Workshop caracterizou o traçado de 70 km entre os dois parques. Objetivo principal é conservação do muriqui
Um traçado de aproximadamente 70 km entre os parques Nacional do Caparaó (PNC) e Estadual da Serra do Brigadeiro (PESB) é o chão propício para a criação do Corredor Ecológico Brigadeiro-Caparaó. A proposta de conservação, sonhada há anos por cientistas mineiros, capixabas e de outras localidades do Brasil e do exterior, teve seu esboço atualizado e começará em breve a ser apresentada a instituições ambientais públicas e privadas, em busca de apoio institucional e financeiro para implementação.
Esses e outros encaminhamentos foram feitos no II Workshop do Corredor Ecológico Brigadeiro – Caparaó, realizado pela Rede Eco-Diversa e o Projeto Muriquis do Caparaó nas últimas quinta e sexta-feiras (28 e 29).
A criação do corredor ecológico é tida como uma estratégia de grande importância para a conservação do muriqui-do-norte (Brachyteles hypoxanthus), o maior primata das Américas e um dos mais ameaçados do mundo, classificado como Criticamente em Perigo, e endêmico da Mata Atlântica brasileira.
“Precisamos criar algum tipo de marco regulatório que formalize a proposta do Corredor Ecológico Brigadeiro-Caparaó e os governos precisavam de uma delimitação das áreas, a rota. Agora temos essas informações e vamos iniciar o diálogo com as procuradorias municipais e estaduais, os órgãos ambientais e as instituições que financiam pesquisas”, explica o biólogo e pesquisador Daniel Ferraz, da Rede Eco-Diversa para Conservação da Biodiversidade. A proposta, ressalta, está alinhada com o Plano de Ação Nacional para Conservação dos Primatas da Mata Atlântica e a Preguiça-de-coleira. “É um objetivo do plano a ampliação de conectividade entre as populações dessas espécies”.
As análises geoespaciais realizadas pelo professor Vinícius Goulart, da pós-graduação da PUC Minas, e pela pesquisadora Brenda Teixeira apontaram quatro municípios diretamente abrangidos pelo Corredor: Divino, Orizânia, Caparaó e Espera Feliz. Outros sete municípios estão indiretamente ligados dentro de um buffer paralelo ao corredor, acrescenta Daniel Ferraz: Pedra Bonita, Santa Margarida, São João do Manhuaçu, Luisburgo, Alto Jequitibá, Alto Caparaó e Fervedouro.
Refúgio
O Parque Nacional do Caparaó abriga a maior população conhecida do muriqui, com mais de mil indivíduos, 90% deles na porção capixaba da unidade de conservação. De olho nesse verdadeiro tesouro natural, a Eco-Diversa compõe um grupo de pesquisadores e entidades da Rede Muriqui, que tem como uma das atividades em curso um projeto de ciência cidadã, que envolve os moradores das comunidades localizadas no entorno do parque na identificação e proteção do primata.
A Serra do Brigadeiro aparece logo em seguida. Outras três localidades compõem o Top 5 da espécie: a Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPB) Miguel Abdala, em Caratinga/MG (onde é realizado o mais duradouro e maduro estudo científico sobre os muriquis, sob liderança da bióloga estadunidense Karen Strier); a região serrana do Espírito Santo, especialmente os remanescentes de floresta protegidos pela população pomerana de Santa Maria de Jetibá; e o Parque Estadual do Rio Doce/MG.
Oportunidades
Durante o II Workshop, também foram pontuadas algumas oportunidades de atividades econômicas na região com potencial para colaborar com a implementação do Corredor. “Pessoas que queiram trabalhar com turismo ecológico, observação de primatas, produção de mudas e viveiros para reflorestamento, podem inclusive ter melhores resultados econômicos do que outras atividades já desenvolvidas”, relata Daniel Ferraz.
Outras ações vislumbradas são a criação de unidades de conservação entre os dois parques, especialmente na região do Grumarim, além da implementação efetiva de outras já criadas no papel, como Áreas de Proteção Ambiental (Apas) municipais que viabilizaram a recepção de ICMS Ecológicos para diversos municípios da região. Entre os desafios, as rodovias se destacam, especialmente a BR-116 e a MG-111.
O cenário atual, felizmente, é promissor para a realização dessas atividades, conforme destacou um dos palestrantes, o professor de Zoologia da Universidade de Edimburgo e professor adjunto do Departamento de Ecologia da Universidade de Brasília (UnB) Braulio Dias, que também é diretor do Painel Científico para a Amazônia, diretor de Conservação e Uso Sustentável da Biodiversidade no Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima.
“Ele nos mostrou que vivemos um panorama mais promissor para obtenção de recursos para restauração florestal. Estão surgindo novos tipos de financiamento para pesquisa e estão bastante discutidos os modelos de parcerias público-privada, uma tendência mundial em que grandes empresas querem financiar a conservação de fauna e do meio ambiente, de uma forma sustentável e ao mesmo lucrativas para elas. Grandes eventos internacionais como a COP têm discutido isso”, afirma o presidente da Eco-Diversa. “Nós vivemos, nos últimos anos, um cenário muito ruim para financiamento de pesquisa e conservação no Brasil, ficamos à parte das discussões mundiais importantes sobre negócios sustentáveis. Agora o cenário mais promissor”, celebra.
Estrada-Parque
Os esforços para a criação do Corredor Ecológico Brigadeiro-Caparaó, em Minas Gerais, ecoam iniciativas que também acontecem no lado capixaba do Caparaó, como a proposta de criação de uma APA na zona de amortecimento do Parque Nacional e de implementação da Estrada-Parque Modelo do Caparaó , liderados, atualmente, pelo Consórcio Público Intermunicipal de Desenvolvimento Sustentável do Território do Caparaó Capixaba (Consórcio Caparaó).