficiente para reverter a situação. 

“Os crimes ambientais acontecem dia e noite aqui, na surdina, durante a madrugada. Quando você chega lá no lugar, cortaram um hectare de mata, cortaram dois hectares de árvore. Chegam coisas assustadoras no conselho, e o que a gente ouve é que a prefeitura não tem braço para fazer a fiscalização”, relata. 

Na localidade de Valão de São Pedro, a mata nativa têm sofrido com práticas como o “arrasto”, que consiste na retirada de árvores de madeira de lei para comercialização ilegal, descreve a moradora Josiane de Siqueira. “A pessoa descobre uma árvore de lei, corta a copa e arrasta o tronco. Isso dá a impressão de que só estão fazendo alguma estrada ou algo do tipo, mas, na verdade, estão retirando madeira ilegalmente. Depois, alguém que compra madeira de lei recolhe o tronco”, explica. 

Josiane relata que as máquinas utilizadas na propriedade vizinha também derrubaram árvores raríssimas da região, como o ipê-damasco-bicolor e o ipê-peroba-amarela, ambos com mais de um metro de diâmetro. A situação tem sido denunciada ao Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Espírito Santo (IDAF) e ao Instituto de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (IEMA) pela moradora, que prepara um relatório detalhado sobre os crimes ambientais ocorridos na localidade.

 A Prefeitura de Santa Teresa, na gestão do prefeito Fernando Rocha (PDT), foi procurada na última sexta-feira (10) para se manifestar sobre a denúncia. Em resposta, informou que a situação relatada não procedia, embora ainda aguardasse a conclusão de um laudo técnico da análise da água do lago contaminado em Valão de São Pedro. Representantes da administração afirmaram, na ocasião, que o laudo de análise da água seria solicitado no início da semana. No entanto, até o fechamento desta matéria, o relatório ainda não havia sido produzido. A justificativa apresentada foi o impacto das chuvas intensas na região, que resultaram no aumento das demandas de fiscalização e atendimento. A administração afirmou que poderia verificar a situação na terça-feira (14). 

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