sábado, novembro 23, 2024
23.9 C
Vitória
sábado, novembro 23, 2024
sábado, novembro 23, 2024

Leia Também:

Contra a petrodependência, eventos reúnem ativistas do ES, Brasil e exterior

IV Semana Sem Petróleo e Seminário Nacional da Campanha Nem Um Poço a Mais acontecem em setembro

Flávia Bernardes/Fase-ES

Pela primeira vez em formato totalmente virtual, a Semana Sem Petróleo, em sua quarta edição, e o Seminário Nacional da Campanha Nem Um Poço a Mais de 1 a 7 de setembro deste ano.

Para a IV Semana, podem ser enviadas propostas para debates, oficinas, rodas de conversa, místicas, jogos, apresentações artísticas e culturais e outras atividades que abordem os impactos do uso abusivo do petróleo e seus derivados para a natureza e os seres humanos, e que apontem e apresentem alternativas que possam substituir o uso destes elementos tóxicos. Também é possível expor o seu produto IV Feira Livre de Petróleo, que será realizada online durante todo o tempo da Semana e do Seminário. As inscrições vão até dia 10 de agosto preenchendo os formulários online.

“Lembre que para pensarmos na superação do petróleo precisamos pensar na superação da lógica que o mantém. Abaixo aos ‘ismos’ ainda pandêmicos em 2020. Fora Bolsonaro e abaixo ao fascismo, racismo e machismo ainda evidentes nestes tempos. Em um momento de total exceção, atravessar e ser atravessado por estas perspectivas é fundamental”, conclamam os organizadores.

Flávia Bernardes/Fase-ES

O sociólogo Marcelo Calazans é coordenador regional da Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (Fase) no Espírito Santo, uma das entidades produtoras dos eventos, e explica que a Semana e o Seminário objetivam fazer um enfrentamento da indústria petroleira e dos impactos que ela gera em duas grandes vertentes: por um lado debatendo a nossa petrodependência e mostrando alternativas ao uso dos derivados do petróleo; e por outro discutindo a expansão da indústria petroleira, incluindo a extração, seja em mar ou terra, o armazenamento e o refino.

“Precisamos reduzir essa petrodependencia. A semana aponta tecnologias e estratégias pra transição energética”, diz, citando a permacultura, agroecologia, os combustíveis não-fósseis, os cosméticos e tinturas livres de petróleo.

Divulgação/Fase-ES

Militância internacional

O seminário está organizado em sete painéis, conta Marcelo. O primeiro, sobre os impactos da indústria petroleira contra os povos tradicionais do Espírito Santo, reunindo quilombolas, indígenas, pescadores artesanais e militantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

O segundo aborda “Transição justa, precarização do trabalho e privatização da Petrobras”, com integrantes do Fórum dos Afetados por Petroquímica e Petróleo (FAPP), que atuam principalmente no entorno da Refinaria Duque de Caxias (Reduc), no Rio de Janeiro.

Flávia Bernardes/Fase-ES

A terceira mesa do seminário tem caráter internacional, tratando da Shell e suas zonas de sacrifício na América Latina e África. O debate será com ativistas da Colômbia, Argentina, Brasil, Honduras.

O painel 4 traz a problemática da exploração offshore do petróleo na praia, cujas manchas voltaram a aparecer no Nordeste, sem que se saiba a origem. “O petróleo é incontrolável, os vazamentos sempre acontecem”, afirma Marcelo. “Incrível como eles conseguem encontrar petróleo a sete mil metros de profundidade e 250 km da costa, mas não conseguem identificar de onde veio um vazamento”, ironiza, referindo-se ao grande último vazamento de âmbito nacional, que atingiu quase todo o litoral brasileiro a partir do nordeste, há um ano. Nesse painel, a Comissão Pastoral da Pesca do Ceará, pescadores de Pernambuco e quilombolas de Sergipe trarão informações de seus territórios.

A quinta mesa tem como tema a saúde e a contaminação ambiental provocada pelo petróleo, com pesquisadores da Fiocruz do Rio de Janeiro, da FAPP, de ONGs do Equador, onde houve muitos derramamentos da Texaco, que após processos mundiais, mudou seu nome para Chevron.

O sexto painel também terá abrangência internacional, abordando a indústria petroleira e a crise climática, trazendo organizadores da greve mundial pelo clima, que acontece no final de setembro. África, Estados Unidos e América Latina se farão representar, por meio de nomes como o do nigeriano Nnimmo Bassey, da ONG Homef e coordenador internacional Oil Watch, ganhador do Prêmio Right Livelihood deste ano, conhecido como Nobel Alternativo, ao lado de personalidades como a indiana Vandana Shiva, o bispo do Xingu Dom Erwin Kraütler e a ativista ambiental Greta Thunberg, além das organizações Survival International, Comissão Pastoral da Terra (CPT) e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

O último painel enfocará a crise climática no Brasil, com participação confirmada do vereador Renato Cinco (Psol/RJ).

Flávia Bernardes/Fase-ES

Epidemia social

Marcelo lembra que desde o início da Campanha Nem Um Poço a Mais, as entidades organizadoras trabalham com o neologismo que mostra o perigo instalado com o consumo elevado e crescente de petróleo nas suas diversas formas. A “petrodependência”, alertam, é uma dependência química do petróleo que “se alastra como uma epidemia social”, que mata e sobre a qual “os ministérios não advertem!”.

“Para os deslocamentos, dependemos do diesel e da gasolina. Para vestir, das fibras sintéticas. Para cozinhar, do gás. Para comer e beber, dos pratos, canudos e copos de plástico. Para cultivar, dependemos dos agrotóxicos. Para a higiene, dependemos de shampoos e cosméticos com petrolatos. Para ensacar o lixo, limpar com a esponja, para embalar a água e as frutas, para sentar à mesa, haja plástico! Não é nada fácil pensarmos algum verbo de nossas ações cotidianas que não dependa do petróleo e de seus derivados. Na cegueira do vício da petrodependência, o petróleo é como uma condição, sem a qual a própria vida não parece possível”, exemplifica a Campanha.

“Quando se aprofunda a petrodependência, e a cada vez que aumenta a demanda por petróleo e gás, a indústria petroleira se expande! Sem consulta prévia e a toque de caixa, perfura novos poços, contamina mais áreas, polui mais águas, devasta mais territórios, em terra e no mar. Nas cidades, engarrafa os trânsitos e entopem os lixões. Nas comunidades, destrói os modos de vida e de trabalho, de povos tradicionais quilombolas, indígenas, camponeses e da pesca artesanal”, expõem as entidades.

“A petrodependência precisa ser tratada! A expansão da indústria petroleira precisa ser detida!”, conclamam.

Flávia Bernardes/Fase-ES

Mais Lidas