Possível gasto extra com os quilômetros a mais na obra é “custo-benefício positivo em todos os aspectos”, avalia
Trabalhando na Câmara dos Deputados na mobilização em favor de um amplo debate sobre o licenciamento ambiental das obras de duplicação da BR-101 no trecho norte, o deputado federal Helder Salomão (PT) entende o cenário político atual como mais favorável à implementação do contorno a oeste da Reserva Biológica de Sooretama, proposta apresentada e seguidamente defendida pela frente de cientistas e ambientalistas que atuam na região há longo tempo.
“Estou convencido de que o melhor caminho é nós ouvirmos a ciência, os pesquisadores e especialistas que estudam aquela região, acompanham há anos as atividades na Reserva. O contorno a oeste vai poder potencializar a proteção da biodiversidade e o desenvolvimento econômico naquela região, com impactos sociais positivos”, declarou, após reunião com alguns membros da frente científica, fazendo coro com as declarações recente proferidas pelo coordenador da bancada capixaba, deputado Da Vitória (Cidadania).
Positiva também é a avaliação que Helder faz sobre a adesão à proposta científica por parte dos atores diretamente envolvidos no processo de licenciamento, principalmente a ECO 101, concessionária que venceu a licitação e responsável pelas obras de duplicação, e a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), quem fiscaliza a concessão.
Do ponto de vista ambiental, destaca, o benefício é óbvio, por proteger um patrimônio natural que é de relevância mundial, tratando-se do maior fragmento de Mata Atlântica de Tabuleiro do país, protetor de uma fantástica biodiversidade e grande sequestrador de carbono.
Nesses debates, antecipa o deputado, a questão do custo precisa ser discutida de forma transparente e objetiva. “O contato assinado com a ECO 101 já foi retificado quando fizemos o contorno de Iconha, que não estava previsto no contrato original. Outras retificações podem ser feitas no contrato e, quando se faz retificações, pode-se alterar prazos e valores”, expõe.
O parlamentar salienta ainda que “é preciso considerar que a concessionaria já arrecada pedágio há muitos anos e que os cronogramas de obras já estão todos atrasados” e, por isso, “há um passivo”.
Apesar da justificativa feita pela empresa de que os atrasos se devem a problemas não resolvidos pela ANTT e Ibama, contrapõe Helder, “a gente sabe que foi preciso uma mobilização muito grande da sociedade e da Comissão Externa pra tirar a ECO da zona de conforto. Ela estava muito inoperante”, aponta, salientando que as pressões iniciadas em 2015, com audiências públicas e reuniões de trabalho, fizeram com que ela passasse a se mover no sentido de soluções para os entraves, que não tinham qualquer relação com o atual impasse ambiental do trecho norte.
Assembleia Legislativa
Reflexões semelhantes foram feitas também na Assembleia Legislativa, durante reunião da Comissão Especial de Fiscalização da BR-101 realizada virtualmente nesta quinta-feira (17), quando alguns dos pesquisadores defenderam a proposta do contorno a oeste.
Conforme noticiado pela Assembleia, os 32 km a mais necessários para implantar o contorno não aumentariam o tempo de viagem, já que o traçado proposto não atravessa áreas urbanas, diminuindo o número de obstáculos. “Além de garantir mais conforto, segurança, economia e redução nos impactos ambientais”, salientou um dos cientistas participantes da reunião, o médico-veterinário Marcelo Renan de Deus Santos, presidente do Instituto Marcos Daniel, uma das entidades a organizar a live “Sooretama Viva”, realizada no Dia Mundial do Meio Ambiente.
Proponente da reunião e presidente do colegiado, o deputado Gandini (Cidadania) voltou a afirmar que está de acordo com os especialistas e também defendeu o amplo debate com os diversos atores envolvidos.
“A gente verifica que há, por parte da concessionária, um desinteresse enorme em resolver essa questão do trecho de Sooretama. Mais especificamente há um desinteresse enorme em ter a concessão da licença nesse trecho”, salientou Gandini, em consonância com o parecer emitido pelo ICMBio, que mostra a negligência da empresa em proteger a Reserva desde o início do licenciamento.
“Ao que nos parece, isso é uma vantagem que eles estão conseguindo ao não apresentar as documentações pedidas pelo Ibama. Por isso que eu manifesto sempre que o Ibama precisa encerrar esse assunto e falar que a concessão é inviável desse jeito”, apontou.