O curso de licenciatura em Educação Indígena será ofertado pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) em 2015. Ainda não há certeza sobre qual dos dois semestres letivos receberá a nova opção de curso, mas a data do processo seletivo, o que automaticamente define a data de início das aulas, deve ser decidida em reuniões que acontecerão na próxima semana, como informou a universidade. De acordo com a educadora indígena Andréia Cristina Almeida, a disponibilização de recursos e da infraestrutura para a manutenção das turmas ainda precisa ser discutida entre a Comissão de Caciques e a Ufes.
O curso foi aprovado pelo Ministério da Educação (MEC), por meio da Portaria nº 68, de 29 de agosto deste ano. A aprovação da nova graduação aconteceu por meio do Prolind, programa federal de apoio à formação superior de professores que atuam em escolas indígenas de educação básica.
O curso de licenciatura em Educação Indígena será focado na formação dos próprios índios que já atuam ou querem atuar nas escolas das aldeias Tupinikim e Guarani, em Aracruz (norte do Estado). A previsão é de que, em um prazo de cinco anos, seja implantado nas aldeias, na Base Oceanográfica da Ufes e no campus de Goiabeiras. O curso será dividido nas habilitações de Ciências Sociais e Humanidades; Linguagem, Arte e Comunicação; e Ciências da Natureza e Matemática.
A educação indígena ainda caminha a passos lentos no Espírito Santo, onde só há escolas indígenas de ensino fundamental e ainda está sendo construída uma unidade de ensino médio para atender às aldeias. Um grande empecilho para a expansão da educação nas aldeias do Estado é a falta de formação dos professores, como retrata a educadora indígena Andréia Cristina. Ela afirma que a comunidade, incluindo caciques e educadores, estão satisfeitos com a abertura do curso, que permitirá maior visibilidade aos índios dentro da universidade e abrirá uma nova porta de diálogo entre a comunidade indígena e a comunidade não-indígena.
“O indígena, hoje, está muito presente na academia como objeto de estudos. Esse novo curso abrirá uma nova possibilidade para os índios, que passarão a ser, também, produtores de conhecimento”, considera. A educadora acrescenta que o foco da licenciatura é fortalecer a educação escolar indígena de base, para que sejam preservados e incentivados os hábitos e culturas desses povos dentro do sistema de educação formal, com um currículo especial adaptado para as comunidades, de acordo com suas próprias demandas. “É, ainda, uma oportunidade de derrubar preconceitos com a comunidade não-indígena, ao mesmo tempo que fortalecemos nossa cultura”.
Após anos lutando por um curso superior que valorizasse suas origens, os índios tiveram aprovados o terceiro projeto que foi apresentado pela comunidade à Ufes. A proposta do novo curso tramitava na universidade desde junho de 2012. Propostas anteriores já haviam sido recusadas, mas a aprovação desta pelo conselho da Ufes fez com que a comunidade indígena se colocasse esperançosa.