Decisão em ação de entidades ambientais obriga prefeituras a fiscalizem os serviços prestados por concessionárias
Denúncias de omissão e ineficiência levaram a Justiça Federal do Espírito Santo a determinar que os municípios de Serra, Vila Velha, Vitória, Cariacica e o Estado do Espírito Santo fiscalizem os serviços prestados pelas concessionárias de saneamento básico. A decisão foi divulgada após uma ação civil pública ajuizada pelas entidades Juntos SOS Espírito Santo Ambiental e Associação Nacional dos Amigos do Meio Ambiente (Anama).
O problema principal é o dano ambiental que vem sendo causado ao meio ambiente, em razão do derramamento de esgoto in natura na baía de Vitória. O texto aponta para a ineficiência da prestação dos serviços de saneamento básico pelos órgãos competentes, e a inércia do poder público para promover ações fiscalizatórias.
Além dos municípios e do Estado, a concessionária de saneamento Serra Ambiental, Vila Velha Ambiental, bem como a Companhia Espírito-Santense de Saneamento (Cesan) também são réus no processo. A ação civil pública foi ajuizada pelas organizações em conjunto com o Ministério Público Federal (MPF) e o Ministério Público do Estado do Espírito Santo (MPES).
Os réus foram condenados a pagar uma indenização no valor de R$ 3 milhões a título de danos morais coletivos, valor que será revertido ao Fundo de Defesa dos Direitos Difusos. Além disso, a decisão da Justiça determina uma série de medidas de reparação. No caso dos municípios, eles terão que identificar, juntamente com as concessionárias, as edificações que não possuem ligação com a rede de esgoto.
“O problema relacionado à poluição das praias marítimas do município de Vitória está vinculado, basicamente, a ligações clandestinas de esgotos residenciais ao sistema de drenagem pluvial, por falta de fiscalização do município e insuficiência do serviço de tratamento de esgotos, gerando o derramamento de esgoto in natura nas praias em casos de chuvas excessivas”, alegaram as organizações na ação.
Os trechos foram anexados pela juíza ao relatório da sentença. No texto, é destacado que um fator agravante do problema é a falta de informação para a população sobre a importância da ligação correta à rede de esgoto. “Obrigação essa indispensável para, juntamente com a fiscalização e a eficaz prestação de serviço de tratamento de esgotos, impeça o derramamento do mesmo in natura em nossas praias, causando doenças, degradando o meio ambiente, prejudicando a saúde pública e gerando danos patrimoniais e morais à coletividade e ao próprio SUS, do qual participa a União Federal”, argumentaram.
Por isso, a Justiça também determinou que os representantes municipais apurem o que tem provocado o despejo irregular do esgoto, identificando os motivos pelos quais as ligações ainda não foram realizadas, se por omissão do proprietário ou inércia da Cesan e concessionária conveniada.
A Justiça também determina que os municípios notifiquem os proprietários dos imóveis e a concessionária, para que a ligação correta à rede coletora de esgoto seja feita. O texto fala até na adoção de medidas coercitivas cabíveis para a regularização da ligação.
Naqueles locais em que a ligação padrão à rede pública coletora for tecnicamente inviável, a determinação da Justiça é que uma outra solução técnica seja adotada, mediante aprovação da Secretaria de Meio Ambiente do município. As determinações são, sobretudo, para que os municípios garantam a implementação de políticas públicas de saneamento básico, atendendo à legislação em vigor.
Concessionárias e apurações
A Casa de Leis instaurou uma Comissão Especial de Inquérito (CEI) para apurar possíveis irregularidades na prestação de serviços realizados pelas duas empresas no município. A apuração foi iniciada em junho deste ano, após denúncias de moradores sobre situações de esgoto a céu aberto direcionado a rios, lagoas e praias da Serra. Também apontam demora para implantação e ampliação das Estações de Tratamento, além da falta de qualidade no reparo das vias públicas após a intervenção das empresas.
Nesta segunda-feira (20), foi a vez do legislativo da Capital, por iniciativa do vereador Armadinho Fontoura (Podemos), com imediata homologação do pelo presidente da Casa, Davi Esmael (PSD). Apoiada por aliados do prefeito Lorenzo Pazolini (Republicanos), a iniciativa é vista nos bastidores com efeitos para além dos aspectos técnicos, atingindo também conotações político-eleitorais.