Está sacramentado: A CPI do Pó Preto não vai mesmo investigar a poluição do ar das três usinas da Aracruz Celulose (Fibria), localizadas no município de Aracruz, e que produzem poluentes do ar que contaminam os moradores e o ambiente de grande parte do litoral norte do Estado.
A razão? É simples. Os deputados não veem pó preto produzido pela empresa. Mais ainda: os parlamentares estão respaldado por ambientalista notoriamente conhecido no combate ao pó preto.
Parte da história foi revelada nessa quarta-feira (17), na audiência pública realizada em Vitória pela CPI do Pó Preto. Na ocasião se manifestou Gilson Mesquita de Faria. Ele falou da tribuna colocada à disposição dos participantes.
Ele exigiu que os deputados da CPI do Pó Preto convocassem a Aracruz Celulose (Fibria), da mesma maneira que foram convocadas a Vale, a ArcelorMittal e a Samarco. Todos os presidentes destas empresas tiveram que prestar depoimentos aos deputados. Todos mentiram, mas compareceram.
Para o cidadão que estava na tribuna, convocar a Aracruz Celulose (Fibria) é uma questão de isonomia, considerando sua condição de poluidora do ar no Espírito Santo.
Os poluentes do ar emitidos pela empresa são, também, fedidos. O mau cheiro emitido pela Aracruz Celulose (Fibria) atinge até a Grande Vitória, como citou o cidadão, entre outros que se manifestam na mídia. Agregou cobrança à CPI do Pó Preto para que convoque outras poluidoras, como as cimenteiras do Civit.
Lamentou que o promotor Marcelo Lemos, do Ministério Público Estadual (MPES), tenha afirmado na CPI do Pó Preto que nada entende de saúde, e que responde pela área de meio ambiente. Gilson Mesquita de Faria fez um outro lamento: uma liminar contra a ArcelorMittal sequer foi julgada pela Justiça Estadual.
Considerou a CPI do Pó Preto um passo, mas alertou que a Vale vai aumentar a poluição por poluentes a partir do carvão, pois aumentará a movimentação deste material em 10 milhões de toneladas/ano. O que fará pelo porto de Ubu ou de Tubarão. Este um imperativo para que a empresa seja fiscalizada tanto pelo MPES quanto pelo Ministério Público Federal (MPF) nos passos seguintes do combate à poluição do ar. E que a sociedade civil continue suas cobranças.
A CPI do Pó Preto nasceu definida como “chapa branca”. Foi criada para blindar o governador Paulo Hartung (PMDB) de críticas. O governador é um dos principais responsável pela explosão do pó preto sobre os moradores da Grande Vitória e do sul do Espírito Santo. Autorizou de forma arbitrária a construção da oitava usina de pelotização da Vale em Tubarão, além da quarta usina de pelotização da Samarco, empresa da Vale, em Anchieta.
As suspeitas levantadas pela comunidade, ambientalistas à frente, vão além. No caso da Aracruz Celulose (Fibria), três dos cinco membros da comissão foram financiados em suas campanhas eleitorais pela empresa. Foram financiados Erick Musso (PP), vice-presidente da CPI, que recebeu R$ 20 mil, e Dary Pagung (PRP), que é o relator da CPI, que recebeu R$ 15 mil. A empresa também financiou a campanha de Euclério Sampaio (PDT), com R$ 20 mil.
A composição da CPI conta ainda com Rafael Favatto, presidente, que deu rasteira no deputado Gilsinho Lopes (PR), que buscava emplacar uma CPI do Pó Preto. Favatto fez a sua. Gilsinho Lopes foi incorporado depois, por pressão da sociedade civil e do próprio deputado.
A história da não convocação da Aracruz Celulose (Fibria) começou a ser esclarecida logo depois da fala de Gilson Mesquita de Faria. O vice-presidente da CPI, Erick Musso, que tem sua base eleitoral no município de Aracruz, respondeu a Gilson. Afirmou que não havia falta de isonomia no caso da não convocação da Aracruz Celulose (Fibria) pela CPI do Pó Preto.
A empresa não possui minério, nem carvão, argumentou: “Partículas de pó preto não são emanadas pela Fibria”. E assegurou: “Não existe blindagem” da Aracruz Celulose (Fibria) na CPI do Pó Preto.
O presidente Rafael Favatto foi além na resposta a Gilson Mesquita. Afirmou que a convocação, ou não, da empresa foi longamente discutida internamente na CPI do Pó Preto. Que concluiu que a Aracruz Celulose (Fibria) não emite pó preto.
Afirmou ainda que a discussão foi compartilhada com o “Eraylton”. Eraylton Moreschi Junior, que acompanhava a audiência pública, é o presidente da ONG Juntos SOS ES Ambiental, que reúne um grupo de ONGs contra a poluição do ar, vulgo pó preto.
Engenheiro químico, hoje aposentado, é vitimado pela emissão dos particulados e outros poluentes emitidos pela Vale e ArcelorMittal em sua residência, em uma das ilhas de Vitória frontais à Ponta de Tubarão.
Na região da Grande Vitória todos os moradores são vitimados pelo pó preto, como assinalam os médicos que compareceram à CPI do Pó Preto. E no sul do Estado, a própria Justiça reconheceu os danos à saúde e ao patrimônio produzido pela Samarco.
Os poluentes gasosos produzidos pelas empresas, entre outros, os derivados do enxofre são mais graves que os particulados arrastados pelo vento a partir das pilhas de carvão e minério. Entre os poluentes que saem das chaminés da Vale, ArcelorMittal Tubarão e Cariacica e da Samarco em enormes quantidades e são visíveis e sentidos a quilômetros de distância, estão, além do enxofre, o benzeno. Os poluentes produzem doenças de vários tipos, entre as quais as alérgicas, respiratórias e câncer, e causam mortes.